Débora de Melo Almeida – Engenheira florestal, técnica em Controle Ambiental e mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais – Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFPE) – debooraalmeida@gmail.com
Fernanda Moura Fonseca Lucas – Engenheira florestal, técnica em Controle Ambiental e mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal – Universidade Federal do Paraná (UFPR)
João Gilberto Meza Ucella Filho – Engenheiro florestal, técnico em Agronegócio e mestrando pelo programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia da Madeira – Universidade Federal de Lavras (UFV) – 16joaoucella@gmail.com

A Acacia mearnsii De Wild., pertencente à família Fabaceae, é natural de regiões temperadas, úmidas ou subúmidas do Sul e Sudeste da Austrália. É uma espécie de rápido crescimento, que apresenta entre cinco a 18 m de altura, alcançando sua taxa máxima entre três e cinco anos de idade.
Adapta-se a zonas climáticas úmidas e subúmidas, quentes e frias, com temperatura máxima média do mês mais quente entre 22 e 28ºC e precipitação pluviométrica variando entre 625 e 1.600 mm.ano-1, não suportando longos períodos de estiagem.
No Brasil, a espécie é conhecida popularmente como acácia-negra. O primeiro plantio foi realizado no Estado do Rio Grande do Sul em 1918. Em 1930 foi iniciado em escala comercial e atualmente, está entre as principais espécies cultivadas no país. O gênero Acacia ocupa a quarta posição, com mais de 160 mil hectares plantados, atrás das culturas de eucalipto, pinus e seringueira (Figura 1).

O Estado do Rio Grande do Sul detém 64% dessas plantações, especialmente com a espécie Acacia mearnsii. Grande parte desses plantios está localizada na região fisionômica natural do Rio Grande do Sul, denominada de Serra do Sudeste (Escudo Rio-Grandense) e Depressão Central.
Os benefícios do cultivo da espécie se expandem para mais de 40 mil pequenos produtores que trabalham com a acacicultura, desempenhando um importante papel socioeconômico.
Demanda garantida
O cultivo de florestas de acácia-negra se tornou uma atividade econômica atrativa, por gerar benefícios para diversos produtores, destacando-se:
1) Geração de renda;
2) Redução da jornada de trabalho;
3) Aproveitamento de áreas com uso restrito para agricultura;
4) Integração com outros cultivos agrícolas e com a pecuária.
O rápido crescimento da acácia-negra, associado ao aproveitamento da madeira e da casca, torna essa espécie ideal para reflorestamento e utilização industrial. A madeira é utilizada na produção de celulose, papel e carvão, além de ser tradicionalmente utilizada como lenha.
A casca é matéria-prima para a extração do tanino, sendo a principal fonte para a indústria em nível mundial. O tanino é utilizado para o curtimento do couro e peles e empregado na indústria farmacêutica. Além disso, a biomassa da copa (galhos e folhas) apresenta potencial para ser utilizada na geração de energia. Assim, constata-se que a acácia-negra pode ser considerada uma leguminosa de uso versátil, com valor comercial agregado na madeira e casca.
Sustentabilidade
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Além de exercer importante papel socioeconômico, essa espécie possui grande relevância ambiental, tendo em vista que apresenta bom crescimento em sítios inadequados para a agricultura, propiciando melhorias na fertilidade do solo.
Essas modificações edáficas se encontram relacionadas à capacidade da espécie de fixação biológica de N e elevada ciclagem de nutrientes via serapilheira, acarretando inúmeros benefícios, principalmente na recuperação e proteção dos solos. Em função disso, recomenda-se o plantio da acácia-negra para recuperação de áreas degradadas.
Apesar dos povoamentos de acácia-negra promoverem a fixação de N, o sistema de manejo utilizado é responsável por definir a sustentabilidade do sítio. Além da madeira, a espécie fornece a casca como importante subproduto, o que aumenta a exportação de nutrientes.
Isso implica em possíveis desequilíbrios no balanço nutricional ao longo das rotações. Sendo assim, o uso de fertilizantes minerais é essencial, principalmente para espécies arbóreas de rápido crescimento como a acácia-negra, visando atender as demandas de produtividade e sustentabilidade dos sítios em rotações presentes e futuras. Para haver manutenção da produtividade, a reposição nutricional deveria ser pelo menos igual à exportada do sítio por meio da colheita.
Nesses plantios, os nutrientes exportados do solo em maiores quantidades, em ordem decrescente, são N > K > Ca > Mg > S > P. Este cenário pode causar grandes impactos na fertilidade e provável requerimento de fertilização do solo para uma nova rotação na área.
Produção da biomassa
A biomassa total em plantios de acácia-negra varia em função do sítio e idades. Estudos indicam que a produção total de biomassa em plantios de zero a oito anos pode variar entre 24,10 e 174,67 mg ha-1. Ao final do ciclo da espécie, a maior parte dessa biomassa se encontra acumulada na madeira, seguido da casca, galhos e folhas.
