Cristiane Neutzling
Doutora em Agronomia (FAEM/UFPel) e engenheira agrônoma – Maxxi Mudas
neutzlingcristiane93@gmail.com
A busca por inovação e tecnologias que proporcionem melhorias na qualidade de produção e no trabalho cotidiano de quem as executa está cada dia mais em pauta. A tecnologia está disponível diariamente em nossas mãos e precisa ser utilizada para trazer incremento na qualidade de vida e instigar as novas gerações na permanência no meio rural.
Em um breve contexto cronológico, ao pensarmos na cultura do morangueiro, até alguns anos, a instalação da lavoura era realizada no solo, com a utilização de mudas produzidas em viveiros locais. As cultivares predominantes eram os materiais de dias curtos. Entretanto, com o passar dos anos e a inserção de novas tecnologias, muitas modificações ocorreram.
A exemplo, temos a utilização de mudas importadas e a ampliação das cultivares de dia neutro, o que permitiu que o morangueiro fosse viável ao longo do ano praticamente em todas regiões do Brasil. Ainda, a adoção de sistemas de cultivo elevados do solo, os denominados cultivo sem solo e/ou cultivo em substrato favoreceram diversas questões.
Dentre elas, a ergonomia de trabalho do produtor, devido à possibilidade de manejar a cultura acima do nível do solo e a diminuição da incidência de pragas e doenças, principalmente relacionadas ao solo, uma vez que se eliminou o contato com o mesmo. Consequentemente, houve diminuição do uso de agrotóxicos, pelo fato de as plantas estarem em ambiente protegido.
Outra característica difundida no cultivo do morangueiro em substrato é a utilização dos slabs como recipientes de cultivo. Porém, nos últimos anos, houve uma forte tendência de migração para o cultivo em calhas. As calhas são caracterizadas por proporcionar maior durabilidade e praticidade, dependendo de menos mão de obra para substituição ou aumento do volume de substrato, que vai reduzindo com o cultivo sucessivo.
E por fim, a adoção de sistemas de cultivo sem solo instigou a utilização de materiais que anteriormente eram resíduos, passando a serem empregados como substratos, tais como a casca de arroz, pinus e a fibra de coco. E ainda, possibilitou a abertura de empresas para produção de substratos comerciais, diante da demanda e necessidade de materiais específicos para a cultura.
Não obstante, no que se refere ao cultivo de morango em substrato, a maioria dos sistemas comerciais de produção é realizada em “sistema aberto”. Ou seja, com drenagem livre. Esse tipo de sistema tem avançado de forma intensa, com domínio no Rio Grande do Sul. Entretanto, a inserção e crescente em outras regiões do Brasil vem se tornando uma realidade.
O sistema de cultivo aberto é aquele em que a solução nutritiva drenada pelo substrato não é coletada. Ou seja, é perdida diretamente para o solo, acarretando em desperdício de água e fertilizantes, além do impacto negativo ao ambiente. Dados levantados por pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas, do grupo de Cultivo Sem Solo (PPG SPAF), demonstram que ao considerar um abrigo de cultivo de 5 x 50 m, a perda diária de solução drenada é de aproximadamente 300 L, o que equivale à perda anual de 4,4 milhões de litros/ha-1.
Sustentabilidade em jogo
Embora, indubitavelmente, o cultivo em substrato apresente todos os benefícios mencionados, existe uma característica que está na contramão de uma menor contaminação ambiental e economia de insumos gerados. Em uma agricultura que busca cada vez mais a otimização dos meios de produção, a economia do agricultor e a preservação do ambiente, surge o sistema de cultivo fechado como alternativa, no qual se promove a coleta e a reutilização da solução nutritiva drenada.
A crescente do cultivo do morangueiro em substrato é evidente. Regiões do Brasil que apenas cultivavam no solo, aos poucos estão migrando para o sistema suspenso. E, como sabemos, no sistema em substrato já temos evoluções, onde produtores já trabalham com os sistemas recirculantes. A exemplo, temos o município de Pelotas (RS), pioneiro no sistema fechado. Estima-se que 24% do número total de plantas são cultivadas em sistema recirculante. Na serra gaúcha, alguns produtores também já estão utilizando o sistema.
Contudo, precisamos ter cuidado! A cultura do morangueiro é extremamente sensível à salinidade. Assim, ao definirmos mudar o sistema de cultivo, é preciso buscar informações, para que se cometa o mínimo de equívocos possível.
O que muda?
Precisamos estar atentos às modificações e aos cuidados que devem ser tomados. Nos sistemas abertos são indicados substratos com maior retenção de água, com a finalidade de realizar o menor número de regas possíveis para evitar o desperdício. Assim, comumente são usados substratos compostos por mistura de materiais que permitam uma boa aeração em combinação com composto orgânico, que geralmente possui como característica a maior retenção de água.
O sistema fechado, por sua vez, além das diferenças relacionadas à estrutura (sem livre drenagem, calhas não perfuradas), apresenta também a necessidade de declividade de 3 a 5% para forçar o escoamento do drenado até a cota mais baixa. Ali, deve ser incluído um sistema de captação e condução do drenado até o reservatório da solução nutritiva. E, através do acionamento do conjunto motobomba, o sistema de irrigação conduz a solução nutritiva até a cota mais alta e, por declividade, seu excedente retorna ao reservatório.
Ainda, o substrato utilizado deve ter como uma das principais características reduzida CTC, não sendo aconselhado o uso de composto orgânico em elevadas proporções, devido à tendência de salinização. Consequentemente, ajustes nutricionais devem ser realizados no sistema adotado. O monitoramento da solução nutritiva deve ser rigorosamente maior, pois, além da solução preparada, teremos o lixiviado excedente à planta no mesmo reservatório. Cabe ressaltar que o monitoramento da condutividade elétrica e pH são fundamentais.
Em evolução
Apesar dos inúmeros avanços, muito ainda precisa ser feito. Muitos equívocos básicos ainda ocorrem nos sistemas de cultivo aberto. Dentre eles, destaco a escolha do substrato, o manejo da água e da nutrição. Ressalto a importância de uma planta bem manejada, com a umidade do substrato ajustada, nutrição balanceada e monitoramento da EC e pH. Para avançar para o novo, precisamos conhecer e saber manejar o que já usamos.
A muda de morango precisa de condições ideais para seu pegamento, crescimento e desenvolvimento esperado. As mudas da Segóvia – Espanha e Patagônia Argentina acumularam elevadas reservas de carboidratos, que remetem ao seu excepcional desempenho a campo. Entretanto, uma boa muda precisa estar em um ambiente adequado para mostrar seu potencial.
Cada um faz sua parte
A cada dia novas ferramentas de trabalho que facilitam e trazem retorno econômico e sustentável estão disponíveis para serem acessadas e utilizadas. Cabe a nós, profissionais que se dedicam à agricultura, estarmos atualizados e saber transmitir da melhor maneira possível aos produtores o seu uso e qual o momento oportuno de inserção em cada propriedade. Necessitamos de aprimoramento constante para obtenção do sucesso.