Por Dra. Carla Portugal (Co-founder e diretora científica da Soil Domains, mentora e pesquisadora na Dr. Elaine’s Soil Food Web School)
A nova onda de revolução da agricultura vem sendo liderada pelas ações da agricultura regenerativa, que incorpora uma variada gama de ações, incluindo restruturação do solo através da recuperação da teia alimentar do solo.
Apesar deste movimento estar ganhando força nos últimos anos, Dra. Elaine Ingham é uma das pioneiras neste campo de pesquisa. Com mais de quatro décadas, e dezenas de artigos publicados com relevante index, Dra. Ingham continua na ativa, à frente da expansão do movimento da agricultura regenerativa.
Sua metodologia visa a recuperação da teia alimentar do solo, que constrói os micro e macro agregados, levando à restruturação do solo e retenção de água ao longo do perfil do solo, culminando com a ciclagem de nutrientes e aumento da saúde das plantas de modo geral.
Dra. Ingham profere sua paixão em suas palestras e aulas, traduzindo de forma clara todo o arcabouço científico envolvido na teia alimentar do solo. Pioneira na área, seu mestrado foi a primeira barreira a ser vencida. Ouvindo de seus mentores que no solo não havia vida, sua formação de microbiologista manteve sua curiosidade ativa, guiando sua pesquisa nos primórdios dos avanços científicos em torno da teia alimentar do solo. Seu doutorado, pós-doutorado e carreira acadêmica foram marcados por desafios, dos quais ela sempre enfrentou com dados científicos, comprovando a importância da teia alimentar do solo. Sua carreira sempre visou a difusão aberta do conhecimento de modo a guiar as ações no campo para o reencontro com a natureza.
Mas qual a conexão entre agricultura regenerativa e teia alimentar do solo? Dra. Elaine continua demonstrando que uma teia alimentar do solo saudável não só promove retenção da água no solo, habitat para os microrganismos benéficos, ciclagem de nutrientes, mas também permite a conversão de agricultura química para agricultura biológica, independente de fertilizantes, agrotóxicos, herbicidas e similares. Mas você deve estar se perguntando, como isso é possível? Uma teia alimentar bem estruturada no solo promove a conversão de nutrientes insolúveis para forma solúvel e absorvível pelo sistema radicular das plantas.
Esta conversão, aliada à ciclagem dos nutrientes dispersos na biomassa dos microrganismos, provem todos os nutrientes que as plantas precisam, mas somente quando a teia alimentar do solo está equilibrada e em sintonia com o sistema radicular. As trocas químicas, e o início da teia alimentar do solo, ocorrem à nível da rizosfera, onde as plantas absorvem os nutrientes solúveis carreados pelos fungos e bactérias, que em troca recebem os exudados (sua forma de alimento). As bactérias e fungos servem de alimento para os próximos níveis tróficos, onde os protozoários e nematoides avançam na ciclagem de nutrientes através do ciclo do cocô (poop cycle), carinhosamente apelidado pela Dra. Ingham.
O documento Soil Primer do USDA, do qual Dra. Ingham é co-autora, trata dos fundamentos da teia alimentar do solo, mas as pesquisas atuais da Dra. Elaine em sua empresa Soil Food Web Inc e sua escola Soil Food Web School, continuam os avanços nesta área em franca expansão. Em suas palavras, Dra. Ingham define a trajetória da agricultura como “precisamos trabalhar com a mãe natureza, e não contra ela”. Deixo você aqui neste momento, mas convido a retornar em nosso próximo artigo onde trarei mais detalhes sobre os sete princípios fundamentais deste intenso micromundo.