Aldeir Ronaldo Silva
Engenheiro agrônomo e doutor em Fisiologia e Bioquímica de Plantas – ESALQ/USP
Fabiano Simplicio Bezerra
Engenheiro agrônomo e doutorando em Engenharia Agrícola – Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
A produção de couve-flor (Brassica oleracea var. Botrytis) no Brasil concentra-se de forma mais acentuada nas regiões sudeste e sul, principalmente em locais de altitude com temperaturas amenas e dias curtos. Porém, o mercado brasileiro de hortaliças disponibiliza cultivares de couve-flor indicadas de acordo com a adaptação às estações do ano e às horas de frio acumuladas, para o plantio no verão, meia-estação e inverno.
Os cuidados necessários na adubação da couve-flor no inverno são para contornar o problema de volatilização, principalmente dos adubos nitrogenados, que ocorre no período de inverno nas regiões centro-oeste e sudeste, época do ano caracterizada por temperaturas amenas e menores precipitações.
Neste contexto, adubos nitrogenados, como no caso da ureia, devem ser aplicados antes da chuva ou da irrigação para evitar a volatilização da amônia (NH3). Estudos indicam que as perdas de adubos nitrogenados podem chegar a atingir 24% do produto após o terceiro dia sem chuva.
Na adubação mineral com nitrogênio (N), quando se utiliza como fonte a ureia, é indicado enterrar a dose recomendada desse fertilizante entre 10 e 15 cm de profundidade, prática que diminui as perdas por volatilização.
Outra maneira de manejar a adubação no período de inverno é a partir do parcelamento da adubação, que também proporciona diminuição nas perdas por volatilização.
Manejo nutricional eficiente
As etapas necessárias para um manejo nutricional eficiente na cultura da couve-flor se iniciam pela análise de solo por meio dos atributos químicos (fertilidade e salinidade) e físicos, visto que essa hortaliça é classificada como medianamente resistente à salinidade, com pH ótimo para seu desenvolvimento entre 5,8 e 7,0.
Desta forma, quando ocorrem alterações nesses valores de pH, pode haver carências nutricionais de determinados nutrientes, como é o caso do manganês (Mn), molibdênio (Mo) e boro (B).
Com base nos resultados da análise do solo, deve-se aplicar calcário para elevar a saturação por bases a 80% e o teor de magnésio (Mg) a um mínimo de 9,0 mmolc dm-3. Recomenda-se que os teores de macronutrientes para a couve-flor estejam nas seguintes faixas: nitrogênio (N) = 40-60, P = 4-8, potássio (K) = 25-50, cálcio (Ca) = 20-35 e magnésio (Mg) = 2,5-5, expressos em g/kg.
Já para micronutrientes, recomendam-se as faixas: boro (B) = 30- 80, cobre (Cu) = 4-15, ferro (Fe) = 30-200, manganês (Mn) = 25-250, molibdênio (Mo) = 0,5-0,8 e zinco (Zn) = 20-250, expressos em mg kg-1.
As quantidades de macronutrientes consideradas adequadas, em quilos por hectare (kg/ ha-1) para a maioria das regiões variam de: 50 kg/ha a 320 kg/ha de P2O5 no plantio, 50 kg/ha a 100 kg/ha de K2O no plantio, 50 kg/ha a 120 kg/ha de K2O em cobertura, 60 kg/ha a 80 kg/ha de N no plantio e 15 kg/ha a 200 kg/ha de N em cobertura.
Para micronutrientes, de 3,0 a 6,0 kg/ha de B, juntamente com os demais fertilizantes químicos na ocasião do plantio. Também é indicada uma semana após o plantio a pulverização com B três vezes durante o ciclo. Além disso, deve-se aplicar Mo também em pulverização, 20 dias após o plantio.
Ressalta-se que essas dosagens de adubos citadas possuem grandes variações, por depender de diversos fatores, como: avaliação da fertilidade do solo, recomendações dos manuais de adubação de cada região/Estado, manejo adotado, cultivar utilizada e histórico de uso da área.
Na adubação orgânica, recomenda-se utilizar doses de 40 a 60 t/ha de composto orgânico curtido, a depender do teor de matéria orgânica (MO) do solo.
Produtos úteis
Os produtos que podem ser úteis no fornecimento de nutrientes para o desenvolvimento da couve-flor no período de inverno são os fertilizantes de liberação lenta (fertilizantes recobertos, encapsulados, insolúveis em água ou lentamente solúveis).
Dentre esses fertilizantes, o mercado de fertilizantes disponibiliza a ureia recoberta com enxofre, que atua diminuindo o pH e, consequentemente, a perda desse nutriente. Porém, o custo é de cerca de duas a três vezes maior que da ureia convencional. Logo, ainda é mais economicamente viável aplicar uma quantidade maior de ureia do que produtos deste tipo.
Outros fertilizantes de destaque são os estabilizados, que contêm aditivos que aumentam o tempo de disponibilidade de N no solo (retardando a volatilização e proporcionando uma maior janela para a incorporação pela água), por meio do inibidor de urease e nitrificação.
Diversos estudos têm comprovado que a adição de inibidor de urease à ureia pode reduzir em até 80% as perdas de N por volatilização de amônia. Tem-se como exemplo inibidores de uréase, como é o caso do NBPT (N-(n-butil) tiofosfórico triamida, composto mais promissor desenvolvido até o momento.
Outra opção na fertilização mineral que tem sido amplamente difundida é o uso de nitratos que, por não sofrer perdas por volatilização, pode ser aplicado com o solo seco, como é o caso da condição de inverno nas regiões sudeste e sul.
Erros frequentes
Entre os erros mais comuns na utilização dessa prática, destacam-se as dosagens elevadas, provocando um efeito tóxico para as plantas que diminui a absorção de outros nutrientes importantes.
Quanto à forma de aplicação, algumas culturas são mais adequadas que seja feita a aplicação via solo em subsuperfície, em comparação a lanço. Quanto à aplicação via foliar, recomenda-se que seja feita em temperatura alta, além de evitar dias com velocidade do vento alta.