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Abacate: Condução do plantio à colheita

O potencial produtivo da cultura do abacate cresceu e ainda cresce, batendo recordes a cada safra. Um dos motivos para tamanha expansão é o aumento no consumo devido às propriedades nutricionais cientificamente comprovada.

Créditos Shutterstock

Autores

Yanco Luan Lopes Ribeiro
yanco_luan@hotmail.com
Marcelo Fernando Pimenta
marcelofpimenta@outlook.com
Graduandos em Agronomia – Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos – Ourinhos/SP (UNIFIO)
Bruno Henrique Gonçalves Leite
bruno_lleite@hotmail.com
Aline Mendes de Sousa Gouveia
alinemendesgouveia@gmail.com
Engenheiros agrônomos, doutores em Agronomia/Horticultura e professores – UNIFIO

O potencial produtivo da cultura do abacate cresceu e ainda cresce, batendo recordes a cada safra. Um dos motivos para tamanha expansão é o aumento no consumo devido às propriedades nutricionais cientificamente comprovada.

Atualmente, a cultura tem uma produtividade que varia de 15 a 25 toneladas por hectare, dependendo do manejo, condução, variedade cultivada e condições edafoclimáticas da região de cultivo.

Importância

A produção mundial de abacates é de 3,81 milhões de toneladas, plantados em uma área de 301 mil hectares. No Brasil, há 10 mil hectares plantados, com uma produção de 213 mil toneladas, mostrando ser o País com a maior média em produtividade – em torno de 21,3 toneladas por hectare/ano.

Um fato importante ocorrido em 2017 no Brasil foi a produção de 213 mil toneladas de frutos de abacate, sendo boa parte comercializada internamente (97,9%). No entanto, o País exportou para vários países, nos cinco continentes, um total de 4,5 mil toneladas, gerando 5,3 milhões de dólares.

O continente europeu foi o principal destino das exportações brasileiras dos frutos de abacate, atingindo o volume de 4,4 mil toneladas, representando 99,1% do total, com renda de 5,19 milhões dólares (FAO, 2020).

Demanda

A maior demanda vem do consumo interno do produto no Brasil. O consumo per capita no ano de 2010 era de 300 gramas por habitante/ano. Por meio de trabalhos de pesquisa realizados pela ABPA (Associação Brasileira dos Produtores de Abacate) e universidades do País, o consumo per capita em 2019 foi de 900 gramas por pessoa (CEAGESP-SP, 2019).

Regiões produtoras

Os principais Estados produtores no Brasil são: 1° São Paulo; 2° Minas Gerais e 3° Paraná. No ano de 2018, São Paulo possuía 799 mil pés em produção, e foram implantados mais 232 mil pés, totalizando 4,5 mil hectares com produção de 104 mil toneladas.

Minas Gerais, segundo maior produtor, apresentou uma área de 2,9 mil hectares, com produção de 52,3 mil toneladas, seguido do Paraná, com um mil hectare plantado e produção de 19 mil toneladas.

Espécies

O abacate (Persea americana Miller) é uma frutífera da família Lauraceae, originária do continente americano, com centros de origem no México e na Guatemala. Por ter sua origem em regiões de clima tropical e subtropical, o abacateiro apresenta três raças, sendo elas: mexicana (Persea americana var. drymifolia); antilhana (P. americana var. americana); e guatemalteca (P. nubigena var. guatemalensis), que dão origem aos híbridos cultivados no Brasil.

Manejo

A propagação do abacateiro ocorre por meio de mudas enxertadas (enxertia do tipo garfagem no topo em fenda cheia, usualmente em porta-enxertos da raça antilhana), pois estas começam a produzir a partir de três anos após transplantadas.

Para pomares instalados em regiões de clima frio (sujeitas a geadas), é recomendável a formação das mudas em porta-enxertos mexicanos ou guatemalenses. Ponto importante é a aquisição das mudas de plantio em viveiros idôneos registrados no MAPA, que garantem e atestam a qualidade e sanidade (livre de patógenos). 

Na implantação da cultura, o direcionamento do plantio é um quesito fundamental. Pomares de abacate devem ser plantados no sentido leste a oeste, pois receberam maior incidência de raios solares.

Outro fator importante é a estrutura de solo. Terrenos com teores de argila acima de 50% e pouco drenáveis devem ser submetidos à construção de camalhão (terraço elevado) para proteção do sistema radicular, evitando a predisposição ao ataque de Phytophthora cinnamomi. Já para solos com teor de argila inferior a 50%, com solo bem drenado, pode-se fazer o sulco de plantio para o transplante das mudas de imediato, devendo somente atentar-se para utilização de cobertura vegetal nas entrelinhas, evitando erosão e garantindo a manutenção da umidade do solo.

Irrigação e condições do solo

O abacateiro não é uma cultura com alta exigência hídrica, portanto, a irrigação não é obrigatória. Regiões que apresentem índice pluviométrico de 1.300 mm anuais, desde que bem distribuído, são satisfatórias para um bom desenvolvimento da cultura.

