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Benefícios da iluminação artificial para o morango

A técnica aumenta o número de flores e frutos, consequente proporciona maior produtividade

Fábio Oseias dos Reis Silva
foseias@yahoo.com.br
Ramon Ivo Soares Avelar
ramon.avelar@epamig.br
Professores e pesquisadores – ITAP/EPAMIG

A iluminação artificial tem sido utilizada e integrada aos sistemas de cultivo protegido de morango suplementando a luz natural do sol, promovendo o aumento do comprimento do dia (fotoperíodo), a qualidade, o espectro e quantidade de luz que incidem sobre as plantas.

Sabe-se que naturalmente, o metabolismo das plantas varia em função do comprimento do dia e do espectro de luz disponibilizado para as plantas. Pensando nisso, algumas instituições públicas, privadas e muitos pesquisadores em áreas multidisciplinares têm feito incansavelmente pesquisas acerca desse tema com o intuito de melhorar produtividade e a qualidade de frutos produzidos.

Os parâmetros ligados à iluminação artificial são fundamentais quando se deseja obter maiores produtividades e qualidade no cultivo protegido de morangos. Dessa maneira, é possível oferecer a esta espécie condições adequadas principalmente no momento certo, no espectro certo de acordo com a fenologia do morango para que dessa forma ele possa “driblar” as condições climáticas desfavoráveis e como consequência dar condições ao morangueiro para que ele possa ser altamente produtivo e apresentar frutos com excelentes qualidades organolépticas.

Cultivo de morangos

Embora as pesquisas com iluminação artificial no cultivo do morangueiro no Brasil sejam relativamente novas, os resultados demonstram avanços no setor e têm apresentado diversos benefícios, dentre os quais, destacam-se aumento de número de flores e no número de frutos.

Em consequência, em alguns casos ocorrem também o aumento de produtividade.  De acordo com alguns trabalhos, isso ocorre devido ao aumento do fotoperíodo, sobretudo quando se utiliza determinada iluminação com espectro de ação que favorece a emissão de flores com aumento do número de frutos. 

Atenção

Mas atenção, tenha cautela!!! Alguns trabalhos mostram que alta produtividade nem sempre reflete alta qualidade física e química do fruto. Nesse caso, é preciso observar com critério os parâmetros que se deseja alcançar, como por exemplo o calibre ou categoria dos frutos produzidos.

Foi observado que a iluminação artificial com luz vermelha, azul ou a combinação de ambas favoreceu a produção de frutos maior calibre (1º categoria). Em contrapartida, verificou-se em outras pesquisas que também houve maior produtividade na presença da iluminação artificial, no entanto, não houve ganho no tamanho médio dos frutos, resposta essa que pode estar relacionada a competição pelo grande número de frutos proporcionado pela utilização da iluminação artificial.

Assim, vale ressaltar que é necessário fazer estudos com as diferentes cultivares com variações nos comprimentos de ondas e comprimento do fotoperíodo para as diferentes localidades, visto que, as respostas são muito variadas em função das características da região e das variáveis citadas.

Produtividade e qualidade das frutas

A iluminação artificial surge como grande aliada ao produtor, uma vez que ela proporciona grandes benefícios, sobretudo, alguns relacionados a produtividade e qualidade do morango.

Estudos realizados pela Embrapa Clima Temperado demonstram que principalmente no segundo ciclo de cultivo de morangueiros da variedade San Andreas, os parâmetros avaliados número de frutos por planta, massa de frutas por planta com iluminação das cores vermelha, azul e branca apresentaram resultados muito superiores quando comparado à luz natural.

Neste mesmo trabalho, o autor ressalta que os menores valores obtidos no cultivo com luz natural ocorreram em função do menor nível de luz neste tratamento e, consequentemente, há redução no florescimento, frutificação e produtividade.

Dessa forma, infere-se que a iluminação artificial e, consequentemente, o aumento da taxa fotossintética influencia positivamente no aumento do número de flores produzidas por planta em morangueiro.

Com relação às características químicas, os teores de sólidos solúveis podem variar como o que ocorreu no trabalho, no qual a luz branca e a vermelha influenciaram positivamente no parâmetro avaliado.

Tipos de iluminação artificial

Na maioria dos casos tem-se observado que as lâmpadas de LED de cores vermelha, azul e branca têm sido excelentes alternativas para utilização da iluminação artificial em morangos.

Contudo, é preciso ter coerência para se decidir qual a cor a utilizar, visto que, cada região apresenta condições climáticas inerentes ao local. Além disso, é preciso compreender também a fisiologia da variedade a ser cultivada.

Com essas informações em mãos, o produtor terá a possibilidade de compreender a quantidade e qualidade da luz a ser utilizada em seu cultivo. Diante disso, observa-se que a utilização da iluminação artificial em morangos não é tarefa simples.

Por outro lado, como pôde-se observar, resultados muito relevantes demonstram que a produtividade e qualidade de frutos de morango podem ser aumentadas com a utilização dessa importantíssima tecnologia que chegou ao campo e tem revolucionado o cultivo de morango.

Desenvolvimento das plantas

O ciclo produtivo do morangueiro é altamente influenciado pelo ambiente e pela cultivar escolhida para o local de produção, conhecida como interação genótipo-ambiente. 

Dessa forma, a temperatura e o fotoperíodo são fatores relacionados ao ambiente que determinam a produtividade e qualidade dos frutos. Com o uso da iluminação artificial é possível suplementar a exigência de luz de cultivares de morango de dias longos ou neutros no período do inverno, ou até mesmo estabelecer um programa de luz para o cultivo indoor.

