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quinta-feira, abril 25, 2024
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A dessecação antes do plantio é indispensável?

Autores

Roque de Carvalho Dias
roquediasagro@gmail.com
Vitor Muller Anunciato 
vitor.muller@gmail.com
Engenheiros agrônomos, mestres em Proteção de Plantas e doutorandos em Agronomia – UNESP/FCA
Leandro Bianchi
leandro_bianchii@hotmail.com
Samara Moreira Perissato
samaraperissato@gmail.com
Engenheiros agrônomos, mestres em Produção Vegetal e doutorandos em Agronomia – UNESP/FCA
Leandro Tropaldi
Agrônomo, mestre e doutor em Agronomia e professor da UNESP – Dracena
l.tropaldi@unesp.br

Fotos: Shutterstock

As plantas daninhas afetam a produtividade das culturas devido à competição por água, luz e nutrientes. Além disso, essas plantas também podem servir de hospedeiras para pragas e doenças e liberar compostos alelopáticos para a cultura.

A dessecação pré-plantio, com uso de herbicida, é uma prática muito comum e consiste na eliminação das culturas de cobertura e de toda vegetação existente antes da semeadura das culturas, incluindo as plantas daninhas. Em geral, existe um tempo para que essa técnica de manejo seja realizada, no caso da soja, por exemplo, recomenda-se um período que varia de 15 a 30 dias antes da semeadura.

Entretanto, o número de dias necessários para que as plantas daninhas sejam controladas varia com as características relacionadas às plantas, como: espécies presentes, estádio de desenvolvimento, além de questões edafoclimáticas e da molécula utilizada.

Do jeito que tem que ser

A dessecação eficiente deve controlar as plantas estabelecidas, evitando que essas permaneçam vegetando no local e interferindo no desenvolvimento da cultura. A dessecação é importante, pois facilita a semeadura, colabora para a disponibilização dos nutrientes e da água para a planta cultivada, além de fornecer palhada, que protege e favorece a umidade do solo.

Isso faz com que, durante a germinação da cultura, fase crítica que demanda água e nutrientes, existam quantidades suficientes desses recursos prontamente disponíveis para a planta. Com a dessecação, também é possível aumentar a eficiência no manejo de insetos, já que a prática provoca um período de escassez de alimento, impactando na população e no ciclo dessas pragas. A partir disso há um aumento da eficácia na aplicação de inseticidas e um maior controle das pragas iniciais, principalmente dos percevejos.

Culturas beneficiadas

Dentre as principais culturas beneficiadas por esse manejo destacam-se a soja, milho e algodão. Para a soja e milho safrinha, por exemplo, a perda de produtividade por dessecação inadequada pode chegar de 10 a 12 sacas/ha. Pesquisas conduzidas por entidades como a Embrapa demonstram que de uma a três plantas de capim-amargoso por metro quadrado reduzem a produtividade em 24%. Se a infestação for de quatro a oito plantas, a perda de produtividade chega a 45%.

Como é feita a dessecação pré-plantio

Entre as estratégias que podem ser utilizadas na dessecação destacam-se a aplicação sequencial, além das práticas conhecidas por aplique-plante e plante-aplique. A dessecação sequencial compreende na aplicação, em geral, de doses menores do que a recomendada de determinado herbicida, a ser complementada com o restante da dose após um pequeno intervalo de tempo, que podem ser dias ou semanas.

É uma estratégia geralmente utilizada quando o herbicida não apresenta atividade residual no solo, e é feita, portanto, quando se objetiva controlar novos fluxos de plantas daninhas que emergiram após a primeira aplicação.

A dessecação aplique-plante consiste na aplicação de um ou mais herbicidas imediatamente antes da semeadura, podendo ser uma estratégia pouco eficiente para o controle de plantas daninhas tolerantes ou resistentes ao glifosato, além de ter limitações de uso em áreas com vegetação muito densa.

Já o plante-aplique, como o próprio nome sugere, consiste na aplicação de herbicidas imediatamente após a semeadura, visando evitar que o herbicida atinja a camada onde as sementes da cultura estão depositadas, o que seria inevitável caso os herbicidas fossem aplicados antes da semeadura, dado o revolvimento de solo que se verifica nesta fase.

Herbicidas e posicionamento em pré-semeadura

A dessecação pré-plantio é feita por meio da aplicação de um ou mais herbicidas para secar plantas daninhas e restos da cultura antecessora antes do plantio. Para isso, podem ser utilizados herbicidas sobre o solo ou sobre as folhas das plantas. Os herbicidas podem ser de ação sistêmica ou de contato.

] Herbicidas aplicados ao solo: se movem das raízes para as folhas;

] Herbicidas aplicados às folhas (contato): agem rapidamente sobre o local que foram aplicados e não se movem internamente nas plantas (não translocam);

] Herbicidas aplicados às folhas (sistêmicos): movimentam-se das folhas para outros locais da planta (translocados via floema).