A planta tem preferência por solos profundos, bem drenados, pois suas raízes podem chegar a até 6,0 m de profundidade, e concentra-se a maior parte (80%) na camada de 0 a 100 cm. Solos sujeitos a encharcamento não são indicados para o plantio, pois predispõem as plantas a doenças como a gomose, causada pelo fungo Phytophthora cinnamomi, que provocam podridão no colo da planta.

O espaçamento de plantio indicado pelos órgãos de pesquisa e desenvolvimento (IAC, Embrapa, entre outros) mostram que o espaçamento entrelinhas e entre plantas pode variar de 6,0 x 4,0 m até 12 x 12 m, sendo necessárias de 100 a 400 mudas hectare.

Adota-se o menor adensamento para pomares em que se deseja realizar podas frequentes. As dimensões das covas (berço) são de 0,40 x 0,40 x 0,40 m.

Adubação

No manejo de adubação para implantação da cultura, a calagem deve elevar a saturação de base do solo para 60%. Na adubação de plantio, recomenda-se adubos fosfatados de liberação lenta, além de 20 litros de esterco de curral, ou quatro litros de esterco de galinha, 250 g de P2O5, misturando bem com a terra da superfície, 30 dias antes do plantio.

Após o pegamento das mudas, aplica-se em cobertura 60 g de N fracionado em três aplicações aos 30, 90 e 150 dias pós-transplante. Esses valores podem alterar de acordo com a análise de solo, que deve ser acompanhada de recomendação técnica por um profissional habilitado.

Para a adubação de formação, no segundo e terceiro ano aplicar 100 a 150 g N, e de acordo com a análise de solo, 40 a 200 g de P2O5 e 0 a 100g de K2O em três parcelas, ao redor de cada planta e na projeção das copas.

 No quarto ano, 300 g de N, e de acordo com os teores no solo, 120 a 300 g de P2O5 e 0 a 200 g de K2O. É recomendada a aplicação via foliar de sulfato de zinco a 0,25% e ácido bórico a 0,10% em duas aplicações, no período da primavera e no verão.

Para adubação de produção, aplicar 60 a 120 kg/ha de N, quando o teor de N nas folhas for inferior a 20 g/kg. De acordo com a análise de solo, aplicar 20 a 120 kg/ha de P2O5 e 30 a 150 kg/ha de K2O. Fracionar a dose anual de fertilizantes, especialmente N e K, em três aplicações, durante a estação das chuvas. Fazer duas pulverizações foliares, em setembro e fevereiro, com 50 g de ácido bórico e 250 g de sulfato de zinco em 100 litros de água.

Por ser uma planta de ampla adaptação climática (regiões de clima tropical e subtropical), desenvolve-se bem em regiões quentes e/ou frias. Contudo, é importante atentar-se para condições reprodutivas da planta, pois em regiões com condições climáticas como altas temperaturas, o ciclo florescimento/maturação dos frutos é encurtado, e em regiões com baixa temperatura esse ciclo expressa-se mais tardiamente.

Cultivares

Fato relevante para o planejamento dos pomares é a escolha das cultivares, sendo indicadas cultivares precoces para regiões de clima quente e cultivares de meia-estação ou tardias para regiões de clima frio.

O abacate é uma planta hermafrodita, apresenta dicogamia protogínica, ou seja, as flores masculinas e femininas possuem diferença no tempo de amadurecimento, dificultando a polinização. Assim, as variedades são divididas em grupos A e B.

No grupo A, a primeira abertura da flor ocorre no período da manhã. Na abertura, o estigma se encontra receptivo, mas as anteras não se abrem e não há liberação de pólen para fecundação do estigma. A flor se fecha ao meio-dia e somente se abrirá no período da tarde do dia seguinte, quando os estames estarão maduros.

Dessa forma, o estigma não se encontra mais receptivo. Já as variedades do grupo B diferem do grupo A pelo fato de que a primeira abertura da flor ocorre após o meio-dia, fechando-se ao entardecer e a reabertura ocorre no período da manhã do dia seguinte.

Para sanar essa deficiência e maximizar o número de pegamento de frutos, recomenda-se intercalar as linhas de plantio com cultivares A e B. As mais indicadas para o mercado interno são: Geada (B) de maturação precoce; Quintal (B) e Fortuna (A), os de meia estação; Ouro Verde (A), Breda e Margarida (B) de maturação tardia. Para o mercado externo e/ou industrialização, são indicados: Fuerte (B) e Hass (A).

Poda

O manejo de poda é dividido em duas formas: poda de formação e poda de manutenção. A poda de formação visa baixar a altura das plantas, facilitando a coleta dos frutos, e tornar o manejo de pulverizações mais fácil e eficiente.

Quando a planta atinge aproximadamente seis meses após o plantio, é realizada a primeira poda – a gema apical é retirada, fazendo um corte em bisel para evitar o acúmulo de água – isso estimulará o desenvolvimento dos ramos laterais.

A segunda poda é realizada cinco meses após a primeira. É nesse momento que se faz a escolha dos ramos que formarão a estrutura da árvore. São escolhidos quatro ramos que estejam em sentidos apostos, formando um sinal de “mais”. É ideal que esses galhos estejam com uma inclinação de 45° em relação ao eixo central.

