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Adubação no sulco do milho garante melhor arranque

Araína Hulmann BatistaProfessora de Gênese, Morfologia e Classificação dos Solos – Instituto de Ciências Agrárias – Universidade Federal de Uberlândia (UFU/ICIAG)araina@ufu.br

Wedisson Oliveira SantosProfessor de Química do Solo, Adubos e Adubação, Fertilidade do Solo – UFUwedisson.santos@ufu.br 

José Geraldo Mageste Engenheiro florestal, Ph.D. e professor de Introdução à Solos e Sistemas Agroflorestais – UFUjgmageste@ufu.br

Plantio – Crédito: Luize Hess

Com a busca constante por maior rendimento nas operações de adubação das culturas, tem-se notado aumento de recomendações de adubações de plantio à lanço substituindo a adubação no sulco de plantio para culturas anuais, incluindo o milho.

Entretanto, sabe-se que a forma de aplicação dos fertilizantes pode afetar a eficiência das adubações, e que para muitas condições de cultivo esta prática não é recomendada. Nesse sentido, propõe-se, neste artigo, esclarecer a importância da adubação no sulco de plantio, em contraste com a adubação à lanço, particularizando condições de solo, da cultura e de nutrientes alvos. 

Melhor arranque inicial

A adubação de plantio do milho visa o suprimento inicial de nutrientes deficientes no solo, em fase da cultura de grande exigência nutricional. De fato, a pequena área radicular da planta de milho no início do desenvolvimento pode limitar a aquisição de nutrientes do solo.

Assim, para o pleno crescimento inicial desta cultura, é importante que a disponibilidade de nutrientes seja elevada, pois nessa fase os níveis críticos nutricionais são elevados. Para elementos que apresentam grande mobilidade no solo, cujo principal mecanismo de transporte é o fluxo de massa, como Ca, Mg, por exemplo, essa restrição radicular não é problemática já que estes podem se mover a longas distâncias.

Já elementos como fósforo (P) e zinco (Zn), os quais se movimentam no solo principalmente por fluxo difusivo, a curtas distâncias, a pequena área radicular inicial do milho afetará grandemente sua capacidade de aquisição.

Dessa forma, podemos generalizar, neste primeiro momento, que haverá maior necessidade de aplicação no sulco de plantio do milho nutrientes que possuem baixa mobilidade no solo, destacando-se o P, pois além de possuir baixo coeficiente de difusão (mobilidade), é fixado no solo em formas não disponíveis. 

Portanto, a adubação localizada no sulco de plantio possibilitará a formação de ambientes próximos às raízes com elevada concentração de nutrientes, facilitando a difusão (movimentação) até a superfície radicular, especialmente para P, K, Zn, Cu, Mn e Fe.


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Atenção!

Nível crítico de um nutriente trata-se do teor do nutriente no solo que promove produtividade de máximo retorno financeiro, que em geral corresponde a 90% do rendimento máximo para o milho. Encontramos o nível crítico nas tabelas de diagnóstico, no limite superior da classe de média disponibilidade.


Benefícios

Em cada classe de solo os nutrientes se comportam de maneira distinta, com maior ou menor mobilidade, portanto, é preciso considerar estes fatores na escolha da forma de adubação. Esta será preferida quanto maior forem os seguintes atributos dos solos:

– Teor de argila do solo, pois, nestes casos, há a maior capacidade de fixação de P, ou seja, menor disponibilidade do nutriente;

– A concentração de óxidos de Fe e Al (solos mais amarelados ou avermelhados) e de caulinita na fração argila, pois estes minerais aumentam a fixação, principalmente de P;

– A densidade do solo, que diminui o deslocamento dos nutrientes por fluxo difusivo, impedindo ou reduzindo a sua absorção pelas plantas. O aumento da densidade também afeta de forma negativa o crescimento das raízes, com diminuição importante da absorção de nutrientes;

– A descontinuidade de poros, que assim como a densidade, diminui a mobilidade dos nutrientes no solo;

– A deficiência em elementos como P, K e micronutrientes metálicos;

O outro lado

Ao contrário, mais impactante será o benefício da adubação localizada no sulco de plantio, possibilitando maior absorção desses nutrientes pelo milho, promovendo maior crescimento inicial e o estabelecimento de maior potencial produtivo, quanto menores forem:

– O teor de matéria orgânica do solo;

– Atividade biológica do solo;

– A capacidade de aquisição de nutrientes pela cultivar (baixo Vmax, elevado Km e elevado Cmin);

– A capacidade de crescimento radicular da cultivar.

Além do benefício sobre a produtividade da cultura, a adubação no sulco de plantio é ambientalmente mais segura, pois dificulta a remoção e transporte de fertilizantes do solo por erosão laminar. 

Manejo de aplicação

 Para definir o formulado de plantio, é preciso inicialmente fazer o diagnóstico da fertilidade do solo por meio da análise química do solo, e por meio de tabelas de recomendação, calibradas regionalmente, definir as doses de N, P, K e micronutrientes.

