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Aplicação de boro: Com a soja se comporta?

Éder Jr de Oliveira Zampareder_zampar@hotmail.com

Bruno Maia Abdo Rahmen Cassim

Engenheiros agrônomos e mestrandos em Solos e Nutrição de Plantas – Universidade Estadual de Maringá (UEM)

Wagner Deckij KachinskiEngenheiro agrônomo e doutorando em Solos e Nutrição de Plantas – UEM

Priscila Angelotti ZamparEngenheira agrônoma e doutoranda em Proteção de Plantas – UEM

Soja – Créditos: shurtterstock

Com o aumento da demanda nutricional das culturas, o manejo de micronutrientes tem se destacado cada vez mais como ferramenta de aumento de produtividade na agricultura mundial, dando aos micronutrientes B, Zn, Cu, Fe, Mn e Mo um papel fundamental na nutrição mineral de plantas.

Sabe-se que os micronutrientes têm uma exigência menor que os macronutrientes, mas de forma geral todos são muito importantes, pois passam pelos critérios de essencialidade dos nutrientes. Segundo Arnon & Stout (1939), o elemento não pode ser substituído por outro dentro das suas funções na planta; o elemento deve estar diretamente envolvido no metabolismo da planta como um constituinte de um composto essencial, ou ser necessário para o funcionamento de um sistema enzimático; na ausência do elemento, a planta não completa o seu ciclo de vida.

Demanda

Levando em consideração a demanda dos nutrientes, os macronutrientes têm sua demanda na ordem de kg/ha, e os micronutrientes gr/ha, mas todos são extremamente importantes quando se deseja atingir o máximo potencial produtivo das culturas.

Isso já foi definido no passado e recebeu o nome de Lei do Mínimo, por Justus Von Liebig (1850), que diz que: “O rendimento de uma safra é limitado pelo elemento cuja concentração é inferior a um valor mínimo, abaixo do qual as sínteses não podem mais fazer-se”. De maneira sintética, mesmo em uma condição onde temos quase todos os elementos no seu nível adequado, se um elemento apresentar teores abaixo da demanda da cultura, essa produtividade será afetada pela falta deste único nutriente.

De lá para cá

Com a evolução das cultivares de soja, em que a maioria era de ciclo determinado e hoje boa parte é de ciclo indeterminado, tivemos um aumento na demanda de quase todos os nutrientes – entre esses nutrientes que aumentaram a sua demanda está o boro.

Em virtude das baixas dosagens empregadas, a aplicação uniforme nas lavouras pode constituir um problema para o manejo da adubação com micronutrientes, como era vista no passado, mas agora o fornecimento de micronutrientes agregados aos formulados NPK na adubação de base tem se tornado habitual, facilitando e melhorando a distribuição do nutriente a campo.

O boro é, hoje, um dos principais nutrientes que limita as produções de soja, e por se tratar de um micronutriente foi muito negligenciado no passado, mas hoje todos reconhecem sua importância na agricultura e a dificuldade do seu manejo no sistema.

Boro no solo

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No solo, o boro, de forma geral, pode ocorrer em cinco formas: minerais primários como turmalina (3% de B) e micas ricas em B; minerais secundários, principalmente dentro da estrutura das argilas; adsorvido às argilas, na superfície de hidróxidos e na matéria orgânica; em solução como ácido bórico e como borato; bem como na matéria orgânica e biomassa microbiana.

A turmalina seria o mineral de maior relevância para os solos ácidos de regiões úmidas. Outros importantes minerais de boro são: bórax, colemanita e ulexita. Ao contrário dos demais micronutrientes, há maior concentração de B em granitos do que em basaltos.

Para as plantas, a fonte mais importante de B no solo é a matéria orgânica, a qual, por meio de sua mineralização, libera o nutriente para solução do solo, ou seja, os microrganismos decompõem a matéria orgânica do solo, então esse B disponível para as plantas é liberado dos complexos orgânicos. Sendo assim, uma melhor atividade biológica do solo provavelmente melhorará a disponibilização de B da matéria orgânica.

Desafios

Um grande problema desse boro na solução do solo está atrelado à sua mobilidade no perfil, pois em solos mais arenosos pela ausência de cargas negativas, o boro da solução do solo fica mais propenso a sofrer a lixiviação, que é a sua descida no perfil do solo. Mas esse problema está, no geral, ligado à textura do solo e aos índices pluviométricos de cada região.

A fertilidade equilibrada do solo geralmente resulta em uma maior absorção de boro pelas plantas. O aumento resultante do vigor das plantas e do crescimento radicular permite maior absorção de B e de outros nutrientes. É por isso que os resultados dos testes do solo devem ser analisados com cautela e os nutrientes que forem secundários ou apresentarem deficiência deverão ser aplicados.