Em estudo realizado no Rio Grande do Sul para avaliar a capacidade energética da madeira e casca da acácia-negra em diferentes espaçamentos (2,0 m x 1,0 m e 1,0 m x 1,5 m) aos 36 meses de idade, encontrou-se na casca elevados valores de poder calorífico superior, teor de cinzas e teor de carbono fixo, assim como na madeira, que apresentou elevados valores de massa específica básica, teor de materiais voláteis, biomassa e densidade energética, independentemente do tipo de espaçamento.
O preparo do solo na linha de plantio, com a adubação de fundação utilizando esterco bovino, NPK, superfosfato triplo e calcário influenciaram positivamente o crescimento e a produção de biomassa de outra espécie de acácia (Acacia mangium) no Rio Grande do Norte, como mostrado em um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Estado.
O método de cultivo mais intensivo respondeu positivamente ao incremento na produção de biomassa e apresentou alta produtividade do lenho até o quarto ano de idade (idade máxima de observação na pesquisa). No terceiro ano do plantio, obteve-se um incremento médio de 23,26 m3/ha/ano.
Plantio e manejo
Para o plantio, o mais usual é a utilização de mudas. As mudas selecionadas para o plantio devem apresentar diâmetro de coleto acima de 1,5 mm e altura de 15 a 30 cm. O espaçamento utilizado varia entre 2,0 m x 2,0 m (2.500 plantas ha-1), 3,0 m x 1,5 m (2.222 plantas ha-1) e 3,0 m x 2,0 m (1.667 plantas ha-1).
Em geral, quanto menor o espaçamento, maior a produção de madeira e casca, no entanto, menor é a concentração de taninos. Durante a condução da floresta, na fase inicial deve-se manter a área livre de plantas daninhas. A cultura não necessita de desramas ou podas ao longo do ciclo.
As formigas devem ser monitoradas desde a implantação da cultura. Entre as pragas de relevância estão o cascudo serrador (Oncideres impluviata) e a lagarta-da-acácia-negra. Dentre os patógenos, a doença que se destaca é a gomose (Phytophthora sp.), que gera lesões necróticas na casca, formando exsudação de goma através dos órgãos da planta, enquanto a murcha de Ceratocystis é uma doença de menor relevância.
Em povoamento de acácia-negra situado em Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico típico no sudeste do Paraná, recomenda-se a aplicação de 40 g/planta de P2O5 e 40 g/planta de K2O em conjunto, resultando em aumento do volume de madeira. No Rio Grande do Sul, em povoamento de acácia-negra aos seis anos de idade situado em Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico típico, recomenda-se a aplicação de 40 kg ha de N e 80 kg ha de P.
O fósforo é considerado de extrema importância para o crescimento das árvores. Com a adição de P são observadas respostas de crescimento linear das variáveis diâmetro à altura do peito (DAP), altura e volume.
Produção de madeira
Estudos que avaliaram a produção de acácia-negra em diferentes tipos de solos observaram que nos Argissolos e Cambissolos a produção de madeira foi 30% superior quando comparado aos Neossolos.
Dessa forma, pode-se constatar que em solos mais profundos, com boa drenagem e com maior disponibilidade de nutrientes, a acácia-negra apresenta melhor desenvolvimento. Isso ocorre em função da acácia-negra possuir sistema radicular superficial, tornando-se suscetível ao tombamento e a danos no colo. Por isso, é necessário evitar áreas com a presença de ventos fortes, principalmente quando implantada em solos com muito cascalho.
Estoque de carbono
A colheita pode ocorrer entre cinco a 10 anos, de acordo com o clima, considerando-se sete anos a idade na qual os teores de tanino da casca apresentam a melhor qualidade. A produtividade gira em torno de 10 a 25 m³ ha-1 ano-1 de madeira e 15 t ha-1 de casca. No Paraná, experimentos indicam produtividade de 31-36 m³ ha-1 ano-1.
Em relação a valores, a tonelada da casca é cotada a R$ 300,00 e o metro da madeira a R$ 75,00. A espécie também apresenta elevada importância quando se considera o papel das árvores no ciclo global do carbono.
Os plantios da espécie atuam na fixação do carbono atmosférico (CO2), podendo armazenar mais de 60 mg ha-1 na biomassa das árvores aos sete anos de idade. No final do ciclo, a maior parte desse carbono se encontra acumulado na madeira, seguido dos galhos, raízes, casca e folhas.
Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná revela que a espécie fixa carbono em sua biomassa de modo análogo às principais espécies do setor florestal brasileiro, podendo variar entre localidades e idade.
Tabela 1. Valores de Teor de Carbono da Copa (TCC) e Teor de Carbono no Fuste (TCF) para povoamentos de Acacia mearnsii, cultivados no Estado do Rio Grande do Sul.
Grupo | Teores Médios de Carbono | |
Copa | Fuste | |
Jovem | 47,58% | 44,49% |
Média inicial | 47,16% | 44,44% |
Média avançada | 46,89% | 44,43% |
Madura | 46,62% | 44,45% |
(Fonte: Martins et al. 2020 – Carbono nos componentes da biomassa de Acacia mearnsii De. Wild.)