Dessa forma, pode-se conferir quantidade (fotoperíodo) e qualidade da luz (espectro) para favorecer um bom desenvolvimento da planta ou até mesmo estímulos para o florescimento e produção em determinados períodos específicos para atender o mercado consumidor.

A cultura do morangueiro é altamente exigente em frio. No Brasil são comumente utilizadas cultivares de morango importadas dos EUA, com mudas produzidas na Espanha, Chile e Argentina.

As mudas advindas desses países contêm um sistema radicular bem formado e confere uma planta mais vigorosa no campo devido à condição de baixas temperaturas nas regiões produtoras que favorecem o seu desenvolvimento.

À medida em que a temperatura e o fotoperíodo decrescem, a atividade fisiológica da planta diminui até que esta entra em dormência, que só é quebrada quando atinge um determinado número de horas de frio.

O número de horas de frio necessário para se alcançar desenvolvimento e bons rendimentos é diferente para cada cultivar. Em geral, as exigências vão de 380 a 700 horas acumuladas (15 a 30 dias) de temperaturas entre 2 e 7°C. Contudo, outros estudos relatam de 100 a 1000 horas de frio.

Por outro lado, quando a temperatura e fotoperíodo se elevam cessa a floração e a planta apenas reproduz vegetativamente. Quando não se tem essas condições, a quebra da dormência pode ser realizada artificialmente com a vernalização das mudas em câmara fria.

Período de colheita

A cultura do morangueiro também é muito exigente em luz, com DLI (Daily Light Integral) quantidade de luz integral diária de 20 a 25 mols/m²/d-1, o que não se consegue em dias nublados ou chuvosos.

No cultivo com iluminação artificial, podemos ajustar o fotoperíodo com a Densidade de Fluxo de Fótons Fotossintéticos (PPFD) ou espectro de absorção pelas plantas na intensidade desejável para favorecer o desenvolvimento vegetativo e promover estímulos.

Por exemplo, para estimular o florescimento e a produção de estolões há uma melhor resposta no comprimento de onda azul (400 a 485 nm), enquanto para o desenvolvimento vegetativo é favorecido pelo comprimento de onda entre 625 a 740 nm (vermelho). 

Alguns trabalhos obtiveram melhor resposta em produtividade com o uso de luz artificial nas cores vermelha e branca no morangueiro em sistema de cultivo fora de solo. A utilização do espectro de luz vermelho (600 – 710 nm) em baixas intensidades (100 a 150 µmol m-2 s-1) induzem o florescimento sob fotoperíodo curto em cultivos protegidos, o que confere a produção fora de época e maiores produtividades.

As cultivares indiferentes ao fotoperíodo ou de dias neutros mantém uma produção regular durante o ano, sem picos de florescimento. Já para as cultivares de dias longos no período do outono/inverno nas regiões brasileiras em que a incidência de luz é reduzida, a planta entra em dormência, o que configura uma quebra de produção durante o ano.

Em geral, a produção inicia em aproximadamente 60 a 80 dias do plantio das mudas. Nos primeiros meses a produção é esporádica, atingindo um pico de produção e posteriormente reduz drasticamente.

Já no segundo ano, com a lavoura já estabelecida pode ocorrer mais de um pico de produção, com oscilações de produção ao longo do ano. Para as cultivares de dias curtos ou de produção tardia, a produção é reduzida drasticamente durante o verão.

Em regiões de clima frio, como no Sul do Brasil, a produção pode se estender por até seis meses, dependendo da condição nutricional, sanidade da planta, disponibilidade de água e sobretudo o fotoperíodo que regula a emissão de brotações florais.

Dessa forma, a iluminação artificial contribui para a produção fora de época com maior regularidade de produção.

Custo envolvido

Os custos para implementação do sistema de iluminação artificial para o cultivo do morangueiro dependem da estrutura e o nível tecnológico utilizado. Cada sistema possui uma particularidade, seja o ambiente de cultivo, o sistema de plantio e a fonte de luz (tipo de luminária ou LED) a ser utilizada.

O projeto de implantação pode apresentar uma variação muito grande de acordo com essas características e ainda se optar por recursos extras para otimização da produção, como softwares para ajuste dos espectros.

Em geral, apenas para implantar o sistema de iluminação está em torno de R$ 100,00 a 1500,00/m2. Esse custo é considerado ainda elevado, mas tem reduzido com o avanço da tecnologia e o surgimento de novos equipamentos. O investimento inicial pode ser otimizado com o cultivo em andares, principalmente no cultivo indoor.   

Estima-se que a suplementação com iluminação artificial resulta em um incremento de pelo menos 20% na produção de morangos. Alguns trabalhos relatam a possibilidade de adiantamento da produção de morangos em termos agronômicos com a utilização de LED, conferindo maior rentabilidade no cultivo em várias regiões podendo resultar em produção de até três vezes maior que na agricultura convencional.

Além disso, a suplementação com luz artificial com determinados espectros, associados à nutrição mineral principalmente com o incremento de potássio (K) na fase reprodutiva pode elevar os atributos de qualidade do morango.

A luz ultravioleta (UV) pode ser utilizada para o aumento da produção de antioxidantes e também no tratamento fitossanitário. Entretanto, a luz monocromática vermelha combinada com a luz UV pode resultar em problemas fisiológicos. Dessa forma, a exposição à luz UV deve ser de forma isolada. 

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