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Análises de solo e de folha – O sucesso para uma nutrição equilibrada e sustentável

Autores

Ronaldo Machado Junior
Engenheiro agrônomo, mestre em Fitotecnia e doutorando em Genética e Melhoramento – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
ronaldo.juniior@ufv.br
Diarly Sebastião dos Reis
diarly.reis@gmail.com
Felipe A. R. Gonçalves
felipe.a.agro@gmail.com

Dentre os diversos fatores que influenciam o crescimento e desenvolvimento das culturas, a disponibilidade de nutrientes é decisiva para obtenção de altas produtividades. Produção abaixo da esperada, muitas vezes está associada à utilização de solos de baixa fertilidade, ao suprimento e fornecimento inadequado de nutrientes durante o ciclo da cultura.

A fertilidade dos solos e a adubação são componentes essenciais para a construção de um sistema de produção eficiente. A disponibilidade de nutrientes deve estar sincronizada com o requerimento da cultura, em quantidade, forma e tempo.

Um programa racional de adubação envolve as seguintes considerações: a) diagnose da fertilidade do solo; b) requerimento nutricional da cultura; c) os padrões de absorção e acumulação dos nutrientes; d) fontes dos fertilizantes; e) manejo da adubação.

A reposição de nutrientes é essencial para a manutenção dos níveis de produtividade das culturas. Os nutrientes exportados através dos grãos ou de outras partes colhidas, e também os perdidos através de processos como lixiviação e escorrimento superficial devem ser repostos ao sistema de produção.

Conhecer as reais disponibilidades de nutrientes do solo e as necessidades da planta é pré-requisito para quem busca resultados acima da média. Estas informações são obtidas por meio das análises de solo e foliar e devem ser realizadas regularmente. As análises de fertilidade, além de terem um custo baixo, são consideradas o ponto chave para se obter uma lavoura com alto potencial produtivo.

A análise de solo deve ser o primeiro passo a ser dado quando se pensa no planejamento de uma safra. A falta de informação e até mesmo a informação incorreta, interferem diretamente no manejo e nos custos de produção. Pela análise de solo é possível diagnosticar a quantidade e disponibilidade de nutrientes, aproveitar e avaliar características físico-químicas, como a acidez e o teor de argila.

É importante ressaltar que a análise dos solos, ao contrário de outras análises, como a de tecido vegetal, não dá ênfase aos teores totais, mas sim aos teores disponíveis para as plantas.

Os solos apresentam diferenças em sua capacidade de fornecimento de nutrientes, dependendo da quantidade de reservas totais, dinâmica de mobilização e fixação e disponibilidade dos nutrientes para as raízes. Desse modo, é necessário quantificar, por meio de análises químicas e físicas, o potencial dos solos de fornecer os nutrientes e o futuro estado nutricional das plantas. Esta servirá como instrumento para o uso eficiente de corretivos e fertilizantes.

Além destes fatos, é necessário também levar em consideração os diferentes esquemas de rotação e sucessão de culturas que apresentam diferenças nas exigências nutricionais e reciclagem dos nutrientes pelas variadas culturas-componentes dos sistemas de produção utilizados nas propriedades agrícolas.

Como fazer

Para realizar a análise, primeiramente deve ocorrer a amostragem de solo. Ela é definida como a série de operações que permite extrair de um sistema de porções que, combinadas e reduzidas a tamanhos apropriados, dão uma parcela com características representativas do sistema. Cada uma dessas porções é chamada amostra simples e a combinação delas forma a amostra composta. Ela é importante porque a maioria dos erros totais nos resultados de análise de solo é atribuída à execução deste procedimento.

As etapas para a amostragem são: separar áreas uniformes (glebas); coleta de amostras simples; obtenção da amostra composta; empacotamento e identificação. Para definição das glebas é levado em consideração a topografia, textura, cor e condições de drenagem do solo, histórico de manejo e de produtividade agrícola e a cobertura vegetal natural.

Para a amostra simples é imprescindível o acerto na escolha do amostrador, pois este tem relação com a textura do solo e volume coletado. É ideal que se coletem 20 amostras simples/gleba, independentemente do tamanho da área, e que o caminhamento seja realizado em ziguezague. Após isto, é feito o destorroamento, homogeneização e secagem das amostras simples (amostra composta), empacotamento e identificação.

