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Alternativas no manejo da ferrugem e cercosporiose em cafeeiro

Tais Santo DadazioEngenheira agrônoma, mestre e doutor em Agronomia/Proteção de Plantas e professora de Fitopatologia da FIB e do Unisalesianotais.dadazio@hotmail.com

Roque de Carvalho DiasEngenheiro agrônomo, mestre em Proteção de Plantas e doutorando em Agronomia – UNESP/FCA roquediasagro@gmail.com   

Leandro TropaldiEngenheiro agrônomo, mestre em Agronomia/Agricultura, doutor em Agronomia/Proteção de Plantas e professor de Plantas Daninhas – UNESP/Dracenal.tropaldi@unesp.br

Cercóspora em cafeeiro – Crédito Flávio Patrício

O café (Coffea spp.) é uma cultura de grande importância no cenário internacional, e o Brasil se destaca como maior produtor e exportador mundial. No entanto, alguns fatores podem afetar sua produtividade, dentre eles as doenças fúngicas, como a ferrugem (Hemileia vastatrix) e a cercosporiose (Cercospora coffeicola), que podem afetar a cultura em diversas fases e causar reduções de até 30% na produção.

Atualmente, o modelo predominante de manejo dessas doenças é a utilização de defensivos agrícolas, devido ao largo espectro de ação dos produtos e baixo custo das aplicações. Porém, com o passar do tempo esse modelo se torna insustentável, devido a contaminações ambientais, resíduos de defensivos acima do limite tolerado, contaminação do aplicador e seleção de genótipos de patógeno resistentes, o que vem causando reflexos negativos na produção e exportação do café. Assim, tem-se buscado alternativas que causem um menor impacto ao meio ambiente e que têm menor custo.

Fique de olho

A ferrugem é umas das doenças de maior importância da cultura, devido aos grandes prejuízos gerados e por estar presente na lavoura todos os anos. No Brasil, foi constatada em 1970 no Sul da Bahia em C. arabica, e após quatro meses a doença estava presente em todos os Estados.

Pode causar perdas de 35%,  em média, em que as condições são favoráveis, em condições de estiagem. Nos períodos de maior severidade, as perdas na produção podem chegar a 50%.

Os danos causados pela ferrugem são queda precoce das folhas e seca dos ramos, que em consequência, não produzem frutos nos anos seguintes. Em café conilon já foram relatadas perdas de até 47% no Espírito Santo.

Sintomas

Inicialmente, surgem manchas cloróticas translúcidas de 1,0 – 3,0 mm, observadas na face inferior do limbo foliar. Posteriormente, essas manchas podem se tornar marrons (necrose), com a presença ou não de um halo de coloração amarela (clorose), com 1,0 a 2,0 cm de diâmetro.

Na parte inferior da folha observam-se as pústulas, que constituem em elevação da epiderme da folha, onde os esporos são produzidos. Os esporos são a estrutura reprodutiva do fungo, e se caracterizam pela produção de uma massa pulverulenta de coloração amarelo-alaranjada.

Ocasionalmente pode atacar ramos em desenvolvimento e frutos ainda verdes. Um sintoma típico do ataque desse patógeno é a desfolha, que reduz o desenvolvimento e compromete a produção. Já quando a desfolha ocorre no florescimento, interfere no desenvolvimento dos botões florais e na frutificação, levando à formação de grãos anormais.

A disseminação da doença na área é feita principalmente pelo vento, que carrega esses esporos de uma área para outra ou de uma planta para outra, e pela água. Por ser um fungo biotrófico, não sobrevive nos restos culturais. Sua fonte de inóculo é representada por folhas infectadas, que quando produzem urediniósporos, o período de sobrevivência pode chegar a três meses ou mais.

