Autores
Letícia Silva Pereira Basílio
leticia.ufla@hotmail.com
Gean Charles Monteiro
gean.monteiro@yahoo.com.br
Marla Silvia Diamante
marlasdiamante@gmail.com
Engenheiros agrônomos, mestres e doutorandos em Agronomia – FCA/UNESP – campus de Botucatu (SP)
A qualidade das mudas de abacate é um ponto crucial no plantio de um novo pomar, uma vez que a produção de frutos é totalmente dependente. Para isto, o fruticultor deve considerar a aquisição das mudas como um investimento e não como custeio, pois o abacate é uma cultura perene que pode iniciar sua produção entre o segundo ao quarto ano e frutificar o ano inteiro.
Entretanto, essas variáveis são dependentes do local de plantio e tecnologia de manejo aplicada à planta desde o início (implantação). A qualidade do fruto de abacate produzido depende de alguns elementos, como a relação custo-benefício, adequação ao uso da muda, do seu valor agregado e da sua efetividade. Para ter garantia de mudas de qualidade, o fruticultor deve adquiri-las em viveiros registrados que possuam o RENASEM (Registo Nacional de Sementes e Mudas) e de reconhecida idoneidade.
Tropicalismo
São três as raças principais do abacateiro: antilhana, mexicano e guatemalense. O abacateiro é considerado uma fruteira de clima tropical, embora se adapte às condições de clima subtropical, principalmente no caso das raças guatemalense e mexicana. Sendo assim, para cada região de cultivo recomendam-se mudas provenientes de raças que perfazem as necessidades do local, como resistência à salinidade, gomose (podridão de raízes), ao frio, entre outras.
Além disso, a escolha correta da cultivar-copa e do porta-enxerto pode acarretar em aumento na produção e menor porte das árvores, facilitando o manejo. Os abacateiros da raça antilhana, originários das regiões de baixa altitude da América do Sul e da América Central, são pouco resistentes ao frio, danificando-se com a temperatura ao redor de -2ºC, não sendo recomendado para o plantio na região sul do Brasil.
As cultivares da raça guatemalense originaram-se das regiões altas da América Central, e são mais resistentes ao frio que as antilhanas. Os abacateiros da raça mexicana, por sua vez, são os mais resistentes ao frio, suportando temperaturas próximas de -1 a -7ºC. Desta forma, em regiões propensas à geada, o porta-enxerto oriundo das raças mexicanas e guatemalenses são mais indicados.
Enxertia
Para a propagação do abacateiro por enxertia, pode-se utilizar porta-enxerto oriundo de sementes, embora não se consiga manter a uniformidade genética desta forma. Atualmente, o método usual para obtenção de mudas do abacateiro por enxertia é por garfagem no topo em fenda cheia.
A garfagem é uma técnica de enxertia em que um ramo destacado (garfo) é unido a outro vegetal (porta-enxerto), de maneira a permitir seu desenvolvimento. Na garfagem em fenda cheia, também chamada de fenda completa, o garfo é cortado em bisel duplo (formato de cunha) e o porta-enxerto é cortado transversalmente na altura desejada, formando uma fenda completa igual ao seu diâmetro.
Em seguida o garfo é introduzido na fenda, de modo que a casca coincida com a do porta-enxerto. O método por garfagem exige amarrilhos fortes e bem atados para que a superfície do garfo e do cavalo permaneça perfeitamente unida.
Compatibilidade
Esta etapa de produção exige alguns cuidados para seu êxito. A compatibilidade entre o enxerto e o porta-enxerto é essencial e normalmente plantas pertencentes à mesma espécie não apresentam problemas de incompatibilidade.
Caso o enxerto e porta-enxerto possuam velocidades de crescimento diferenciadas, é necessário programar a semeadura para que ambas atinjam os respectivos estádios de crescimento adequados, fator que também depende da variedade escolhida.
É importante que a área onde o enxerto foi realizado seja imediatamente coberta com cobertura plástica ou cera, afim de proteger a madeira exposta da penetração de umidade, além de preservar a região da enxertia e o enxerto da dessecação pela formação de uma câmara úmida.
Também são necessários cuidados fitossanitários para prevenir infecções por patógenos nas feridas produzidas durante o processo de enxertia, como por exemplo a desinfecção dos equipamentos.
Custos
O sucesso da produção de mudas enxertadas de abacate depende ainda da habilidade do enxertador, variando o índice de pegamento entre 50 até 95%. No Estado de São Paulo, um enxertador cobra em torno de R$1,50 a R$3,00 por enxerto feito na propriedade.
Dentro dos custos de implementação de um pomar, considerando operações mecanizadas, manuais e custos com insumo e administração da propriedade, se gasta em torno de R$ 42.166,00 (custo até 20 anos após implantação), dentre os quais R$ 920,00 são destinados à compra de mudas (custo aproximado de R$ 8,00 a unidade).
Desta forma, o valor colocado nesta compra representa 2,18% de todo o orçamento. Considerando o preço médio de R$ 15,00 para cada muda enxertada (valor unitário mais elevado), este valor passaria a representar 4,09% do investimento, o que ainda seria vantajoso para o fruticultor.
Ganhos em produtividade são observados em muitas culturas frutíferas com o uso de mudas enxertadas de alta qualidade. Observa-se que, para o abacateiro, o custo da muda enxertada é considerado baixo quando comparado ao retorno que ela pode dar em produtividade e também em diminuição de custo de adubação e defensivos agrícolas.