Jesus G. Töfoli
Pesquisador APTA – Instituto Biológico
A requeima, causada pelo oomiceto Phytophthora infestans (Mont) de Bary é considerada a mais devastadora doença de plantas da história da humanidade. A mesma destruiu a batata – base da alimentação europeia – em meados do século XIX causando fome, mortes e correntes imigratórias.
Favorecida por períodos de alta umidade e temperaturas amenas, a doença afeta drasticamente folhas, hastes, pecíolos e tubérculos, podendo causar perdas totais quando interagem fatores como: cultivar suscetÃvel, clima favorável e equívocos na adoção de medidas de controle.
Prejuízos ao bolso do produtor
Nos últimos anos, o controle da requeima tem apresentado aumentos significativos nos custos de produção. Raças mais agressivas e destrutivas têm exigido maior número de pulverizações com fungicidas. Estima-se que a doença cause prejuízos anuais superiores a US$ 8 bilhões.
No Brasil, presume-se que os gastos com o controle da requeima alcancem entre 15 e 20% dos custos de produção e que um cultivar suscetÃvel necessite de 25 a 30 aplicações por safra. Destaca-se, ainda, que a importância econômica da requeima não fica restrita apenas às perdas diretas. Riscos de contaminação ambiental, saúde de aplicadores e consumidores; ocorrência de resistência a fungicidas e quebra de resistência de cultivares são fatores de ordem ambiental, social, econômica e científica gerados pela doença que podem influenciar diretamente a sustentabilidade da cadeia produtiva da batata.
Sintomas
Nas folhas, os primeiros sintomas da doença são caracterizados por manchas de tamanho variável, coloração verde-clara ou escura e aspecto úmido. Ao evoluírem essas se tornam pardo-escuras a negras, necróticas e irregulares, podendo ou não estar envoltas por um halo amarelado.
Na face inferior das lesões observa-se um crescimento branco-acinzentado, de aspecto aveludado, localizado principalmente ao redor das lesões, nos limites entre o tecido sadio e o necrótico. Esse é composto por esporângios e esporangióforos do patógeno e forma-se, especialmente, em condições de alta umidade e temperaturas amenas. Àmedida que as lesões coalescem, o tecido foliar exibe um aspecto de queima generalizada.
Nos ponteiros, a doença causa a morte das gemas apicais e folhas jovens, comprometendo o desenvolvimento das plantas. Nas hastes e pecíolos as lesões são pardo-escuras a negras, alongadas, aneladas, e quando muito severas podem causar a quebra desses órgãos ou a morte das áreas posteriores ao ponto de infecção.
Nos frutos, quando presentes, a doença é caracterizada por manchas irregulares, deformadas, profundas, de coloração marrom-escura. Nos tubérculos, as lesões são castanhas, superficiais, irregulares e com bordos definidos. No interior dos mesmos, a necrose geralmente é assimétrica, de coloração castanho-avermelhada, aparência granular e mesclada. Os sintomas em tubérculos são mais frequentes em regiões sujeitas à ocorrência simultânea de baixas temperaturas e alta umidade do solo.
Disseminação
A disseminação da doença ocorre principalmente por meio de batata-semente infectada, ação de ventos, água de chuva ou irrigação, circulação de pessoas e maquinário etc.
Além da batata, P. infestans pode afetar as culturas do tomate (Solanum lycopersicum L.), pimentão (Capsicum annuum L.), berinjela (Solanum melongena L.), petúnia (Petunia hybrida) e plantas invasoras como: figueira do inferno (Datura stramonium L.), picão branco (Galinsoga parvifora Cav), corda de viola (Ipomea purpurea L.), falso joá de capote (Nicandra physaloides L.) Gaertn, fisális (Physalis spp..), maria-pretinha (Solanum americanum L.), maravilha (Mirabilis jalapa L.), Nicotiana benthamiana Domin., Solanum spp entre outras.