Prejuízos

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Os principais prejuízos causados por essa doença são redução da área foliar, devido às lesões, e desfolha precoce, podendo causar seca dos ramos e deformação das plantas. Já a desfolha causa redução do florescimento, frutificação e perda do vigor, reduzindo, consequentemente, a produtividade e qualidade dos frutos.

Enquanto a cercosporiose é uma das doenças mais antigas da cultura nas Américas e no Brasil, a doença é amplamente disseminada e também é conhecida como “olho pardo”, “olho de pompa” e “manchas circulares”.

Seu primeiro relato do País foi em 1887, nas regiões altas do Espírito Santo, e em 1971 foram relatados ataques intensos da doença, causando prejuízos de até 30%. No Brasil, as plantas de C. arabica que estão em crescimento quase 100% apresentam sintomas da mancha de olho pardo, contudo, dificilmente ocorrem danos em plantas fertilizadas de forma adequada.

Plantas enfraquecidas são mais suscetíveis à doença, especialmente em áreas instaladas em solos mais secos, arenosos e com deficiência nutricional. É uma doença importante em cafezais expostos à luz solar ou com nutrição desequilibrada.

Para que a mancha de olho pardo não cause prejuízos econômicos à cultura, a incidência máxima da doença na época da colheita deve ser no máximo 10%. A época mais crítica de ocorrência geralmente é nos meses de dezembro a maio.

Condições para a doença

Em condições de viveiro, a doença pode ser severa, devido à intensa desfolha, especialmente se as mudas estiverem com desequilíbrio nutricional ou compactadas e mantidas em pleno sol, quando são mais suscetíveis ao patógeno.

Mudas formadas em viveiros onde já houve um histórico da doença podem ser atacadas nos estágios iniciais e ter o seu desenvolvimento afetado. Já em condições de campo, a doença pode causar prejuízos nas seguintes condições: em lavouras com deficiências nutricionais, onde são feitas aplicações intensas de fungicidas e inseticidas sistêmicos via solo por muitos anos, em lavouras que tomam muito sol no período da tarde e em lavouras com solo arenoso.

 O cafeeiro pode ser infectado em todas as fases do seu crescimento e desenvolvimento. O fungo ataca as folhas e frutos – nas folhas as lesões são circulares de 0,5 a 1,5 cm, de coloração pardo clara e centro branco acinzentado, com um anel amarelado ou arroxeado em volta da lesão, formando uma lesão semelhante a um olho, dando o nome popular da doença – mancha de olho pardo. No centro das lesões podem surgir pequenas pontuações de coloração escura que correspondem às estruturas reprodutivas do patógeno.

Uma vez que as folhas infectadas caem no chão, elas podem contaminar os frutos, proporcionando reduções na qualidade da bebida. Nos frutos as lesões podem surgir próximo à maturação, com pequenas lesões necróticas, deprimidas, de coloração marrom ou arroxeada, podendo atingir a polpa e afetando o despolpamento. A maturação também é acelerada, aumentando o número de grãos chochos e levando à sua queda prematura.

Alternativas para o controle

O manejo da cercosporiose deve se iniciar em viveiro de mudas e continuar no campo, especialmente se tiverem condições favoráveis para a doença. As medidas de controle envolvem especialmente medidas culturais, uma vez que a severidade da doença é resultante de deficiência nutricional, insolação intensa, solos pobres, baixa densidade de plantas por área e irrigação via pivô central. Já para ferrugem seu manejo convencional envolve principalmente o uso de variedades resistentes e fungicidas protetores e sistêmicos.

Contudo, devido aos problemas já abordados, tem-se buscado e optado cada vez pelos manejos alternativos da ferrugem e da cercosporiose, como o manejo nutricional e a aplicação de glucona de cobre.

Os nutrientes estão envolvidos em todos os mecanismos de defesa das plantas, sendo componentes de membranas, de enzimas e transportadores de elétrons, ou como ativadores, inibidores e reguladores do metabolismo. No cafeeiro, é de grande importância o manejo, pois plantas com maior produção geralmente sofrem um desequilíbrio nutricional, devido ao dreno de nutrientes das folhas para os frutos. Plantas com deficiência ou excesso nutricional geralmente são mais suscetíveis à ocorrência de doenças.

