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Brusone do trigo – Atualmente o maior problema do trigo tropical

Autor

Maurício Antônio de Oliveira Coelho
Doutor em Fitotecnia/bolsista da FAPEMIG e pesquisador da EPAMIG
macoelho62@gmail.com

A ‘brusone do trigo’ é uma doença fúngica que pode manifestar-se nas folhas, no caule e na espiga do trigo, onde promove os maiores danos econômicos nesta cultura. Atualmente, são reconhecidos os fungos Pyricularia oryzae e Pyricularia graminis-tritici como causadores da doença.

Estes fungos encontram condições ideais para o seu desenvolvimento em ambientes onde as temperaturas mínimas são superiores a 15ºC, umidade relativa do ar acima de 40% e período de molhamento das superfícies onde crescem superior a 10 horas.

As temperaturas em torno de 25ºC são consideradas ideais para a multiplicação do fungo e manifestação da doença. Estas condições ambientais são predominantes até final de março nas regiões tropicais do Brasil, abrangendo parte dos Estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás, Distrito Federal, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e a região norte do Paraná.

Em algumas regiões da Bahia, Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal essas condições podem avançar para os meses de abril e maio. Nestes ambientes tropicais, as precipitações pluviométricas reduzem drasticamente após os meses de abril, fator que obriga os produtores a realizar a semeadura na época mais favorável à brusone.

Além do clima favorável, a pesquisa ainda não disponibilizou aos produtores cultivares resistentes, embora haja diversos estudos em andamento sendo desenvolvidos pelos órgãos de pesquisas governamentais (Embrapa Trigo, Universidade Federal de Viçosa, Universidade Federal de Passo Fundo, EPAMIG, entre outras) além das ações da iniciativa privada.

Essa convergência de fatores, quais sejam, clima favorável à doença, ausência de cultivares resistentes no mercado e, principalmente, frustrações de safra ocorridas em anos com alta incidência de brusone, impedem que o avanço da cultura do trigo no Cerrado ocorra de forma mais contundente.

Danos

A brusone do trigo promove grandes prejuízos quando a penetração do fungo ocorre na ráquis da espiga (eixo central da espiga de trigo), impedindo a translocação de água e nutrientes acima do ponto de entrada do fungo. Ocorre a formação de um halo claro, com bordas escuras e um centro preto.

A consequência promovida pela entrada do fungo na ráquis da espiga do trigo será a presença de grãos chochos e malformados. No campo, dependendo das condições ambientais favoráveis, poderão ocorrer várias infecções numa mesma espiga, promovendo diferentes graus de chochamento dos grãos.

As espigas com brusone podem ser facilmente reconhecidas no campo, na fase do espigamento antes da maturação do trigo, onde visualizam-se espigas com diversas porcentagens de branqueamento.

 Quando a incidência da brusone ocorre no início do enchimento dos grãos de trigo, fatalmente proporcionará redução no peso do hectolitro, de rendimento e na qualidade tecnológica do grão. Considerando que nenhum controle seja feito, a magnitude dos prejuízos causados aos produtores dependerá das condições ambientais favoráveis, da porcentagem de incidência no campo, da severidade com que as espigas são acometidas e da tolerância da cultivar utilizada. Em anos favoráveis, 100% das espigas e dos grãos podem ser afetados.

Controle

Diante da atual inexistência de cultivares resistentes à brusone, algumas estratégias de controle e convivência com a brusone podem ser adotadas. A eficácia da medida de controle envolve aspectos relacionados com conhecimento técnico da doença, tecnologia de aplicação, tolerância de cultivares, época de semeadura, ciclo das cultivares e condições climáticas predominantes, principalmente entre os estágios ‘início do espigamento’ e ‘grão pastoso’.

Para os produtores de trigo, é fundamental que saibam que a brusone manifesta-se nas folhas, no caule e na espiga. Entretanto, o controle químico efetivamente deve ser realizado no início do espigamento, visto que os danos econômicos significativos são devidos à penetração do fungo na ráquis da espiga e posteriormente ao chochamento dos grãos.

Os produtores devem levar em consideração que o período de maior suscetibilidade entre o estágio ‘início do espigamento’ e de ‘grão pastoso’ tem a duração média de 30 dias (depende do ciclo da cultivar), o que demanda pelo menos três aplicações em intervalos máximos de 10 dias entre elas.

Como o início do espigamento do trigo na lavoura ocorre de forma gradual por vários dias consecutivos, há dificuldade em determinar a melhor época de se fazer a primeira aplicação. Em uma situação ideal, todas as espigas deveriam estar protegidas pelo fungicida utilizado.

Na prática, tanto em condições experimentais quanto em situação de campo, verifica-se que entre a primeira e a segunda aplicação ocorrerá a emergência de espigas que não são cobertas pela primeira aplicação. No sentido de eliminar essa a falta de proteção inicial de todas espigas no campo, alguns estudos preliminares avaliam a eficiência da primeira aplicação ser realizada no estágio do emborrachamento, com utilização de fungicidas sistêmicos.

