27.6 C
Uberlândia
sábado, abril 20, 2024
- Publicidade -
InícioArtigosFlorestasBrasil precisa reduzir burocracia e taxas para dar impulso ao reflorestamento com...

Brasil precisa reduzir burocracia e taxas para dar impulso ao reflorestamento com espécies nativas

Análise mostra que adaptação de normas infralegais é fundamental para que o país cumpra seu compromisso de restauração e reflorestamento de 12 milhões de hectares até 2030

Floresta – Crédito: Shutterstock


O Brasil precisa reduzir a burocracia e taxas para conseguir acelerar e dar escala à restauração e reflorestamento de espécies nativas, mostra um novo estudo publicado hoje pelo WRI Brasil. Segundo o estudo, uma análise das legislações federal e em três estados mostra grande oportunidade para que produtores rurais e empresas possam investir silvicultura de nativas, com benefícios ambientais e econômicos.

A restauração de paisagens e florestas é considerada como uma das soluções para enfrentar a questão climática. Não por acaso, a ONU definiu o ano de 2021 como o início da Década da Restauração dos Ecossistemas. Para essa restauração acontecer, no entanto, ela precisa ser vantajosa para o produtor rural. A silvicultura de nativas pode permitir que esse produtor tenha retorno econômico a partir da comercialização de produtos madeireiros e não-madeireiros, e por isso é importante incentivá-la para acelerar o engajamento de pessoas na atividade.

O estudo analisou as legislações estaduais de Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo – regiões onde a recuperação florestal dependem mais da ação humana, em contraste com a Amazônia, onde ela pode ocorrer naturalmente – e contexto jurídico federal, incluindo o SINAFLOR, um sistema federal de gestão de florestas. A principal conclusão é que é urgente uma atualização desse quadro de regras que rege o reflorestamento no Brasil.

“A legislação florestal brasileira traz aspectos que incentivam o reflorestamento com espécies nativas, mas ainda com um olhar no passado, ou seja, parte do pressuposto que a exploração madeireira de florestas nativas se dá essencialmente pelo extrativismo, o que não é mais verdade, pois o reflorestamento já se provou uma atividade altamente produtiva”, explica Luciana Alves, especialista em restauração florestal do WRI Brasil e uma das autoras do estudo.

O efeito perverso dessas taxas sobre quem está plantando árvores para colher madeira foi comprovado mediante a análise de alguns cenários de plantios com espécies nativas de diferentes usos, considerando o marco regulatório federal e dos estados de Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo. Os resultados mostram que as taxas associadas a processos de cadastro, registros, declaração de colheitas e transporte têm forte impacto na viabilidade econômica da silvicultura de baixo investimento e de pequeno porte, tornando-se um fator impeditivo para a diversificação da produção de estabelecimentos rurais menores.

Já em cenários em que se considera a desoneração dessas taxas, o valor presente líquido renderia pelo menos o dobro do esperado com atividades convencionais. Rever a legislação pode ajudar a incluir o pequeno produtor neste novo ciclo de crescimento sustentável no campo. “O Brasil tem um grande potencial para expandir a plantação de florestas nativas”, diz Raul do Valle, diretor de Justiça Socioambiental do WWF-Brasil e um dos autores do estudo. “Mas, para tanto, precisamos ajustar nosso marco legal, simplificando e barateando procedimentos para uma atividade que gera não só benefícios econômicos, mas também ambientais. O estudo aponta alguns caminhos e, principalmente, mostra que não é tão difícil”.

Plantio e manejo de áreas restauradas

Na opinião dos autores, uma das formas de tornar a atividade florestal mais atrativa ao produtor rural é a possibilidade de gerar renda a partir do plantio e manejo sustentável de áreas restauradas. Plantações florestais com espécies nativas têm um papel importante na promoção de paisagens sustentáveis, pois podem produzir madeira e produtos florestais não-madeireiros, além de oferecer serviços ambientais de relevância para a sociedade, como sequestro de carbono, regulação do ciclo hídrico, recuperação de solos e conservação da biodiversidade. São, portanto, florestas multifuncionais. Com altas taxas de crescimento, essas florestas poderiam suprir, em um futuro próximo, boa parte das demandas doméstica e internacional nos mercados de madeira tropical.

O Brasil assumiu voluntariamente compromissos nacional e internacionais de restaurar e reflorestar pelo menos 12 milhões de hectares de florestas até 2030. O Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg) foi estruturado nesse contexto e traça estratégias para o alcance das metas. Uma delas é criar mecanismos eficientes que garantam o cumprimento da Lei de Proteção de Vegetação Nativa, com a recuperação de passivos de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reserva Legal (RL).

Estimativas indicam que há cerca de 19 milhões de hectares de passivo – ou seja, áreas irregularmente desmatadas nas quais a vegetação nativa precisa ser recomposta. Desse total, 11 milhões de hectares estão em reservas legais. Estudo do WRI Brasil mostrou que 39% das áreas degradadas da Amazônia e 46% das áreas degradadas do Pantanal têm alto potencial de regeneração natural. Mas em biomas mais fragmentados, intensivamente explorados ou mais vulneráveis à desertificação, como os casos da Mata Atlântica, do Cerrado e da Caatinga, menos de 10% das áreas desmatadas têm alto potencial regenerativo. Portanto, em muitos casos, será necessária uma ação efetiva de plantio. Ações efetivas de plantio tem custos altos associados, e a possibilidade de uso econômico dessas florestas podem custear parte da restauração, ainda mais se a atividade for desonerada de taxas que não contribuem efetivamente para o controle e gestão da atividade pelo estado.


Sobre o WRI Brasil
O WRI Brasil é um instituto de pesquisa que transforma grandes ideias em ações para promover a proteção do meio ambiente, oportunidades econômicas e bem-estar humano. Atua no desenvolvimento de estudos e implementação de soluções sustentáveis em clima, florestas e cidades. Alia excelência técnica à articulação política e trabalha em parceria com governos, empresas, academia e sociedade civil.
O WRI Brasil faz parte do World Resources Institute (WRI), instituição global de pesquisa com atuação em mais de 50 países. O WRI conta com o conhecimento de aproximadamente 700 profissionais em escritórios no Brasil, China, Estados Unidos, Europa, México, Índia, Indonésia e África.

ARTIGOS RELACIONADOS

Agrotins 2022: Coimma participa da maior feira agropecuária da região Norte do Brasil

Os controles são aplicados a ações de rastreabilidade e certificação, resíduos e contaminantes, qualidade e combate à fraude

Cafés do Brasil ocupa área de 1,82 milhão de hectares

Em nível mundial safra 2021/2022 está estimada em 164,8 milhões de sacas, sendo 53% de cafés

Compensação de emissão de carbono

Comprometida em equilibrar a sustentabilidade do negócio à proteção do meio ambiente ...

Eucalipto

O Estado de Minas Gerais, por sua história, localização e dimensões, reúne muitas ...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!