Demais macronutrientes, Ca, Mg e S são supridos pela calagem e gessagem, respectivamente. Caso não tenha havido necessidade de gessagem e o teor de S estiver baixo, pode ser dada preferência para fórmulas de plantio ricas em S.

A partir das doses recomendadas, extraídas dos boletins ou manuais de adubação, deve-se dimensionar fórmulas comerciais que atendam a exigência do milho, como segue no exemplo:

Ex: 20 kg/ha de N, 120 kg/ha de P2O5 kg/ha e 80 kg/ha de K2O kg/ha.

Inicialmente, determina-se a fórmula mínima dividindo-se as doses pela menor:

– Fórmula mínima (FM): 20/20; 120/20;60/20à  1   6   3

A FM representa a proporção em massa de N, P e K. Fertilizantes mistos sólidos para adubação via solo devem conter pelo menos 21% de concentração total de N + P2O5 + K2O. Portanto, neste exemplo a fórmula mínima obtida (∑NPK= 10%) não pode ser comercial. Neste caso, deve-se multiplicar a fórmula por valores superiores a 3, a fim de se obter somatórios superiores a 21%:

– Fórmula Comercial (FC) = FM x 4 à 4 24 12

Com a fórmula comercial NPK 4-24-12 definida, agora é necessário calcular sua dose (kg/ha), utilizando regra de três simples:

100 kg 4-24-12 —————— 4 kg N

                     x————————-20 kg N                                  

            Dose da fórmula: 500 kg/ha

A adubadora deve ser previamente regulada, com elevada exatidão, para aplicar a quantidade desejada. Basta, inicialmente, calcular o equivalente a 1,0 ha linear, dividindo-se a área de 1,0 ha (m2) pelo espaçamento, entrelinha, do milho (m):

Hectare, em m linear = 10.000 m2/0,5 m= 20.000 m

500 kg ———– 20.000 m

       x————–1,0 m à 25 g/m

Assim, será necessário regular a adubadora para aplicar 25 g/m da fórmula 4-24-12.

O ajuste da plantadora-adubadora poderá ser realizado em galpão, alterando-se a regulagem do sistema (tentativa-erro) e coletando o fertilizante liberado para uma distância definida por meio do deslocamento da máquina sobre uma lona ou pela contagem do número de voltas do rodado que move o sistema de aplicação.

Produtividade

O arranque inicial, maior garantia de aproveitamento das doses de fertilizantes fornecidas, menores perdas de nutrientes por fixação ou erosão, são fatores que por si já demonstram que haverá melhor desempenho da cultura com a adubação realizada no sulco de plantio.

Entretanto, sabe-se que a escolha não depende somente da melhora na produtividade, mas das condições práticas de planejamento do manejo que será adotado. Situações como plantio de milho safrinha, cuja implantação nas áreas é realizada posteriormente à cultura da soja, por exemplo, acabam justificando a adubação a lanço em detrimento à adubação no sulco de plantio.

Nestes casos, a adubação à lanço não representa perdas importantes especialmente em solos de fertilidade construída, cuja adubação será realizada como manutenção dos níveis de nutrientes que são exportados pelas culturas.

Casos específicos

Por outro lado, solos com baixa disponibilidade nutricional, com alta capacidade de fixação de fósforo – comum na região do Cerrado, devido ao elevado intemperismo e predomínio de minerais como caulinita e óxidos de Fe e Al – a adubação a lanço não é recomendada.

Além de prejudicar o aproveitamento do nutriente pela cultura, favorece a concentração do nutriente em superfície, levando à concentração do sistema radicular também em superfície. O desdobramento disso no desenvolvimento da cultura é evidente: suscetibilidade maior ao estresse hídrico, menor aproveitamento de outros nutrientes e diminuição da produtividade.

Ressalta-se, ainda, que quanto mais exigente a cultivar, mais importante é o fornecimento de nutrientes com maior assertividade, conseguida, como explicado anteriormente, com a adubação no sulco de plantio.

Como exposto, vários fatores, incluindo variedade escolhida, condições do sítio de plantio, manejo adotado e disponibilidade de mão de obra e equipamentos, vão orientar a decisão dos produtores. As vantagens e desvantagens devem ser consideradas para cada caso específico, considerando as recomendações realizadas pelo técnico responsável pelas áreas.

Em campo

Ainda existe muita controvérsia em relação à forma de aplicação dos fertilizantes para a cultura do milho. Como já discutido anteriormente, dentre os nutrientes, o P é o que apresenta maiores restrições de acordo com as condições da área e escolha do manejo.

Alguns resultados que comparam formas de aplicação – sulco ou lanço – dos adubos fosfatados demonstram que há viabilidade na aplicação a lanço, mas isto está diretamente ligado às condições expostas anteriormente.

Um fator importante a ser considerado é a dose que será aplicada – quanto menor for a dose recomendada, mais importante que a aplicação seja localizada, ou seja, para doses baixas, a adubação em sulco será mais eficiente.