Ferramentas úteis

O sistema de amostragem comumente adotado (utilizando equipamentos como trado e pás de corte) na camada de 0-20 e 20-40 cm foi definido para sistemas com preparo (não localizado) anual do solo.

Assim, com os diversos tipos de equipamentos e formas de adubação/plantio, a forma de amostragem do solo deve ser criteriosamente analisada. A amostragem e análise do solo variam com a intensidade de adubação, exportação pela cultura e manejo.

Em culturas anuais, se for é feito um cultivo por ano, a análise deve ser feita a cada dois anos, e sendo dois ou mais plantios a análise deve ser realizada anualmente. Em culturas perenes, deve ser realizada antes do plantio e a partir da fase reprodutiva, com aplicação de fertilizantes, anualmente. Estas devem ser planejadas e executadas com no mínimo três meses antes do início do plantio, que é o tempo adequado para corrigir as irregularidades, por meio da calagem e gessagem, que são práticas simples e às vezes negligenciadas.

Análises foliares

Visualizar as condições químicas do solo, para prover um ambiente radicular adequado para nutrir a planta, é tão fundamental como analisar a necessidade de nutrição das plantas durante o cultivo.

Neste ponto, a análise foliar se torna a principal aliada do produtor, sendo uma das melhores técnicas disponíveis para avaliar o estado nutricional de plantas e orientar programas de adubação, junto com as informações advindas da análise de solo. Permite otimizar os seus recursos, adquirindo e aplicando apenas os nutrientes necessários para potencializar a produtividade.

A análise de folha também deve ser usada para diagnosticar ou confirmar deficiências nutricionais, particularmente onde os sintomas visuais são confusos, não visíveis, ou onde ocorrem múltiplas deficiências nutricionais.

Assim, a análise foliar pode auxiliar na detecção de distúrbios nutricionais e, com isso, auxiliar na definição de doses mais exatas dos fertilizantes na cultura. Os métodos mais empregados para interpretação dos resultados de análise foliar tem sido o Nível Crítico (NC), a Faixa de Suficiência (FS), o Sistema Integrado de Diagnose e Recomendação (DRIS) e a Diagnose da Composição Nutricional (CND).

A parte amostrada deve ser representativa da planta toda e o órgão preferencialmente escolhido é a folha, pois a mesma é a sede do metabolismo e reflete bem as mudanças na nutrição. É importante assegurar que as análises foliares sejam norteadas por procedimentos padronizados.

A fase de pré-florescimento é a mais indicada para amostragem, porém, análises mais frequentes são desejáveis para averiguação e ajuste de nutrientes durante períodos de crescimento ativo. Na prática, o terceiro e quarto pares de folha a partir do ápice em um galho primário ativo de plantas produtivas são mais comumente amostradas.

As amostras devem ser formadas por aproximadamente 100 folhas selecionadas aleatoriamente de 40 plantas dentro talhões homogêneos de 2 a 4 ha.

Coleta

Para a coleta das folhas para análise deve-se seguir a recomendação indicada para cada cultura. O ideal é que as amostras cheguem ao laboratório ainda verdes, no mesmo dia da coleta, acondicionadas em sacos plásticos, identificadas e transportadas em caixas com gelo.

Caso isto não seja possível, é aconselhável que as folhas sejam rapidamente lavadas com água corrente e enxaguadas com água filtrada ou destilada, acondicionadas em sacos de papel reforçados e postas para secar ao sol ou em estufa a 70°C.

A identificação da amostra deve conter o seu número, cultura, localidade, data da coleta, nutrientes para analisar e endereço para resposta.

Exigência nutricional

As culturas têm diferentes necessidades nutricionais. Assim, as análises de solo e folha devem também ser usadas para avaliar desequilíbrios nos níveis de nutrientes, tanto em quantidade quanto na proporção entre os nutrientes, e a aplicação destes deve ainda ser realizada em solo com pH previamente corrigido e descompactado. 

Os macronutrientes são os elementos requeridos em grandes quantidades pelas plantas, enquanto os micronutrientes são requeridos em pequenas quantidades e esta alternância se deve às diferentes funções que cada um exerce.

Os elementos classificados como macronutrientes são nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S). Já os micronutrientes são o cobre (Cu), zinco (Zn), manganês (Mn), boro (B), ferro (Fe), molibdênio (Mo), cloro (Cl) e níquel (Ni).

