Autor
Nádia Fernandes Moreira
Engenheira agrônoma, doutora em Genética e Melhoramento de Plantas – Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF)
João Pedro Elias Gondim
Engenheiro agrônomo e doutorando em Fitopatologia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Luam Santos
Engenheiro agrônomo e mestre em Olericultura – IF Goiano –
Brenda Ventura de Lima e Silva
Mestre em Fitopatologia e servidora – IF Goiano
Rodrigo Vieira da Silva
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e professor – IF Goiano
rodrigo.silva@ifgoiano.edu.br
O uso de silício, um elemento benéfico às plantas, com grande potencial de incrementar a nutrição e proteção às plantas a estresses bióticos e abióticos, tem despertado bastante interesse, principalmente pelo potencial comercial e baixo impacto ambiental.
Sua aplicação proporciona às plantas uma maior capacidade de suportar as adversidades climáticas, edáficas e biológicas, o que pode conferir aumento no rendimento e qualidade da produção. Assim, a busca por mais informações sobre o uso das fontes de silício no cultivo do algodão torna-se fundamental, gerando boas perspectivas no avanço das lavouras.
O silício, de maneira geral, pode estimular o crescimento e a produção vegetal por meio de várias ações indiretas, como maior rigidez estrutural dos tecidos; decréscimo no acamamento; proteção contra estresses abióticos, redução da toxidez de alumínio, ferro, manganês e sódio; diminuição na incidência de patógenos, e aumento na proteção contra pragas.
Por deixar as folhas do vegetal mais eretas, o silício tem sido considerado ainda um promotor de fotossíntese, permitindo maior penetração de luz no dossel da planta. Além disso, promove aumento da atividade radicular, como absorção de água e nutrientes.
No algodoeiro, a presença de silício nas células da epiderme da folha demonstra certo equilíbrio no metabolismo da planta, como a diminuição da transpiração excessiva e da condutância estomática. Assim, não há perda desnecessária de água na folha para a atmosfera pela prevenção e fechamento dos estômatos. Isto confere à planta suportar estresses hídricos por maiores períodos, a exemplo dos veranicos.
Outra atuação do silício é a maior absorção de CO2, que permite elevar a taxa fotossintética na planta. Consequentemente, tem-se incremento da expansão da área foliar, mais fotossíntese e maior translocação dos fotoassimilados para o alongamento da fibra de algodão, aumentando a produção.
Ciência
Pesquisas no Brasil têm demonstrado sinergismo entre potássio e silício no algodoeiro, o que contribui para o melhor desenvolvimento e vigor da planta, proporcionando maior tolerância a pragas e doenças.
A carência de potássio pode encurtar o ciclo do algodoeiro, levando à maturação antecipada dos frutos e prejudicando o alongamento da fibra devido à vulnerabilidade a doenças. Outro ponto estudado foi em relação ao teor de açúcar na fibra, que em altas concentrações favorece o desenvolvimento da fumagina (Capnodium spp.), que se estabelece também na folha e reduz a área fotossintética.
Assim, a presença do silício tende a diminuir a deposição de açúcar na fibra e, consequentemente, induzir menor preferência de ataque de pulgões (Aphys gossipy) e redução do desenvolvimento da fumagina, aumentado a qualidade da fibra.
Nos Estados Unidos e na China, estudos mostraram que a concentração de silício na fibra do algodão aumentou durante a fase de alongamento, alcançando um valor máximo na iniciação da parede secundária, considerando então que o silício possa ter um papel fundamental na formação e desenvolvimento das fibras do algodão.
Manejo de aplicação do silício
Uma das formas mais relevantes de fornecer silício às plantas é por meio da aplicação dos silicatos, que proporcionam vários outros benefícios, como efeito corretivo no solo pelo aumento do pH; menores teores tóxicos de alumínio, ferro e manganês; disponibilidade de fósforo, cálcio e magnésio trocáveis; aumento de silício solúvel no solo; maior saturação por bases (V%) e, consequentemente, baixa saturação por bases por alumínio.
No que diz respeito ao manejo da aplicação de silicatos, em nada difere dos outros métodos conduzidos na lavoura pelo produtor rural, não havendo restrições de uso. Para tanto, a aplicação de silício pode ser realizada antes da implantação da cultura ou depois de seu estabelecimento no campo, tendo que os silicatos são na forma sólida (pó ou granulado) ou líquida (via solo ou foliar).
Os silicatos em pó devem ser incorporados em área total, enquanto os granulados são aplicados nas linhas de plantio, normalmente acompanhados de outros adubos, como os formulados à base de nitrogênio, fósforo e potássio, os tradicionais NPK. Os silicatos líquidos são, geralmente, fertilizantes minerais, em que o silício está associado a outros nutrientes.
Os principais erros ocorrentes na aplicação do silício são doses inadequadas e época de aplicação. Deve-se buscar por fontes acessíveis do mineral. As características consideradas ideais são: alta concentração de silício solúvel; facilidade para a aplicação; pronta disponibilidade para as plantas; boa relação de quantidades de cálcio e magnésio; baixa concentração de metais pesados e reduzido custo.
O produtor deve ter cautela e evitar altas doses de fertilizantes silicatados, pois o excesso do mesmo pode diminuir a absorção de outros nutrientes. Em condições de alto índice pluviométrico, solos com textura arenosa e baixa CTC, as fontes não solúveis em água podem levar a uma maior eficiência da adubação.
Logo, nessas condições deve-se evitar o uso de silício via foliar. As condições ideais para aplicação de calda contendo silício são: ausência de vento, baixas temperaturas e aplicação no início ou final do dia, evitando perda de calda por evaporação ou deriva do produto.
Custo-benefício
Para uma melhor eficiência, recomenda-se realizar análise de solo, pois o custo varia de acordo com as suas condições, determinando a dose ideal para o produtor. Algumas fontes utilizáveis são: silicato de cálcio, magnésio e potássio, sendo esta última muito aplicada como adubação foliar.
O silício pode elevar a capacidade do algodoeiro em suportar estresse hídrico por maior período, proporcionar maior taxa fotossintética da planta e diminuir o ataque de pulgões, além de reduzir o desenvolvimento de fungos na fibra. Assim, com maior qualidade e produção de fibra de algodão, pode-se reduzir o custo de produção. Esses benefícios mostram que o silício se constitui numa importante ferramenta no cultivo do algodoeiro.