O pH do solo influencia na disponibilidade de boro no sistema. O elemento apresenta alta mobilidade no perfil do solo – na faixa de pH entre 5 a 9 está na forma de molécula não ionizada H3BO3, sendo muito lixiviado nessas condições de pH. Em pH superior a 9,2 ocorre a hidrolização do elemento, que passa de H3BO3 a H2BO4-.

O boro no solo também é influenciado pelo índice pluviométrico, pois em períodos de seca e estresse, as raízes das plantas são incapazes de se alimentar, pois a disponibilidade de elementos diminui, considerando que esses elementos precisam estar disponíveis na solução do solo.

Os teores de boro nos solos brasileiros geralmente são muito baixos, devido a sua alta lixiviação em algumas situações. Segundo o manual de adubação e calagem para o Estado do Paraná (2017) o nível alto de boro nos solos está entre 0,31 – 0,60 mg dm3.

Para o manual de adubação e calagem para os Estados do RS e SC (2016), o teor de boro considerado alto é acima de 0,3 mg dm3. Para Minas Gerais, segundo o manual de recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em MG (1999), o teor ótimo de boro está entre 0,61 – 0,90 mg dm3.

Fontes de boro

A principal fonte de B para as plantas advém da matéria orgânica do solo. Desta forma, os menores teores de matéria orgânica ou baixa taxa de mineralização, influenciados pelos fatores abióticos (umidade, temperatura e etc) e biótico (microrganismos) dos solos tem valores de concentração de B a níveis críticos, podendo não ser adequados para a nutrição das plantas.

O boro tem atuação direta em todo o desenvolvimento da planta, desde a síntese da parede celular até o elongamento celular, pois nas paredes celulares encontramos fibras de hemicelulose que são formadas por boro. Então, nesse caso, na parede celular ocorre a formação de um complexo de açúcar borato que apresenta ligações sisdiol, que estão presentes na hemicelulose.

Ação e reação

O boro tem atuação direta na produção de auxina, pois sem o suprimento adequado de boro ocorre o aumento da enzima AIA oxidase, que faz a degradação da auxina. Nas folhas, com a deficiência de boro ocorre o encarquilhamento, devido a um crescimento desuniforme, já que com a falta de auxina não ocorre a quebra das fibras de celulose e hemicelulose, para que a parede se alongue. Sem essa quebra ocorrem dobras nas folhas com deficiência, tendo assim o encarquilhamento delas.

O boro está ligado ao crescimento das raízes, já que a auxina, juntamente com o Ca, são os dois principais componentes da atividade do meristema apical das raízes, pois sem o boro não temos auxina. Ela atua ajudando as células da região meristemática a se dividirem e se alongarem para que comece a haver a formação de pelos absorventes.

O boro, além de tudo, está ligado à viabilidade do grão de pólen e crescimento do tubo polínico. Pesquisas mostraram que, em altas concentrações no estigma e estilete, o B proporciona a inativação fisiológica da calose por formar complexos borato-calose, aumentando o pegamento de flores e formação de grãos, diminuindo o número de vagens chochas, em culturas como a soja.

Além disso, o boro atua na retenção de vagens recém-formadas, na diferenciação, divisão e crescimento celular das plantas (Prado, 2008).


Resultados

Estudos de campo realizados pela Fundação MS, em Maracaju, durante as colheitas de 2016 e 2017, demonstraram que fontes de boro granulado fornecem um ganho de rendimento maior na colheita de soja em comparação com a ulexita granulada aplicada de forma equivalente em sulco.

O mesmo grupo de pesquisa descobriu que durante a colheita de 2017 e 2018, o boro granulado oferecia um ganho de 6,4 sacas/ha em comparação com o controle, quando aplicado em uma dose antes da semeadura de 7,0 kg/ha (1 kg/ha de boro). Houve melhores condições climáticas para o cultivo de grãos de soja durante a colheita de 2017 e 2018 em comparação com 2016 e 2017.

Raimundi et al., (2013) e Kappes et al., (2008) detectaram que os melhores resultados produtivos são encontrados quando a aplicação de B via foliar é realizada entre os estádios V6 a R5. Isso ocorre porque nesses estádios as plantas necessitam de maiores quantidades para a formação de legumes e enchimento de grãos.

Bellaloui (2014) relata que encontrou incremento no peso de 100 sementes mediante a aplicação do fertilizante B. Inclusive, os autores detectaram maior nodulação de plantas de soja nos tratamentos com aplicação do fertilizante, sendo que os autores relacionaram que o B possui efeito na massa de nódulos e na taxa de fixação de nitrogênio.

