Autores
Leandro Hahn
Pesquisador da Epagri, Estação Experimental de Caçador (SC)
leandrohahn@epagri.sc.gov.br
Neuro Hilton Wolschick
Pós-doutorando – Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc)
Bruno Cavalett do Nascimento
Guilherme Coldebella
Lucas Torezan
Cícero Moreira
Miriam Canale
Graduandos em Agronomia – Universidade Alto Vale do Rio do Peixe (Uniarp)
O Estado de Santa Catarina figura entre os principais produtores de alho nobre. Lá, a produção está concentrada na região do meio-oeste, principalmente nos municípios de Caçador, Curitibanos, Frei Rogério, Lebon Régis e Fraiburgo. Nestas regiões, todo o alho é cultivado num sistema deficiente em práticas conservacionistas do solo e com revolvimento intensivo do solo.
Desconhecem-se cultivos com a adoção de práticas como o plantio direto, terraceamento e cobertura do solo. Agrava esta situação a fragilidade dos solos, associado ao relevo acidentado da região, altamente suscetível à erosão hídrica. Estes solos se encontram intensamente degradados e reduzidos em sua capacidade produtiva pelo histórico de uso, muitas vezes com perda parcial ou completa da camada superficial.
Incompatibilidade
Considera-se a forma tradicional de manejo do solo adotada na cultura do alho incompatível entre a aptidão agrícola da maioria das terras e seu uso efetivo. Historicamente, as hortaliças, especialmente o alho, são produzidas com o uso de elevadas quantidades de agrotóxicos e adubos solúveis, intenso revolvimento do solo, resultando em poluição e assoreamento dos mananciais e perdas de solo.
Soma-se a isso tudo, o aumento progressivo nos custos de produção e o endividamento dos agricultores familiares devido à grande dependência de insumos externos. O manejo inadequado do solo, além dos prejuízos diretos para o agricultor, traz perdas para a sociedade como um todo, pelos problemas ambientais causados pelo assoreamento dos mananciais que contribuem para aumentar as enchentes, com graves consequências econômicas e sociais.
SPC X SPD
O uso do sistema de preparo convencional (SPC) do solo no cultivo do alho culminou na degradação física desses solos ao longo dos anos. Neste cenário, o sistema de plantio direto (SPD) é uma alternativa de manejo do solo que deve ser buscada por técnicos e pesquisadores, além de outras práticas conservacionistas do solo, tais como: cultivo mínimo, rotação de culturas, consórcio de espécies vegetais, adubação verde e plantas de cobertura.
Estas práticas alteram positivamente as propriedades do solo, tal como o incremento dos teores de matéria orgânica do solo (MOS), que beneficia a disponibilidade de nutrientes, a capacidade de troca de cátions (CTC) do solo, a complexação de elementos tóxicos e micronutrientes, a agregação do solo, a infiltração e a retenção de água, a aeração e a atividade e biomassa microbiana do solo.
A redução dos danos ocasionados pelo mau uso do solo pode ser alcançada utilizando-se o cultivo mínimo do solo por meio do sistema plantio direto (SPD), onde se tem o preparo do solo restrito à linha de plantio. O PD de alho corresponde àquele em que os bulbilhos são plantados em sulcos preparados por semeadoras adaptadas para o corte da cobertura morta e do solo.
Experimento
A Epagri, Estação Experimental de Caçador, em parceria com a Universidade Alto Vale do Rio do Peixe (Uniarp), e a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) está desenvolvendo um trabalho experimental pioneiro com o objetivo de viabilizar o SPD de alho no Estado.
As pesquisas estão no segundo ano de condução, sendo já realizada uma safra. No momento, o alho está próximo de ser colhido. Como entidades fomentadores da pesquisa, destaca-se o CNPq e o órgão estadual de fomento à pesquisa (Fapesc).
Na presente pesquisa estão sendo testadas plantas de cobertura do solo anteriores ao cultivo do alho e manejo na implantação do solo. As plantas de cobertura em teste são o milheto, aveia e a crotalária, que são contrastantes nas adições de nutrientes e efeito físico sobre o solo, e são comparadas ao cultivo do feijão.
Esta cultura é tradicionalmente cultivada entre safras de alho na região. Como manejo de solo está se comparando o plantio convencional, em que o plantio do alho é realizado após subsolagem lavração, gradagem e formação de canteiro com enxada rotativa e o plantio direto, tendo como única operação a formação de sulcos com máquina de plantio direto onde é plantado o alho.
Resultados
Os resultados do primeiro ano mostram que o rendimento comercial de bulbos de alho não teve efeito do manejo de solo e das plantas de cobertura do solo e feijão, como pode ser visualizado na Figura 1.
Destaca-se que no primeiro ano o rendimento de alho comercial foi baixo (em média 7,25 t/ha) em função do alto índice de superbrotamento devido às condições climáticas adversas, o que também foi observado em muitas áreas de cultivo comercial no Estado.
Na safra atual, o desenvolvimento do alho está satisfatório, com potencial de rendimento acima de 15 t/ha. Além do rendimento comercial de bulbos, estão sendo avaliados teores de nutrientes no solo e na planta e, principalmente, atributos físicos do solo, como a taxa de infiltração de água no solo, a resistência do solo à penetração, estabilidade de agregados e a macro, micro e porosidade total.
Além disso, os tratamentos estão sendo avaliados para incidência e severidade de doenças e incidência de plantas invasoras. Adicionalmente está sendo coletado o solo e água que está sendo perdido após as chuvas erosivas para quantificação de perdas de solo, água e nutrientes em cada parcela experimental.
Com os resultados desse projeto, espera-se demonstrar que o uso do SPD do alho por meio de plantas de cobertura e o mínimo revolvimento do solo favorecem o aumento do rendimento de alho e melhoria da fertilidade do solo na sanidade das plantas, possibilitando reduzir custos de aumentar a renda da atividade.
Da mesma forma, espera-se encontrar maior estabilidade física no SPD em comparação ao SPC, indicando maiores teores de matéria orgânica e também maior teor de nutrientes, que indicam maior fertilidade do solo.
Perspectiva
O sistema de cultivo mais conservacionista para a cultura do alho proporcionará recomendações de uso do solo mais adequados em lavouras de alho, que poderá aumentar a produtividade, a rentabilidade, com a diminuição do impacto ambiental que o mau uso do solo e da água causa aos ecossistemas, beneficiando significativamente os produtores alho das regiões produtoras.
Neste sentido, os resultados que este projeto pretende alcançar apresentam significativos ganhos técnicos e ambientais na cadeia produtiva. Resultados parciais da segunda safra foram apresentados em Dia de Campo no dia 30 de outubro.
A partir de 2020, espera-se a condução de lavouras com uso de SPD de produtores de Santa Catarina. Estas unidades de pesquisa em produtores, as quais são denominadas de Unidades de Referência pela Epagri, serão conduzidas em parceria com os extensionistas da Epagri e técnicos de empresas de assistência técnica.