Lemos (2016) comparou a aplicação de fósforo a lanço e sulco em plantio convencional e os resultados apontam com clareza que até que os níveis disponíveis do nutriente sejam corrigidos de baixo para médio/alto, a adubação em sulco promove maiores produtividades e maior efeito residual da adubação, elevando os teores de P para níveis altos em toda a área (P > 20 mg.dm-3), destacando que os solos estudados eram de textura média.

O autor conclui, entretanto, que ao final de duas safras acumuladas, já com a fertilidade corrigida, a produtividade da cultura com a aplicação a lanço foi maior em relação à aplicação em sulco.

Estas respostas, entretanto, são muito díspares e podem ser bem diferentes entre cada área avaliada. Como mencionado anteriormente, as especificidades de cada área devem ser consideradas na tomada de decisão em relação à forma de aplicação.

Em estudo realizado em Latossolo Vermelho distrófico na região do Triângulo Mineiro, município de Uberaba, a aplicação em sulco de plantio promoveu maiores produtividades da cultura do milho (Prado et al, 2001).

Considerando o que foi exposto, o trabalho confirma que a presença de baixos teores do nutriente associado a solos ricos em óxidos de Fe e Al, fazem com que o P seja drenado pelo solo, e uma vez fixado por estas argilas, torna-se indisponível para as plantas, reduzindo os teores disponíveis. Outros estudos mostram que as diferenças podem chegar a 2.000 kg por hectare (para mais) quando a aplicação do fertilizante é realizada no sulco de plantio.


Erros frequentes

  • Aplicação de dose de K2O superior a 60 kg/ha na adubação de plantio do milho do milho;
  • Considerar o rendimento operacional da adubação como principal fator na determinação da melhor forma de adubação de plantio do milho;
  • Definição de doses dos fertilizantes sem considerar a análise química do solo;
  • Não utilizar fÓrmulas de plantio enriquecidas com micronutrientes;
  • Utilização de adubação fosfatada de plantio a lanço em solo argiloso, com baixa disponibilidade de P.

Recomendações

Devido ao elevado índice salino da principal fonte de K, o KCl (IS 116), associado à elevada concentração de Cl- (47%) e riscos de lixiviação de K, recomenda-se não aplicar mais que 60 kg/ha de K2O em solos com baixa CTC (< 10 cmolc dm-3) ou arenosos.

Caso a dose de plantio com K seja superior a 60 kg/ha, recomenda-se aplicar o adicional em cobertura junto com nitrogênio. A adubação com potássio também pode ser feita integralmente a lanço em área total no pré-plantio, porém, se a disponibilidade de K no solo for “muito baixa” ou “baixa”, é recomendável aplicar até 40 kg/ha de K2O visando atender ao elevado nível crítico inicial da cultura.

A adubação de plantio à lanço justifica-se apenas quando o teor de P no solo estiver elevado (boa disponibilidade), portanto o objetivo da fertilização é apenas para restituição das quantidades exportadas do nutriente.

Quando o solo apresentar baixa capacidade de fixação de P (muito arenosos), a viabilidade da aplicação a lanço do elemento aumenta, entretanto, há, em geral, necessidade de aplicação de maiores doses de P, até 50% superiores. Nesse caso, é importante avaliar a relação benefício/custo contrastando-se a economia financeira com o maior rendimento operacional da aplicação a lanço com o maior custo devido a maior dose aplicada.

A análise química do solo deve ser feita rotineiramente para dar suporte à recomendação de calagem e adubação para o milho. Caso o milho seja de safrinha, após soja, recomenda-se já coletar as amostras de solo a partir da maturidade fisiológica da soja (R7) para que haja tempo hábil de realização da análise química e planejamento do consumo de fertilizantes.

Havendo deficiência de micronutrientes no solo, a fórmula NPK de plantio deve ser enriquecida com esses elementos visando suprir a necessidade inicial do milho. A adubação de plantio com micronutrientes, como o Zn, é importante pelas razões já apresentadas no primeiro tópico.

Adicionalmente, se o solo tiver recebido calagem recente, sem incorporação do corretivo, é possível que nas camadas mais superficiais o pH esteja elevado (acima de 6,0), o que promoverá precipitação de Zn, Cu, Mn ou Fe, aumentando a necessidade de aplicação no sulco de plantio com esses elementos.

Custo

A recomendação das doses de adubos não será alterada pela forma de aplicação, assim, não há redução nos custos com os insumos que serão utilizados. É possível que haja ganhos com relação às operações com maquinários, mas isto deve ser avaliado pontualmente, pois é preciso considerar a especificidade de cada área, variedades, disponibilidade de maquinários, implementos e mão de obra.

Vale considerar, entretanto, que a distribuição do adubo junto com a abertura do sulco pode reduzir o custo com maquinário na área, além de contribuir para uma melhor conservação das condições do solo, principalmente evitando-se a compactação da camada superficial. Esse fato certamente vai facilitar a infiltração da água no perfil, o que é grandemente desejado.

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