Cristiane de Pieri
Bióloga e PhD em Proteção de Plantas – UNESP
pieri_cris@yahoo.com.br
Érika Cristina Souza da Silva Correia
Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia e professora – Centro Universitário Sagrado Coração (Unisagrado)
erika.correia@unisagrado.edu.br
Yerli Mira
Engenheira agrônoma e doutoranda em Proteção de Plantas – UNESP
dayana.taborda@unesp.br
As perdas ocasionadas por fitopatógenos em pós-colheita de hortaliças no Brasil pode chegar a 40%. Embora existam algumas variedades e cultivares de cenoura adaptadas às diferentes regiões do país e também a algumas doenças, ainda sim essa hortaliça sofre com o ataque de fitopatógenos, como viroses, bacterioses, nematoides e fungos, como alternária, cercóspora, Pythium sp., Rhizoctonia solani e o mofo cinzento (Botrytis sp.).
O mofo cinzento ataca diversas espécies agrícolas em todas as fases do seu desenvolvimento, ou seja, em seus estágios vegetativos e reprodutivos, sendo uma importante doença de pós-colheita.
Como sintomas típicos do mofo cinzento na fase de desenvolvimento, observam-se queimaduras foliares e pecíolos com escurecimento da epiderme em novas brotações; na fase reprodutiva, pontos negros são observados na superfície dos frutos e na pós-colheita formam-se manchas de coloração escura na superfície, que evoluem para o aspecto gelatinoso.
Em todos os casos, os tecidos afetados são cobertos por crescimento micelial de coloração cinza escura, o que dá o nome de mofo cinzento.
Controle
Hoje, na agricultura, são muitos os microrganismos utilizados no controle biológico de pragas e doenças. Dentre os microrganismos antagonistas estudados, encontra-se o Bacillus subtilis, uma bactéria gram positiva saprofítica, comumente encontrada nos solos, em ambientes aquáticos e ainda vivendo dentro de espécies vegetais (chamadas de endofíticas) ou na sua superfície (chamadas de epifíticas). É conhecida também como rizobactéria.
Sua versatilidade está em ser uma espécie utilizada tanto na prevenção quanto no controle biológico de doenças do fitoplano. Em pós-colheita, forma estruturas de resistência chamadas de endósporos, que permanecem viáveis sob condições edafoclimáticas e nutricionais desfavoráveis.
Possui, também, atividade de ação como indutora do crescimento vegetal, fazendo parte de um grupo de gêneros bacterianos, assim como os gêneros Pseudomonas, Azospirillum e Rhizobium (chamadas de rizobactérias promotoras do crescimento de plantas, as RPCP’s) em diversas culturas agrícolas.
Os modos de ação das RPCP’s na supressão de doenças podem ser por competição por espaço e nutrientes, com grande capacidade de colonização do sistema radicular, também por favorecer a indução de resistência na planta pelos seus metabólitos sintetizados (fitormônios), ativando o sistema de defesa da planta, aumentando o seu vigor e ainda pelo antagonismo, como exemplo, para estirpes de B. subtilis há a produção de antibióticos que possuem ação antifúngica e de algumas fitobactérias.
Ação
B. subtilis atua contra o ataque de fitopatógenos inibindo a aderência desses nas folhas, bem como na germinação de conídios e no desenvolvimento micelial, rompendo as membranas do micélio e do tubo germinativo.
Dessa forma, produtos à base de B. subtilis podem ser utilizados no manejo de diversas culturas com o objetivo de reduzir os efeitos causados pelos fitopatógenos e ainda promover o melhor desenvolvimento às plantas.
Há estudos que mostram o efeito da aplicação de B. subtilis contra o ataque de diversos fungos, bem como causador do mofo cinzento. Muitos são os resultados positivos utilizando B. subtilis no controle de doenças: Pythium sp. em alface; Pyricularia sp. em arroz; na ferrugem do cafeeiro, ocasionada por Hemileia vastatrix; em citros na podridão floral ocasionada por Colletotrichum acutatum; em bacterioses como a podridão negra em crucíferas; em cenoura para Alternaria dauci, entre outros tantos exemplos.
Em campo, há evidências em diversas culturas que mostram a eficiência do biocontrole de várias cepas da bactéria contra o mofo cinzento, com resultados positivos. Alguns estudos em hortaliças têm relatado controle da incidência do patógeno de até 70% em campo, com redução da severidade da doença entre 35 e 45%.
Todavia, não há relatos da existência de materiais de cenoura resistentes ao mofo cinzento. Até o momento, dentre as medidas de controle da doença, a prevenção é a mais eficiente, visto que após a instalação do patógeno na área, o controle se torna mais difícil.
Portanto, a aplicação de agentes de controle biológico, como B. subtilis, de forma adequada e nas condições precisas, é uma das melhores medidas que visam proteger as plantas do patógeno e uma ferramenta disponível para auxiliar o agricultor na luta contra o controle da doença em campo.
Recomendações
De modo geral, B. subtilis age positivamente interferindo na adesão do patógeno na planta, na germinação dos conídios e no seu desenvolvimento inicial. Portanto, a bactéria deve ser utilizada em pulverização preventiva, e principalmente quando as condições ambientais estiverem favoráveis ao estabelecimento da doença. São recomendadas aplicações entre 1,0 a 2,0 L/ha, segundo o estado de desenvolvimento da cultura e as condições locais.
Idealmente, a primeira aplicação deve ser feita na fase inicial da cultura, posteriormente, aplicações preventivas podem ser feitas com intervalos quinzenais. Recomenda-se usar a menor dose quando houver baixa pressão de inóculo e/ou condições climáticas menos favoráveis ao patógeno.
As aplicações do produto para o mofo cinzento devem seguir todas as indicações do fabricante, especialmente em relação à dosagem e preparação da calda, além de garantir uma cobertura uniforme e a correta penetração do produto nas plantas, no respectivo estado fenológico.
Em algumas situações, é possível que a atividade da bactéria esteja mais ou menos relacionada ao tipo de habitat e ao ambiente físico que ela irá colonizar, pois alguns fatores, como pH do solo, microbiota nativa, temperatura, mineralização do solo etc., podem influenciar o seu comportamento.