Todos esses elementos são classificados como essenciais, pois na ausência deles as plantas não completam seu ciclo. Existem também elementos não essenciais, mas considerados como benéficos, pois auxiliam o desenvolvimento das plantas. São considerados elementos benéficos sódio (Na), silício (Si) e cobalto (Co).

O requerimento nutricional varia diretamente com o potencial de produção. A extração de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e magnésio aumenta linearmente com o aumento na produtividade, e a maior exigência refere-se ao nitrogênio e potássio, seguindo-se cálcio, magnésio e fósforo.

Devido ao fato de culturas com maiores rendimentos extraírem e exportarem maiores quantidades de nutrientes e, portanto, necessitarem de doses diferentes de fertilizantes, nas recomendações oficiais de adubação para as culturas as doses dos nutrientes são segmentadas conforme a produtividade esperada.

Isso se aplica mais apropriadamente a nutrientes como nitrogênio e potássio, extraídos em grandes quantidades, mas também é valido para o fósforo e, de certo modo, para o enxofre. O conceito é menos importante para o cálcio e o magnésio, cujos teores nos solos, com a acidez adequadamente corrigida, devem ser suficientes para culturas com altas produtividades.

Recomendação

As recomendações de calagem e adubação baseiam-se no uso de tabelas manuais de recomendação. Embora estas sejam de indiscutível importância, elas trazem recomendações de adubação médias, utilizam como base principalmente o teor de nutriente no solo e não levam em consideração a produtividade esperada, época de cultivo e a cultivar.

Cabe destacar que entre as tabelas de recomendação, as mais usadas são a 5ª aproximação, Boletim Técnico 100 e diversos manuais de adubação e calagem disponíveis. 

Em razão da complexidade das relações solo-planta e de suas influências na disponibilidade dos nutrientes, estão sendo desenvolvidos métodos para recomendar corretivos e fertilizantes baseados no balanço nutricional que permitem classificar a situação de elementos em deficiência e/ou excesso.

Exemplos foram os sistemas Nutricalc e Ferticalc, que estão em aprimoramento pelo Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa. Este método tem sido utilizado em diversas regiões, podendo-se ressaltar o seu uso em culturas anuais (soja, milho, trigo, sorgo, algodão, dentro outras), bianuais (cana-de-açúcar, mamão, abacaxi, banana, pastagens, etc.) e perenes (maçã, eucalipto, uva, macadâmia, citros, café). Os resultados mostram-se promissores e o uso desta técnica tende a aumentar.

Em termos genéricos, podemos descrever o sistema pela seguinte forma:

Nut_fert = ((Nut_planta – Nut_solo) + Nut_sust)/Ef

Em que:

Nut_fert – nutriente a ser adicionado na forma de fertilizante;

Nut_planta – demanda do nutriente pela planta;

Nut_solo – oferta do nutriente pelo solo;

Nut_sust – demanda do nutriente para manter a sustentabilidade da exploração agrícola;

Ef – índice de eficiência de absorção, pela cultura, do nutriente aplicado como fertilizante.

Esse sistema se baseia nas doses recomendadas de nutrientes dos fertilizantes, que seriam a diferença entre a quantidade necessária para as plantas e o que é fornecido naturalmente pelo solo, considerando que se deve manter teores mínimos dos nutrientes no solo, evitando o esgotamento de sua capacidade de sustentação de futuros cultivos, além da necessária correção de acordo com o aproveitamento do nutriente aplicado na forma de fertilizante.

Em função deste balanço, se indica a necessidade, ou não, da aplicação de corretivos e fertilizantes. Para se chegar ao requerimento de cada nutriente pela planta, há necessidade de se considerar a taxa de recuperação pela planta do nutriente aplicado ao solo como fertilizante, pois esta não absorve 100% do nutriente aplicado, devido a perdas, competição entre plantas daninhas e retenção no solo.

BOX

Custo

As análises químicas de solo e foliar representam um valor ínfimo, quando comparados a todos os custos de produção. É importante ressaltar que ambas análises se complementam e em sistemas mais intensivos e tecnificados são imprescindíveis.

Foi realizada a cotação em cinco laboratórios, e os valores médios para análise completa (rotina + micronutrientes) de solo é R$ 43,00 e foliar R$ 50,00. A análise foliar, por ser mais tecnificada, possui um preço mais elevado que a do solo.

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