Detalhes que fazem a diferença

Estudos coordenados pela Embrapa Trigo em parceria com instituições públicas e privadas do Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás vêm sendo conduzidos desde de 2011 com o objetivo de avaliar a eficiência de fungicidas para controle da brusone do trigo.

Em condições controladas no laboratório verifica-se que a maioria dos fungicidas recomendados alcançam alta eficiência no controle da doença. Entretanto, em experimentos conduzidos em condições de campo, a eficiência média dos fungicidas dificilmente supera 50% de controle.

Há fatores externos no ambiente que interferem na chegada e permanência do produto na ráquis das espigas, possibilitando a infecção pelo fungo. Durante a aplicação, diversas variáveis podem interferir na eficiência do controle: tipo de bico, vazão de calda, tamanho de gota, adição de adjuvantes, hora da aplicação, deriva, entre outros.

Não há, até o momento, nenhuma recomendação técnica definitiva. No entanto, o mais importante para aumentar a eficiência do controle da brusone do trigo é ter ciência que as ráquis das espigas devem ser protegidas pelo maior tempo possível entre aplicações, desde o início do espigamento (ou antes dele) até o início do estágio de grão pastoso. A doença também pode ser disseminada pela semente e, portanto, o tratamento das mesmas sempre será uma medida preventiva recomendada.

Resultados

Diversos trabalhos foram conduzidos enquanto outros estão sendo conduzidos com o objetivo de avaliar a tolerância das cultivares à brusone. Trabalhos conduzidos na Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) em 2017 e 2018 comparando 15 cultivares demonstraram diferenciação de tolerância entre elas.

Entre as mais cultivadas em Minas Gerais, as cultivares TBIO-Sintonia e BR-18 se destacaram como as mais tolerantes à brusone, a BRS-404 apresentou tolerância intermediára, enquanto a BRS-264 mostrou-se muito suscetível à doença.

Entre as estratégias possíveis de serem adotadas para convivência com a brusone do trigo no Cerrado, a época de semeadura deve ser levada em consideração pelos produtores. No seu planejamento, é fundamental que a semeadura seja feita de tal forma que possibilite o estágio de espigamento não ocorrer em períodos chuvosos com temperaturas altas.

O quanto deve-se retardar a semeadura dependerá do índice pluviométrico da região e da disponibilidade hídrica no solo, de tal forma que permita bom crescimento e desenvolvimento das plantas de trigo no campo.

Outra estratégia de convivência com a brusone do trigo pode ser a escolha do ciclo da(s) cultivar(es). Em casos onde seja possível efetuar a semeadura mais cedo, deve-se optar por cultivares com ciclo mais longo, pois possibilitarão o início do espigamento mais tardio, fugindo de temperaturas mais elevadas e índices pluviométricos maiores, desfavorecendo a incidência da doença.

As condições climáticas têm importância decisiva na incidência da brusone do trigo. Quando iniciamos os estudos da influência de fatores climáticos sobre a incidência da brusone, verificamos que as temperaturas teriam atuação decisiva sobre a manifestação da doença.

Regiões onde o trigo é cultivado em baixas temperaturas não são passíveis de brusone (de forma significativa), como é o caso do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sul do Paraná, Sul de Minas Gerais, entre outras. A partir desta constatação inicial, avaliamos a influência das temperaturas sobre a incidência e severidade de brusone em região favorável à doença.

Iniciamos, em 2013, estudos avaliando a incidência de brusone em semeaduras com intervalos semanais, a partir de fevereiro. Verificamos que há uma correlação muito alta entre redução de incidência de brusone com a diminuição da temperatura mínima diária.

À medida que as temperaturas mínimas baixam de 15ºC, a incidência de brusone cai para níveis insignificantes em termos de potencial para reduzir A produtividade e/ou a qualidade dos grãos de trigo.

Outro fator extremamente relevante é o período de molhamento da superfície – neste caso, a ráquis da espiga, de tal forma que permita a germinação do fungo no local. Estudos indicam que deve haver, no mínimo, 10 horas consecutivas de molhamento da superfície. Neste ponto, é importante salientar que, em experimentos de campo com irrigação, ou em regiões com inverno chuvoso, não ocorrerá brusone do trigo, desde que as temperaturas mínimas diárias estejam abaixo dos 15ºC.

Na região do Alto Paranaíba (MG) e no Triângulo Mineiro temos observado que semeaduras onde o espigamento do trigo ocorre a partir de meados de abril, a incidência de brusone do trigo reduz significativamente, coincidindo com temperaturas mínimas diárias abaixo de 15ºC. Outros fatores climáticos, tais como umidade relativa do ar, frequência e volume de chuvas, continuam sendo estudados.

BOX

Avanços

É fato que a pesquisa avançou de forma consistente nos últimos anos, visando compreender os aspectos genéticos e ambientais que condicionam a manifestação da brusone do trigo.

Entretanto, percebeu-se também que ainda existem muitos aspectos a serem elucidados, tais como: nível de sobrevivência do fungo na palha do trigo, potencial de disseminação pelos principais hospedeiros alternativos (principalmente as braquiárias) e pelas sementes contaminadas.

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