Marla Silvia Diamante – marlasdiamante@gmail.com
Mônica Bartira da Silva – monica.bartira@gmail.com
Engenheiras agrônomas e doutoras em Horticultura/Agronomia – UNESP
Rafael Rosa Rocha – Engenheiro agrônomo e mestrando em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) – rafaelrochaagro@outlook.com
O consumo de hortaliças é um dos requisitos básicos para uma dieta saudável, contudo, nem sempre elas são as primeiras na lista de compras do brasileiro. Por isso, várias estratégias de produção têm sido adotadas, desde a escolha por cores mais atrativas e ricas em compostos antioxidantes até a produção de materiais menores que facilitem o preparo e reduzam desperdícios por parte dos consumidores. Nesse contexto, tem se destacado a produção de “mini-hortaliças”.
Desmistificando termos
Antes de falarmos sobre as “mini-hortaliças”, e mais especificamente a “mini couve-flor”, é importante diferenciar dois termos que são frequentemente usados, e normalmente confundidos, as “mini-hortaliças” e as “hortaliças baby”.
O produtor/consumidor deve ter em mente que as chamadas “mini-hortaliças”, geralmente, são oriundas de sementes que passaram por melhoramento genético, e hoje existem vários exemplos, como o tomate, abóbora, abobrinha, couve chinesa, agrião, alcachofra, alho-poró, beterraba, berinjela, cebola, chuchu, melancia, pepino, pimenta, pimentão, rabanete, repolho, couve-flor, entre outros.
Ainda dentro desse grupo, existe uma diferenciação, porque o termo “mini” também tem sido utilizado para as hortaliças submetidas a processamento mínimo, cujo objetivo é a redução do seu tamanho, porém, mantendo o seu formato original. Um exemplo comum são as minicenouras.
Com relação às “hortaliças baby”, estas são obtidas a partir de uma colheita precoce do vegetal, como por exemplo, as alfaces baby leaf. Dessa forma, a mesma semente utilizada para se obter um produto de tamanho convencional permite a colheita de um baby, coisa que não acontece nas mini-hortaliças.
Demanda
A busca por minivegetais tem sido estimulada, especialmente, pela valorização do mercado gourmet, e ainda que o mercado seja considerado pequeno no Brasil, esses produtos vêm gradativamente conquistando o consumidor interessado em uma alimentação mais saudável e equilibrada.
A aparência é um dos atributos de qualidade sensorial mais importantes nos alimentos para comercialização, que resulta na aceitação ou rejeição do consumidor. Dessa forma, o tamanho do produto comercializado tem sido um parâmetro na escolha, além das características organolépticas e qualidade nutricional.
Neste parâmetro, a couve-flor é uma importante fonte de glicosinolatos, vitaminas (C, B1, B2 e B3), compostos fenólicos, fibras e minerais.
Curiosidade
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A título de curiosidade, alguns estudos destacam que mini-inflorescências, como as mini couves-flores, contêm níveis muito mais altos de isotiocianatos (produtos da hidrólise de glicosinolatos – esse composto tem por característica propriedade anticancerígena) em comparação às inflorescências totalmente desenvolvidas.
Assim, esses trabalhos propõem que o consumo de mini couves-flores seja mais benéfico à saúde humana do ponto de vista preventivo do câncer (Hanschen and Schreiner, 2017).
Vantagens de ser pequeno
O desperdício de alimentos, por sua vez, é um fator importante a ser ponderado e agrega valor às mini-hortaliças. Além disso, esses produtos ocupam menos espaço quando comparados aos de tamanho convencional.
Devemos considerar, ainda, o número de indivíduos por família, ou seja, famílias pequenas consomem menos, logo, o consumidor tem buscado menores porções para consumo.
Outra opção de mercado para as mini-hortaliças é a comercialização de alimentos congelados, devido ao aumento da demanda por lanches saudáveis de porção única e alimentos de conveniência.
Graças aos preços mais altos de venda, em comparação com suas versões tradicionais, as mini couves-flores podem ampliar a margem de lucro do produtor, bem como podem ser uma alternativa para diversificar a produção, especialmente nas pequenas propriedades.
A taxa de crescimento desse nicho de mercado tem médias anuais entre 15 e 20%, além disso, são menos suscetíveis a oscilações de preços que as variedades tradicionais. O produto orgânico também consegue uma rentabilidade 3,5 vezes maior que o produto convencional.
Qualidade no manejo
As exigências de qualidade para a produção e comercialização são as mesmas aplicadas aos produtos de tamanho tradicional, contudo, o produtor que deseja optar por esse produto deve ficar atento, porque o custo de produção é mais elevado, principalmente por conta da aquisição das sementes.
As sementes das mini-hortaliças são híbridas e, predominantemente, têm origem japonesa ou europeia, contudo, é possível encontrar sementes para compra provenientes da Austrália e Nova Zelândia.
Esse insumo, em geral, torna o custo de produção dessas plantas mais elevado que o do produto de tamanho normal, entretanto, o adensamento é uma opção como manejo de cultivo, garantindo uma maior produção. Para o cultivo de mini couve-flor, tem-se utilizado uma distância de 15 a 40 cm entre as plantas.
Nos parâmetros de produção, é importante se atentar para a germinação das sementes, que demora de uma a duas semanas. Se o plantio foi feito em sementeiras, o transplante para o local definitivo deve ser feito quando as couves estiverem com, aproximadamente, cinco folhas.
Diferencial está nos detalhes
Visto que se trata de uma semente mais cara, é importante investir em um sistema de produção de mudas mais cuidadoso, dando preferência à produção de mudas em bandejas e sob ambiente protegido.
Em relação ao clima, a mini couve-flor é considerada uma hortaliça típica de clima frio ou ameno, mas há cultivares para plantio durante a primavera e o verão. A temperatura ideal para o cultivo é entre 15 e 20°C, e essa cultura é menos tolerante à oscilação de temperatura do que outras plantas de sua espécie, como o repolho e a couve.
Já em relação à luminosidade, deve ser cultivada em condições de alta luminosidade, sempre com luz solar direta, pelo menos algumas horas diárias.
Comercialização
Quanto à comercialização, as mini couves-flores podem ser acondicionadas em cestas ou caixas relativamente pequenas, para evitar perdas, e atualmente não são específicas as regras para a sua venda.
O tempo entre o plantio e a colheita, na maioria dos casos, é o mesmo do produto de tamanho normal. No entanto, algumas dessas hortaliças se desenvolvem mais rápido, o que vai depender do material genético escolhido e das conduções climáticas de produção.
Um dos principais erros na produção da mini couve-flor, em geral, diz respeito à escolha do material genético a ser utilizado, pois muitas vezes se leva em conta apenas o menor custo, contudo, primeiramente, o que se deve analisar são materiais que se adaptam ou que já são adaptados para produzir em determinada região.
Um outro ponto que deve ser observado, ainda ligado à qualidade do material, são suas características produtivas, que agradam ao seu mercado consumidor, em questão de cores, textura e sabores.
Então, a escolha de um material de qualidade e com tecnologias que agreguem à produtividade da planta deve ser considerada para a compra.
Rentabilidade
De maneira geral, pode-se considerar rentável a produção de mini couves-flores, tendo em vista o seu custo-benefício, por ser um produto diferenciado e agregar uma proposta interessante de ocupar pouco espaço e reduzir o desperdício, além de ser atrativo para o mercado gourmet.
Entretanto, o ponto-chave para aumentar a demanda desse produto deve estar aliado também a uma boa estratégia de marketing.