Ronaldo Silva – Engenheiro agrônomo e doutorando em Fisiologia e Bioquímica de Plantas – ESALQ/USP – aldeironaldo@usp.br
O cultivo de milho é de grande importância mundial quanto aos fatores econômicos e alimentares, muito em função da matéria-prima para produção de alimentos ou de combustível. No Brasil, a produção de milho é a segunda maior, sendo superada apenas pela soja.
Todavia, o início do seu cultivo no Brasil tinha como destino basicamente a alimentação humana, o que, ao longo do tempo, com o avanço da agricultura no território nacional, tornou-se a principal fonte de insumo na cadeia produtiva suína e de aves.
Hoje o Brasil, é o segundo maior exportador mundial de milho, tendo como principais importadores Vietnã, Irã, Coreia do Sul, Japão e Egito. À medida que o cultivo expandiu, também foi observado aumento da incidência de pragas e doença, destacando-se a lagarta-do-cartucho do milho (Spodoptera frugiperda).
Prejuízos à produção
A Spodoptera frugiperda é considerada a principal da cultura no milho, acarretando perdas à produtividade da ordem de 30 a 50%. Quando ausente de medidas de controle, esses danos podem chegar a 100%, fato que se deve à capacidade de a lagarta atacar todas as partes das plantas, provocando a redução drástica da atividade fotossintética, além da diminuição da área foliar.
Além de danificar as folhas, dependendo do grau de incidência, a lagarta danifica a espiga do milho, afetando diretamente a qualidade dos grãos. Outro fator agravante é que a lagarta pode atacar a planta desde a estádio de emergência até a formação das espigas. Dessa forma, o desenvolvimento das plantas de milho fica comprometido em função, principalmente, da atividade fotossintética da planta.
Sintomas
Entre os principais sintomas do ataque da lagarta-do-cartucho do milho estão: ocorrência de folhas raspadas ou com perfurações; presença de excreções das lagartas nas plantas; parte do cartucho do milho danificado, além de danos na espiga. Sob alta incidência é observado nível elevado de mortalidade das plantas logo após a germinação.
Formas de controle
Como forma de controle, é recomendável o monitoramento semanal da área de plantio, com objetivo identificar a quantidade de pragas, tendo como referência para adoção do tipo de medida de controle.
Dessa forma vale, ressaltar as diversas medidas de controle para obter menores índice de lagarta-do-cartucho no plantio de milho. Como medida preventiva, é recomendável o manejo de plantas daninhas, em função de que a eliminação delas reduz a possibilidade do ataque da lagarta nos estádios iniciais de emergência.
Outra forma de controle preventivo é a rotação de culturas, visando justamente o índice de infestação em função da variabilidade genética das espécies agrícolas, trazendo também como benefícios a redução do uso de inseticidas. O tratamento de sementes é outra importante medida de controle preventivo.
Já como forma de controle curativo, o uso das técnicas de controle biológico, principalmente a utilização das vespas Trichogramma durante a fase dos ovos da lagarta-do-cartucho, permite uma ação direta sobre a praga, bem como benefícios indiretos oriundos da interação com as espécies de parasitoides ou predadores, como tesourinhas, joaninhas e percevejos.
Além disso o uso de produtos comerciais à base Bacillus thuringiensis também é eficiente no controle da lagarta-do-cartucho. Outra forma de medida curativa é a aplicação de produtos químicos, que devem ser escolhidos a partir das características, eficiência e custo. O mercado nacional apresenta uma grande diversidade de produtos, e para a escolha é importante contar com o auxílio de um profissional capacitado.
Técnicas e produtos inovadores
A tecnologia Bt desenvolvida principalmente na cultura do milho é uma técnica que, a partir da introdução dos genes da Bacillus thuringiensis, as plantas de milho geneticamente modificadas expressam proteínas inseticidas a determinada espécie de insetos da ordem Lepidóptera, da qual faz parte a lagarta-do-cartucho do milho, broca-do-colmo, lagarta-da-espiga e lagarta-elasmo.
Erros e acertos
Entre os erros mais frequentes estão: não utilização do manejo integrado de pragas, o que vem a favorecer a quebra de resistência por parte da lagarta-do-cartucho; não utilização da prática de rotação de culturas, ocasionando o cultivo de milho por vários anos consecutivos e favorecendo a capacidade de sobrevivência durante o ciclo da lagarta; aplicação e manejo inadequado de produtos químicos, ocasionando a indução da quebra da resistência da praga.
Dessa forma, é recomendável a utilização de produtos com princípios ativos diferentes. Outro erros é o desrespeito ao vazio sanitário (período em que a lavoura deve ficar sem plantio); o cultivo com variedades de milho não tolerantes ao ataque da lagarta-do-cartucho; manejo não eficiente das plantas daninhas, promovendo a ocorrência de plantas hospedeira na entressafra, ou próximas à área de cultivo.
Recomendações
Em geral, o produtor deve realizar o monitoramento semanal, sempre se atentando ao uso de medidas preventivas, que em geral são de baixo custo, comparadas às medidas curativas. Dependendo do nível de intensidade do ataque da lagarta, é importante o uso de medidas curativas, que apesar de possuírem um custo mais elevado em comparação ao controle preventivo, são viáveis economicamente em virtude do nível de perdas que essa praga pode acometer a lavoura de milho, podendo ocasionar em perda total da produção.
Dessa forma, o mercado nacional apresenta uma grande variedade de produtos químicos e biológicos comerciais das mais variadas formulações, princípios ativos e preços de mercado, o que torna esta uma prática viável economicamente em função da relação custo-benefício.