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terça-feira, dezembro 10, 2024
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Alface romana em cultivo hidropônico: voltada para regiões mais quentes

Rafael Campagnol
Doutor em Fitotecnia e professor adjunto – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
rafael.campagnol@ufmt.br
Renes Rossi Pinheiro
Doutor em Fitotecnia e bolsista de Pós-doutorado – CNPq
renespinheiro@hotmail.com

A alface (Lactuca sativa L.) é uma planta da família Asteraceae, originária de climas temperados. É uma das hortaliças mais produzidas e consumidas no Brasil e no mundo. Em geral, as cultivares de alface se desenvolvem bem em climas amenos, com temperaturas entre 15 e 25°C.

O cultivo em temperaturas mais altas acelera o ciclo de crescimento e pode, dependendo da cultivar, resultar em plantas menores devido ao pendoamento precoce. No entanto, algumas cultivares, especialmente as desenvolvidas no Brasil, são mais adaptadas a climas quentes e são recomendadas para períodos ou regiões mais quentes, abrangendo grande parte do território nacional.

Características

As alfaces romanas têm folhas grossas e crocantes, com sabor e textura diferenciados, apreciadas por consumidores exigentes. Elas podem ser cultivadas em diversos sistemas de produção, mas devido ao seu maior valor agregado e ao público que, busca de qualidade, está disposto a pagar mais por isso, o cultivo em sistemas hidropônicos é mais indicado.          

Cultivar alface romana em sistemas hidropônicos em regiões mais quentes pode apresentar desafios específicos, mas, com as recomendações e práticas adequadas, é possível obter bons resultados.

A seguir, apresentamos algumas considerações e técnicas para reduzir os riscos e aumentar as chances de sucesso no cultivo hidropônico de alface romana em locais ou períodos com altas temperaturas.

Dimensionamento da estufa e do sistema hidropônico

Um dos principais desafios do cultivo hidropônico em regiões de clima quente são as temperaturas elevadas do ambiente, tanto do ar como da solução nutritiva. E uma das principais formas de minimizar esse fator limitante é o bom dimensionamento da estufa agrícola e do sistema hidropônico.

Erros técnicos de projeto podem dificultar sobremaneira os cultivos, especialmente em regiões ou períodos quentes do ano. Estufas bem dimensionadas, como pé-direito alto (pelo menos 4,0 metros) e estruturas que facilitem ou promovam a renovação do ar (janela zenital, ventiladores, nebulizadores e outros) são fundamentais para evitar o aquecimento excessivo do ar e, consequentemente, da solução nutritiva.

Garantir uma boa ventilação dentro da estufa, que promova a renovação do ar, além de evitar o aquecimento excessivo do ambiente, auxilia na prevenção de doenças fúngicas e bacterianas.

As bancadas hidropônicas devem ser bem dimensionadas para garantir um bom fluxo da solução e evitar o seu aquecimento, uma vez que ele ocorre principalmente quando a solução passa pelos perfis.

Assim, bancadas muito longas (maiores que 12 metros) ou com pouca declividade (menor que 5%) não são recomendadas para cultivos hidropônicos em regiões de clima quente, pois pode aumentar o tempo de permanência da solução no perfil e, assim, causar seu maior aquecimento.

Os reservatórios de solução nutritiva devem ser instalados em locais sombreados e bem ventilados, e seu dimensionamento deve ser adequado à quantidade de plantas que recebem a solução. Reservatórios pequenos aquecem mais rapidamente, e a incidência de luz solar sobre eles pode causar aquecimento excessivo da solução, além de aumentar a proliferação de algas.

Escolha da cultivar

A seleção da cultivar é um fator crítico para o sucesso do cultivo de alface romana em regiões de clima quente. É essencial optar por variedades que sejam mais tolerantes ao calor, pois elas foram desenvolvidas para manter sua qualidade e produtividade mesmo sob temperaturas elevadas.

Estas variedades possuem características genéticas que lhes conferem maior resistência ao estresse térmico, evitando problemas como o pendoamento precoce, que pode comprometer o tamanho e a qualidade das plantas.

Antes de iniciar o cultivo em larga escala, é recomendável realizar testes de adaptabilidade das cultivares em condições locais. Isso envolve plantar várias cultivares e observar seu desempenho em relação ao crescimento, qualidade e resistência a pragas e doenças sob condições de altas temperaturas.

Telas de sombreamento

Em regiões de clima quente, o uso de telas de sombreamento é essencial para o cultivo hidropônico de alface romana. Essas telas reduzem a incidência direta de luz solar, diminuindo a temperatura dentro da estufa e prevenindo o superaquecimento das plantas. Isso ajuda a evitar o estresse térmico e queimaduras solares nas folhas, melhorando a qualidade das plantas.

Além disso, as telas de sombreamento aumentam a eficiência hídrica ao reduzir a evapotranspiração, criando um microclima mais estável. Disponíveis em diferentes porcentagens de sombreamento, elas devem ser instaladas e manejadas adequadamente para garantir sua eficácia.