As respostas de aplicações foliares de boro precisam de mais pesquisas, afim de melhorar os parâmetros de comprovação da sua eficiência. O que se sabe é que o manejo conjunto e complementar é o que alcança melhores respostas.

Na divulgação de resultados de algumas empresas elas entregam resultados em que os incrementos da utilização do manejo complementar via foliar pode chegar de duas até 6,3 sacas a mais por hectare. 


Manejo de boro na soja

A demanda de boro pela soja gira em torno de 82 gramas por tonelada de grão, uma baixa demanda, por se tratar de um micronutriente, mas considerando a sua dificuldade de manejo, o suprimento dessa necessidade possui muitos entraves.

O principal problema prático de aplicação de micronutrientes no solo é quanto à dificuldade de distribuição uniforme, devido às pequenas quantidades empregadas. A aplicação direta no solo pode ser feita a lanço, antes das práticas de preparo do solo, ou em sulcos por ocasião do plantio.

O teor de B adequado no tecido foliar da soja situa-se entre 45 a 75 mg kg-1 (Estado do PR). Nas sementes de soja, quando o teor de B é inferior a 10 mg kg-1 a germinação é muito afetada, com alta porcentagem de plantas anormais. A germinação e a produtividade da cultura são normais quando as sementes tiverem mais de 20 mg kg-1 de B.

Atualmente, os produtores fazem o manejo de boro visando fornecer a demanda da cultura, tentando corrigir as deficiências no solo, almejando a construção de um perfil de solo com macro e micronutrientes, principalmente o boro. Isso tudo combinado com um sistema de rotação de culturas visando um aumento do teor de matéria orgânica da área, sendo esta a principal fornecedora de boro ao sistema.

Afim de melhorar a nutrição da soja e construir um perfil de solo rico em boro, os agricultores buscam um manejo combinado de boro na cultura, inicialmente utilizando fontes de boro via dessecação pré-plantio da soja, juntamente com os herbicidas. Outra opção, muitas vezes utilizadas pré-plantio, é a aplicação em área total de fontes granuladas de boro, ou até mesmo as duas formas juntas inicialmente.

Mantendo a ideia de fornecer o nutriente no decorrer de toda a cultura e construir o perfil de solo com boro, muitos utilizam formulados NPK com a presença desse micronutriente, visando que, com a emergência das plantas, suas raízes sejam bem supridas pela presença de boro no sulco de plantio.

A utilização do micronutriente no tratamento de sementes também é uma alternativa para adicionar esse nutriente no sistema. Outra ferramenta combinada ao manejo é a utilização de fontes de KCL com boro, e quando necessário a sua cobertura na cultura da soja.

O manejo foliar de boro nas culturas como a soja não é recomendado, devido à sua baixa mobilidade para os demais órgãos. Mas, assim como todos os demais nutrientes, a utilização da adubação foliar deve ser feita com o intuito de complementar o manejo de solo, e nunca com o intuito substitutivo.

Assim, aplicações foliares de boro na cultura da soja têm sido realizadas com certa frequência pelos agricultores, sendo esse manejo complementar com aplicações foliares que contenham boro em V3/V4, visando um melhor desenvolvimento e formação de parte aérea.

Aplicações em R1/R2 têm o objetivo de melhorar o pegamento de flores e viabilidade dessas flores pela sua atuação nos tubos germinativos, e em alguns casos com mais uma aplicação em R4/R5 visando melhorar o enchimento de grão pela sua atuação no transporte de açucares e lignificação.

Os resultados de trabalhos envolvendo o aproveitamento de micronutrientes pela planta variam de acordo com os teores disponíveis no solo, condições ambientais e o tipo de cultivar utilizado. Boaretto et al. (1997) alerta sobre a dificuldade de se remover o boro da cutícula foliar ou ligado na camada péctica da parede celular, e isso pode explicar o fato de muitos trabalhos não apresentarem correlação entre o teor de B na folha e a produtividade alcançada.


Atenção!

            ð Sempre realizar recomendações com base nos resultados apresentados na análise de solo, e se possível de tecido vegetal;

ð O manejo da soja para altas produtividades não depende apenas de um fator, mas sim de uma combinação deles, que quando feitos da maneira correta atingem o objetivo;

ð Utilizar as ferramentas de manejo disponíveis na nutrição com boro, sabendo da sua dificuldade de manejo;

ð O manejo da nutrição foliar deve ser realizado com o intuito de suplementar e complementar a nutrição de solo, nunca no intuito substitutivo;

ð O manejo da nutrição de plantas não é uma receita de bolo, pois cada propriedade é um caso, então, o melhor é realizar um diagnóstico específico para cada área e cada produtor.

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