Dentre os produtos comercializados como fertilizantes foliares estão os fosfitos, que inibem o crescimento micelial e a esporulação dos fungos, além de agirem como indutores de reposta de defesa das plantas. Quando Costa (2012) testou o uso de formulações com fosfito e manganês, observou-se que elas promoveram um bom controle da ferrugem e da cercosporiose, com consequente redução da desfolha e aumento da produtividade.

O silício é outro nutriente importante para reduzir a incidência e a severidade das doenças. De acordo com vários autores, os silicatos de cálcio e magnésio promovem aumento da resistência à infecção, principalmente as causadas por fungos. Quando Botelho et al., 2005 aplicaram silício em mudas na dose de 0,60 kg de SiO2 por quilo de substrato, conseguiram redução do nível de infecção de cercóspora.

Já quando Carvalho et al., 2011 usaram argila silicatada, hidróxido de cobre, silício, calda viçosa e fertilizantes nitrogenados, em mistura e isolados, obtiveram bons resultados para redução da curva de incidência da ferrugem, quando intercalaram o uso de cúpricos com argila silicatada, reduzindo 57 e 75% nos dois anos avaliados, respectivamente. Além disso, a desfolha reduziu em 40%, quando comparada com a testemunha.

Já quando Máximo e Maciel (2009) avaliaram o efeito de diferentes concentrações de cobre em calda biofertilizante adicionada de micronutrientes para o controle da ferrugem e da cercóspora, o tratamento que se mostrou mais eficiente para o manejo da ferrugem foi a combinação de  0,5% de sulfato de cobre, com 10% de biofertilizante e micronutrientes.

Concentrações

Já para a cercosporiose, as concentrações de 0,125; 0,250; 0,375% de sulfato de cobre na calda, mais 10% de biofertilizante e micronutrientes foram as mais eficientes. Uma alternativa recente que surgiu para controle da ferrugem e cercosporiose foi o uso de glucona de cobre em substituição a outras fontes de cobre.

O glucona de cobre é um fertilizante à base de cobre, complexado com ácido glucônico, precursor de aminoácidos, indicado para correção de deficiências nutricionais. Algumas formulações podem também apresentar enxofre. É um produto aplicado via foliar, que se destaca por atuar em processos enzimáticos da fotossíntese. Além disso, o ácido glucônico pode estimular vegetativamente a planta.

Assim, esse produto tem uma ação dupla, atuando nas propriedades nutricionais e auxiliando no controle de doenças do cafeeiro, com registro para a cultura do café. O glucona de cobre substitui os hidróxidos convencionais. Além disso, com sua aplicação há relatos de um menor desequilíbrio de pragas e obtenção de maior renda para a cultura, provavelmente devido à ativação dos aminoácidos.

Quando Santiago et al., 2017, testaram esse produto em diferentes doses para o controle da ferrugem e cercosporiose, verificaram que o glucona de cobre é capaz de substituir os fungicidas cúpricos no programa fitossanitário de controle dessas doenças. Para a cercosporiose nos frutos, o glucona é superior aos fungicidas cúpricos. A dose que se mostrou mais adequada nesse estudo foi de 0,7 l/ ha.

Já quando Pereira (2018) testou diversas fontes de cobre para o controle da ferrugem, todos os tratamentos se mostraram eficientes na inibição dos esporos da ferrugem, exceto Cu-EDTA. O cobre quelatizado com glucona foi capaz de promover um controle de 62,6%, quando comparado com a testemunha.

Com base no que foi exposto, nota-se que produtos mais eficientes e práticas mais sustentáveis podem ser utilizadas no manejo dessas importantes doenças para o cafeeiro.

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