O posicionamento de dessecantes em pré-semeadura deve ser realizado seguindo as normas técnicas de manejo, levando em consideração caso a caso e as características das moléculas, da cultura, plantas daninhas e ambiente em que será realizado essa técnica. Como exemplo:

Posicionamento de dessecantes em pré-semeadura da soja:

ð 20 ou mais dias antes do plantio até 1-3 dias antes do plantio – glifosato; glifosato + Imazetapir; glifosato + S-matolacloro; Glufosinato; graminicidas (Setoxidim; Haloxifope; Cletodim); Clorimurom; Flumioxazina; Flumioxazina + Imazetapir; Carfentrazone; Paraquat; Paraquat + Diurom (aplique-plante; plante-aplique).

ð 20 ou mais dias antes do plantio até no máximo 15 dias antes do plantio – 2,4D.

Posicionamento de dessecantes em pré-semeadura do milho:

ð 20 ou mais dias antes do plantio até 1 dia antes do plantio – glifosato; glufosinato; glifosato + Atrazina; Saflufenacil; Paraquat; Paraquat + Diurom.

ð 20 ou mais dias antes do plantio até sete dias antes do plantio – 2,4D; Cletodim; Setoxidim.

*É muito importante consultar e seguir as recomendações da empresa para evitar toxicidade no cultivo. 

Características de uma dessecação eficiente

” Elimina completamente a vegetação existente, para que ocorra o fechamento do dossel da cultura o quanto antes, evitando a competitividade com as plantas daninhas;

” É realizada no momento correto, para que as plântulas emerjam no limpo e com camada de palha apropriada;

” Evita fitotoxicidade à cultura quando se utilizam herbicidas com ação residual;

” Evita perda do potencial produtivo da cultura devido à competição com as plantas daninhas, como é normalmente visto em casos de problemas na dessecação;

” Quando ocorrem problemas na dessecação e ficam falhas e sobras para o manejo em pós-emergência, há dificuldade no controle devido ao número reduzido de opções e maior risco à cultura.

Principais alvos durante a dessecação em soja e milho

Plantas daninhas resistentes a herbicidas: buva ou voadeira (Conyza spp.); azevém (Lolium multiflorum Lam); picão-preto (Bidens spp.); capim-amargoso (Digitaria insularis (L.) Fedde); leiteira ou amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla L.).

Plantas daninhas de difícil controle: corda-de-viola ou corriola (várias espécies no gênero Ipomoea); guanxuma (Sida spp.); Trapoeraba (Commelina spp.); erva-de-touro (Tridax procubens L.). 

Cuidados sobre a dessecação

Identificação de plantas daninhas: a identificação correta de quais plantas daninhas existem em sua área e sua distribuição são essenciais para que as estratégias de manejo funcionem sem um gasto excessivo de dinheiro. Além disso, saber quais espécies de plantas daninhas podem estar presentes no banco de sementes da área (através do histórico da sua área).

Resistência a herbicidas: após identificar as plantas daninhas presentes na área, é muito importante saber quais destas possuem histórico de resistência na área ou no país, Pois importantes ferramentas de manejo podem não funcionar. Além disso, é importante que o manejo seja planejado para evitar a seleção de resistência, utilizando práticas como: rotação de mecanismo de ação de herbicidas, rotação de culturas, adubação verde e consórcio entre culturas.

Estádio das plantas daninhas na área: o estádio em que a planta daninha está é determinante para a eficiência dos herbicidas. De modo geral, quanto menor a planta daninha, mais facilmente será controlada. Para daninhas de folhas largas recomenda-se que o controle seja feito com 2 a 4 folhas. Para folhas estreitas, com dois a três perfilhos.

Uso de herbicidas pré-emergentes: devemos considerar o teor de argila, pH do solo, quantidade de palha no solo, clima, infestação e período residual. É importante saber qual o objetivo do pré-emergente, pois precisa ser aplicado antes da emergência das sementes. A buva, por exemplo, possui maior emergência durante período de junho a setembro (variando um pouco conforma a região), com clima ameno e maior umidade (tendo menor emergência durante o ciclo do cultivo). Já o capim-amargoso emerge o ano inteiro (conforme a disponibilidade hídrica).

Seletividade da cultura e Carryover: quando são utilizados herbicidas com período residual, seja ele longo (ex: metsulfuron 60 dias) ou curto (ex: 2,4 D ⋍ 14 dias), é importante que as culturas plantadas dentro deste período sejam seletivas ao produto. Caso a cultura não seja seletiva, a carência mínima deve ser respeitada para que não ocorra o Carryover (fitointoxicação da cultura por resíduo de herbicidas).

Tecnologia de aplicação e condições climáticas adversas: para a eficiência da aplicação de herbicidas, as boas práticas de tecnologia de aplicação devem ser respeitadas. Após um período de seca prolongado na entressafra, deve-se esperar que as plantas se restabeleçam e consigam absorver o produto. Após alguns dias de uma chuva representativa, deve-se aplicar os herbicidas dentro das condições climáticas recomendadas, com uso de bons adjuvantes.

Deve-se evitar uso de baixa vazão (nestas condições, o mínimo recomendado são 100 L ha-1 de volume de calda). Caso ocorram plantas daninhas perenizadas de difícil controle na área, recomenda-se que seja feita a roçagem destas plantas (um pouco antes da chuva). Quando iniciar o rebrote, provavelmente com o começo das chuvas, aplicar nas folhas novas.

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