A integração com outros sistemas de controle ambiental pode otimizar ainda mais as condições de cultivo.

Controle da temperatura do ambiente

Mesmo com uma estufa bem dimensionada e o uso de telas de sombreamento, manter a temperatura ideal para o cultivo de alface romana (25 – 28°C durante o dia e 15 – 18°C à noite) pode ser desafiador em algumas regiões do Brasil ou épocas do ano.

Se o aquecimento do ambiente ainda estiver afetando os cultivos, o produtor pode empregar técnicas adicionais para reduzir a temperatura. A ventilação forçada, utilizando ventiladores para aumentar a circulação de ar, pode ajudar a remover o calor excessivo.

Sistemas de nebulização, que pulverizam finas partículas de água no ar, também são eficazes, pois resfriam o ambiente através da evaporação da água. Essas técnicas, combinadas com monitoramento constante das condições climáticas dentro da estufa, ajudam a manter um ambiente propício para o cultivo saudável das alfaces.

Controle da temperatura da solução nutritiva

Evitar o aquecimento da solução nutritiva é um dos maiores desafios do cultivo hidropônico de hortaliças, especialmente em regiões de clima quente. A temperatura ideal para a solução nutritiva no cultivo de alface hidropônica é entre 24 e 26°C.

Temperaturas elevadas (acima de 28°C) podem reduzir o crescimento das plantas e diminuir a concentração de oxigênio dissolvido, essencial para a saúde radicular, resultando em menor absorção de nutrientes e maior risco de doenças.

Quando a estufa agrícola e o sistema hidropônico são bem dimensionados, o resfriamento da solução pode ser evitado. Contudo, se a temperatura da solução se mantiver elevada por longos períodos, podem ser utilizados trocadores de calor ou torres de resfriamento.

O uso dessas técnicas deve ser bem avaliado, pois, além do custo de aquisição dos equipamentos, há um aumento do consumo de energia elétrica. Uma forma alternativa de reduzir os efeitos prejudiciais das altas temperaturas e que também auxilia na redução da temperatura é a oxigenação da solução.

Isso pode ser feito de forma simples, pela ramificação da tubulação que sai da motobomba e redireciona a solução para o reservatório, criando um turbilhonamento, ou com o uso de compressores de ar.

Essa oxigenação ajuda a aumentar o nível de oxigênio dissolvido e a dissipar o calor da solução nutritiva. Implementar essas práticas é crucial para assegurar um ambiente adequado para o crescimento saudável das plantas em sistemas hidropônicos feitos em regiões tropicais.

Manejo da condutividade elétrica

O manejo da condutividade elétrica (CE) é essencial no cultivo hidropônico, pois indica a concentração de nutrientes na solução nutritiva. A CE deve ser ajustada de acordo com a temperatura do ambiente, já que temperaturas elevadas aumentam a taxa de transpiração das plantas, exigindo uma maior disponibilidade de água em relação aos nutrientes.

Em climas quentes, a CE deve ser reduzida para evitar o acúmulo excessivo de sais, que pode causar estresse osmótico nas plantas. Por outro lado, em temperaturas mais amenas, uma CE mais alta pode ser mantida para garantir que as plantas recebam nutrientes suficientes.

A demanda transpiratória das plantas está diretamente relacionada à CE, pois uma maior transpiração aumenta a absorção de água, e um equilíbrio adequado de nutrientes é necessário para evitar deficiências ou toxicidade.

Ajustar a CE de acordo com as condições ambientais e a demanda transpiratória é crucial para otimizar o crescimento e a saúde das plantas em sistemas hidropônicos.

Controle da umidade

O controle da umidade do ar é fundamental em cultivos hidropônicos NFT, especialmente em regiões com altas temperaturas. Em estufas, a umidade adequada ajuda a prevenir o estresse hídrico nas plantas, evitando a desidratação e o murchamento das folhas.

Alta umidade pode favorecer o desenvolvimento de doenças fúngicas e bacterianas, como o míldio e a podridão radicular, prejudicando a saúde das plantas. Por outro lado, baixa umidade aumenta a transpiração, exigindo um maior consumo de água e nutrientes.

Manter a umidade relativa entre 50 e 70% é ideal para um equilíbrio adequado. Técnicas como a ventilação forçada e a nebulização podem ser empregadas para ajustar a umidade dentro da estufa, garantindo um ambiente propício para o crescimento saudável das plantas e reduzir a incidência de distúrbios fisiológicos como a queima das bordas da alface.

Manejo integrado de pragas e doenças

A temperatura do ambiente tem uma relação direta com a maior incidência de pragas e doenças. Em ambientes quentes, as condições são frequentemente ideais para a rápida reprodução e disseminação de diversas pragas e patógenos.

Nessas condições, o manejo integrado de pragas e doenças torna-se mais desafiador. É necessário um monitoramento constante, uso de controle biológico, ventilação eficiente, sombreamento e ajustes na irrigação para minimizar os riscos.

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