É feita, também, a eliminação dos ramos que estão abaixo do ramo estrutural (ramos ladrões). A poda de manutenção é a única que pode ser realizada quando o abacateiro atinge idade de produção. Essa poda é realizada após a colheita, e consiste em cortar todos os galhos secos, quebrados, mal situados (os que vão para o interior da árvore e que se cruzam) e ramos excessivamente danificados por pragas, doenças e os que tocam o solo.

Daninhas

No manejo para controle de plantas daninhas, pragas e doenças, o produtor deve atentar-se e seguir alguns parâmetros importantes para obter sucesso neste quesito. Para o controle das plantas daninhas podem ser utilizadas roçadas nas entrelinhas do plantio (roçadeiras manuais ou acopladas no trator), e capinas manuais ao redor da planta na proporção da copa.

Pragas

Para o manejo de pragas, entre as principais do abacateiro estão: lagarta-do-fruto (Stenoma catenifer), considerada a principal praga no Brasil, ácaros (Oligonychus persea), bicudo-do-abacateiro (Heilus spp.), tripes, percevejos, coleobrocas e formigas.

O controle pode ser feito de três formas: controle cultural, com a catação e derrubada de frutos doentes e podas para iluminar e arejar o pomar, controle químico e controle biológico, como os ácaros predadores, Beauveria bassiana, Trichogramma spp., Trichoderma harzianum e Metarhizium anisopliae.

Em último caso, optar pelo controle químico, utilizando sempre produtos registrados para a cultura, respeitando o período de carência e seguindo as recomendações do fabricante quanto à dosagem, quantidade de calda e horário de aplicação, sendo indispensável o uso de EPI’s.

No manejo de doenças, entre elas: podridão radicular ou gomose (Phytophthora cinnamomi), cercosporiose (Cercospora purpurea), oídio (Oidium perseae), verrugose (Sphaceloma perseae) e antracnose (Colletotrichum gloeosporioides). Para evitar essas doenças é recomendado o manejo de poda de manutenção, eliminando galhos doentes e coletando os frutos do chão.

O controle pode ser feito por meio de pulverizações com cobre e fungicidas químicos, como mancozebe® e difenoconazola®. No caso do oídio, o controle deve ser preventivo, fazendo pulverizações com bicarbonato de potássio, pois não existe fungicida registrado para a cultura. Em ambos, procurar sempre a orientação de um engenheiro agrônomo.

Em produção

Dessa forma, é obtida produção comercial após o 4° ano de plantio para mudas enxertadas. Para um bom desenvolvimento das plantas, os frutos que surgirem do 2° ao 3° ano devem ser eliminados.

O rendimento é variável e depende de cada cultivar e das condições edafoclimáticas da região. O número de frutos por árvore adulta varia de 200 a 3.000 em pomares bem manejados. Outro ponto importante é não deixar os frutos amadurecerem na planta, pois isso favorece a queda, causando danos, tornando-os impróprios para a comercialização.

A colheita do abacate é feita manualmente, utilizando de escadas e tesoura, ou sacolas coletoras. Cuidados devem ser tomados quanto à qualidade e durabilidade pós-colheita na comercialização, como cortar o pedúnculo deixando uma porção de 0,8 a 1,0 cm; não formar camadas de frutos, ou seja, não sobrepor. Dessa forma, é garantida a manutenção da qualidade e das características organolépticas.

O super fruto

Considerado um super fruto, o abacate apresenta vitaminas (A e B), ômega 3, 6 e 9, minerais (o potássio é duas vezes mais que o mineral encontrado na banana), proteínas, fibras e gordura monoinsaturada, eficaz na redução do colesterol total e no aumento do HDL (colesterol do plasma), com benefício a saúde de quem os consome.

Na ponta do lápis

O investimento inicial pode variar muito. Considerando uma densidade de 100 plantas por hectare, o custo é de R$ 6.500,00. Deste valor, R$ 2.500,00 são destinados à aquisição de insumos e mudas, e o restante são destinados à preparação do terreno e mão de obra.

No segundo e terceiro anos de cultivo esse custo diminui, pois as operações realizadas no pomar são apenas de manutenção, ficando em R$ 2.400,00 por ano. O retorno do valor investido começa a partir do 4° ano de plantio, quando se inicia a colheita. Ressalva, o retorno do dinheiro investido com correção monetária varia entre o 5° e 7° ano.

Rentabilidade

O planejamento é feito com base para 20 anos de produção, com valor acumulado superior a R$ 300 mil por hectare. Deste valor, 72% são referentes ao retorno do investimento (lucro), e 28% à implantação e manutenção do pomar no período de 20 anos. A cultura apresenta retorno considerável a médio e longo prazos.

Lembrando que os erros mais comuns são: plantio em áreas irregulares (solos encharcados); não respeitar a topografia do terreno; mudas de má qualidade (adquiridas de viveiros sem registro no MAPA), falta de preparo do solo, adubação e variedades de polinizadoras.

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