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Ácaros: Alerta para a produção citrícola

Autores

Renato Bassanezi
Pesquisador do Fundecitrus
renato.bassanezi@fundecitrus.com.br
Marcelo Scapin
Engenheiro agrônomo do Fundecitrus
marcelo.scapin@fundecitrus.com.br
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O ácaro Brevipalpus yothersi é responsável pela transmissão do vírus da leprose dos citros (CiLV-C), que causa a doença conhecida como leprose dos citros em laranjeiras. O vírus afeta ramos, folhas e frutos.

Nas folhas, os sintomas se caracterizam por lesões cloróticas, lisas e arredondadas, de até três centímetros de diâmetro, geralmente próximas às nervuras, podendo apresentar anéis concêntricos de goma.

Os sintomas aparecem nas duas faces da folha, reduzindo sua capacidade fotossintética e causando sua queda prematura. Nos ramos, as lesões assumem a cor marrom-avermelhada, se tornam irregulares e salientes. Em estágio mais avançado, as lesões secam e causam a ruptura da casca, podendo levar à seca e morte do ramo.

Nos frutos verdes, observam-se lesões necróticas marrons, lisas ou ligeiramente deprimidas, mais ou menos circulares, de cinco a 12 milímetros de diâmetro, com presença ocasional de rachaduras no centro e rodeadas por um halo amarelo.

À medida que o fruto amadurece, as lesões se tornam mais escuras e deprimidas e podem ser rodeadas por um halo verde. São distribuídas por toda a superfície do fruto. A presença de várias delas, principalmente próximas ao pedúnculo, provocam a queda prematura dos frutos.

A presença de lesões nos frutos também acarreta em depreciação do mesmo para a venda no mercado de fruta fresca. Plantas bem afetadas têm sua longevidade produtiva reduzida e a queda de frutos pode chegar a 100%.

O custo para o controle do ácaro da leprose representa em torno de 5% do custo total com tratamentos fitossanitários em um pomar de laranja em produção. Geralmente, são realizadas de uma a três aplicações de acaricidas específicos para o controle por ano a um custo entre R$ 250,00 a R$ 500,00 por hectare por aplicação, considerando acaricida, maquinário e mão de obra.

Controle – como era feito

Como o ácaro da leprose é bem pequeno (0,3 x 0,18 mm) e se encontra abrigado/escondido próximo às nervuras das folhas, em ranhuras nos ramos e em lesões próximas ao pedúnculo dos frutos, distribuídos tanto na parte externa como no interior da copa das plantas, é necessário que a calda acaricida pulverizada atinja toda a superfície dos órgãos da planta.

Com o uso dos turbopulverizadores a partir da década de 90, usava-se um volume muito alto de calda, em torno de 8,0 a 10 mil litros por hectare (média de 400 a 500 ml de calda por metro cúbico de copa). Isso permitia um bom controle do ácaro da leprose, mas também causava grande desperdício de água, acaricida e combustível.

Este volume era necessário porque os pulverizadores tinham poucas pontas de pulverização no seu ramal e produziam gotas grossas com diâmetro mediano volumétrico (DMV) acima de 200 micrômetros. Gotas grossas, geralmente, não conseguem desviar de obstáculos e são, em sua maioria, retidas na parte externa da copa da planta. Para atingir a parte interna, era preciso usar um volume maior.

Evolução do processo

No início dos anos 2000, o Fundecitrus, em parceria com o pesquisador Hamilton Humberto Ramos, do Centro de Engenharia e Automação do Instituto Agronômico de Campinas, iniciou as primeiras pesquisas para adequar um volume de calda para o controle do ácaro da leprose sem tanto desperdício.

Para isso, foram desenvolvidos os turbopulverizadores com ramais especiais nos quais era possível colocar um número maior de pontas de pulverização que produzissem gotas finas (DMV entre 100 e 200 micrômetros) para permitir um bom molhamento do interior da copa da planta com um volume de calda menor.

Os resultados de pesquisas mostraram que volumes entre 100 e 180 ml de calda por metro cúbico de copa, mesmo sem a necessidade de concentração do acaricida, apresentaram períodos de controle iguais aos volumes maiores.

Os resultados

Sustentabilidade econômica e ambiental. A adequação do volume de calda de 8 a 10 mil para 2 a 3,5 mil litros por hectare representou um ganho de rendimento operacional significativo, pois reduziu de três a quatro vezes a necessidade de reabastecimento e economizou o uso de água e acaricida por hectare em até 70%, sem perder a eficiência de controle do ácaro da leprose.

Além do uso adequado da tecnologia de aplicação de acaricidas para permitir uma boa deposição e cobertura em toda planta, deve-se atentar para outros fatores que podem comprometer o sucesso do controle, como: clima quente e seco prolongado, amostragens do nível populacional do ácaro com intervalos acima de 14 dias e com menos unidades amostradas, atraso no controle após a detecção do nível de ação, tomada de ação de controle com níveis altos de infestação (>5% de órgãos com a presença do ácaro), adensamento exagerado entre as linhas de plantio, mistura de acaricida com outros produtos incompatíveis no tanque de pulverização e o uso frequente de inseticidas e fungicidas para o controle de outras pragas e doenças que estimulem a reprodução e sobrevivência do ácaro da leprose e reduzam a população dos seus inimigos naturais.

Manejo

Além dos fatores biológicos, químicos, máquina, momento de aplicação e condições ambientais que influenciam diretamente na eficácia da pulverização, deve-se levar também em consideração, para determinar o volume de aplicação, as características das copas das plantas.

Portanto, o volume de aplicação nunca deve ser um fator pré-definido. O volume de copa das plantas pode ser calculado em função da altura, largura (diâmetro da copa no sentido da entrelinha) e profundidade (espaçamento entre plantas na linha) da copa. O volume de copa é obtido pela multiplicação dessas três médias.

Em função do volume de uma árvore e número de plantas por hectare se obtém o volume de copa por hectare. Para o controle do ácaro da leprose dos citros, o volume de cada referência é de 100 a 150 ml/m³ de copa e de acordo com os resultados dos últimos estudos pode-se estender este limite para 180 ml.

Essas referências não são regras, portanto, o citricultor deverá observar o resultado da adequação de volume por meio da avaliação de cobertura em papéis hidrossensíveis. Para o controle deste ácaro, a cobertura em papéis hidrossensíveis deve ser igual/superior a 40% na parte interna da copa das plantas.

Detalhes do processo de regulagem e maiores informações podem ser consultadas no Manual de Tecnologia de Aplicação do Fundecitrus, disponível no site www.fundecitrus.com.br, ou fazer o uso da ferramenta digital SPIF – Sistema de Pulverização Integrado do Fundecitrus, disponível no site e nas lojas de aplicativo.

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