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A revolução digital

Por Giovana Araújo e Kleber De Paulo

Tecnologia – Crédito Shutterstock

A agricultura digital é uma realidade no Brasil construída de forma consistente ao longo das últimas duas décadas. Essa jornada de sucesso, com amadurecimento das operações e profissionalização das equipes, faz as organizações integrarem, com velocidade e eficiência, a transformação digital aos negócios. Atualmente, existe uma série de ferramentas digitais que processam dados e dão suporte aos produtores nas decisões agronômicas, com benefícios comprovados para a produtividade e redução de custos. Novas e mais sofisticadas ferramentas digitais em desenvolvimento impulsionarão contínua eficiência no negócio agrícola.


A utilização de tecnologia digital tem sido fundamental para ajudar os agricultores a produzir de forma mais eficiente e sustentável. Com o advento da agricultura 4.0, o uso de tecnologias combinadas para a produção do setor torna possível aprimorar o gerenciamento da propriedade, trazendo melhores resultados financeiros e uma produção mais consciente. No caso da adubação, por exemplo, apenas uma análise de solo era realizada no passado, seguida da definição e aplicação de uma fórmula de adubo padrão. Hoje, é possível executar várias análises em uma área e gerar uma aplicação personalizada de macro e micronutrientes. Outro caso refere-se ao monitoramento de doenças e pragas, uma das principais razões de perda de produtividade de lavouras. Antes, eram feitas apenas ações preventivas na área total Agora, já é possível identificar focos de pragas e doenças, fazer pulverizações dirigidas com a dosagem correta inclusive utilizando distintas opções de defensivos biológicos e orgânicos disponíveis. Em relação à performance de tratores e colheitadeiras, anteriormente era feita apenas a manutenção preventiva. Atualmente, os motores podem ser monitorados em tempo real. Algoritmos já indicam possíveis problemas que poderão ocorrer e a manutenção pode ser feita no momento certo. O monitoramento eficiente reduz a movimentação de tratores no campo, gerando benefícios como redução de diesel utilizado e, consequentemente, menores custo e pegada de carbono.


Tecnologias mais avançadas estão em constante desenvolvimento e podem aprimorar ainda mais a tomada de decisão. Atualmente, estão disponíveis no mercado recursos tecnológicos que, há poucos anos, eram só assuntos em alta. Ferramentas como nuvem e computação em nuvem são fatos e tendências. Muitos dados podem ser coletados em campo, desde a análise de solo, aplicação de adubos e defensivos, acompanhamento de doenças e pragas, produtividade na colheita, performance de tratores e colheitadeiras. É importante considerar, também, os dados relativos à previsão do tempo, logística de transporte e comercialização da safra. Tudo isso pode ser imediatamente transmitido e armazenado em nuvem. Há cada vez mais dados disponíveis, que precisam ser transformados em informações para serem interpretadas e analisadas, sustentando a correta tomada de decisão no melhor momento.


As tecnologias digitais não só identificam e destravam valor nos negócios existentes como criam fontes de valor. A valorização e a consequente monetização dos dados gerados nas operações agrícolas, por exemplo, são uma tendência que já se destaca. Novas formas de fidelização dos clientes estão sendo criadas através de informações e conhecimento acumulado em plataformas digitais, que possuem múltiplos serviços, inclusive financeiros. A digitalização também desafiará a posição dos atores na cadeia de valor agroalimentar. Dessa forma, abrirá espaço para novos participantes, trazendo mudanças na dinâmica de competição, nos portfólios de ativos e produtos, na medida em que um novo ecossistema de agricultura conectada se estabelece, em que as startups do setor de agronegócio (agtechs) se destacam. Aqueles que adotarem as tecnologias digitais estarão mais bem posicionados para responder aos desafios do futuro e prosperar em um ambiente competitivo de negócios impulsionado pela conectividade da agricultura.


A potencialização do uso de aplicativos e das análises de dados só será possível com tecnologias de conectividade de ponta. A maioria das redes que utiliza internet das coisas (IoT) não consegue suportar um número maior de dispositivos, nem garantir a transferência de imagens entre os dispositivos necessários para monitorar o campo com precisão. A tecnologia 5G está chegando e promete resolver os problemas atuais de largura de banda e de densidade de conexão. Conectividade, integração de processos, agilidade e autonomia são o sonho de consumo de todo agricultor.


À medida que a agricultura se digitaliza, novos dados são produzidos para serem trabalhados (antes, dentro e após a porteira) e mais valor é gerado pelo negócio. A agropecuária no Brasil gerou uma renda de R$ 518 bilhões no ano passado (o que representa 26,2% do total do agronegócio), apresentando um crescimento de R$ 187,4 bilhões, ou seja 56,6% em relação a 2019, de acordo com levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) em conjunto com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Com esse crescimento, a participação da agropecuária no PIB do Brasil registrou o patamar recorde de 7% em 2020, comparado com 4,3% em 2019, segundo ainda o estudo realizado por estas entidades. Se a agropecuária brasileira mantiver um crescimento médio histórico de produtividade, da ordem de 3% ao ano, o valor adicional gerado será de R$ 15,6 bilhões ao ano, estimulando um efeito multiplicador em outros elos da cadeia de valor do agronegócio. São fatores que consolidam o segmento como importante vetor de crescimento da economia brasileira e o país como líder na exportação líquida de alimentos.

Giovana Araújo é sócia-líder de agronegócio da KPMG e Kleber De Paulo é sócio-diretor responsável pelo relacionamento com contas globais do setor de ciências da vida da KPMG na América do Sul.

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