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Café com qualidade – Uma opção do cafeicultor

 

Renato Passos Brandão

Gestor Agronômico da Bio Soja

Crédito Cristiano de Oliveira
Crédito Cristiano de Oliveira

O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café, e possui uma das melhores e mais avançadas tecnologias para essa produção. Entretanto, o café brasileiro é reconhecido no mercado internacional como um produto de qualidade inferior, enquanto países como Colômbia, Costa Rica, Guatemala e Quênia são reconhecidos pela produção de café com melhor qualidade.

O segmento de cafés especiais tem alcançado grande destaque no mercado mundial, com maior crescimento na demanda do que os cafés comuns. Representa um nicho de mercado que deve ser explorado pelos cafeicultores brasileiros.

A qualidade da bebida do café está relacionada com a qualidade intrínseca dos grãos, expressando tudo que eles possuem em termos de compostos químicos que, após a torra, irão proporcionar aroma, sabor, acidez, doçura e amargor à bebida (GIOMO; BORÉM, 2011).

Entretanto, existe um diferencial no custo de produção dos cafés especiais em relação aos comuns da ordem de 11 a 20%. Há, também, um diferencial de preço, variável de 20 a 40%, podendo chegar a 100% em alguns lotes de café.

Fatores que influenciam a qualidade da bebida do café

A qualidade da bebida do café é influenciada por inúmeros fatores, dentre os quais, genéticos, ambientais, manejo nutricional, controle de pragas e doenças e os procedimentos na colheita e pós-colheita e suas interações. O foco deste artigo é a influência da nutrição na qualidade da bebida do café.

Manejo nutricional vs. qualidade do café

Normalmente, o principal objetivo da adubação no cafeeiro é o aumento na produtividade da cultura, principalmente em solos com baixa fertilidade. Entretanto, o manejo nutricional do cafeeiro é fundamental para a melhoria da qualidade da bebida do café e pouca atenção é dada pelos cafeicultores na interação entre a nutrição e a qualidade do café.

O nutriente, dependendo da fonte, pode desempenhar diversas funções no metabolismo da planta, determinando ou influenciando processos vitais. Um bom exemplo é o potássio (K), um dos nutrientes mais exigidos pelo cafeeiro, superado apenas pelo nitrogênio (N). Uma saca de café arábica beneficiada exporta, em média, 2 kg de potássio (K2O).

Este é considerado o nutriente da qualidade em nutrição de plantas. Entretanto, dependendo da fonte, os resultados da adubação potássica na qualidade do café podem ser decepcionantes.

Pesquisas com fertilizantes potássicos

Foi verificado, em diversas pesquisas, o efeito negativo do cloreto de potássio na qualidade do café. O sulfato de potássio e o nitrato de potássio são as melhores fontes de potássio, beneficiando os critérios de qualidade do café, tais como maior atividade da enzima polifenoloxidase (PFO), maior índice de coloração (IC) e menor acidez titulável total (ATT), parâmetros relacionados com a qualidade da bebida do café (CARVALHO  et al., 1994).

Os grãos do café que receberam elevadas quantidades de cloreto de potássio possuem maior teor de umidade. Consequentemente, ocorre maior infestação de microrganismos, favorecendo fermentações indesejáveis dos grãos, os quais acarretam acentuados prejuízos na sua qualidade (CHALFOUN, 1996).

A atividade da enzima polifenoloxidase (PFO) está correlacionada com a qualidade da bebida do café arábica (AMORIM; SILVA, 1968). Esta enzima é ativada pelo íon cobre, sendo que o cloreto inibe a sua atividade devido à interação ou reação com o íon cobre, propiciando uma redução na qualidade da bebida do café (FOX, 1991).

Crédito Miriam Lins
Crédito Miriam Lins

Dicas para café com qualidade

As lavouras de café mais produtivas e com melhor qualidade da bebida são as mais equilibradas nutricionalmente. O uso e o manejo dos nutrientes de forma equilibrada demonstram ser uma alternativa válida e eficiente na melhoria da qualidade dos grãos do café.

A redução da qualidade dos grãos do café pela aplicação de doses de K acima de 200 kg/ha de K2O deve-se, em parte, ao desequilíbrio na relação Mg:K nos solos, induzindo baixo índice de coloração dos grãos (SILVA; NOGUEIRA; GUIMARÃES, 2003).

O cafeicultor precisa realizar uma adubação equilibrada para evitar as deficiências e os desequilíbrios nutricionais que prejudicam a qualidade do café. Normalmente, as lavouras de café em solos com altos teores de potássio e baixos teores de magnésio são menos produtivas (Tabela 1) e produzem bebidas de pior qualidade. A aplicação de magnésio em solos com baixos teores do nutriente melhoram a qualidade do café.

Tabela 1. Efeito da adubação potássica na relação Mg:K do solo e na produtividade do cafeeiro.

Tratamentos

Teor dos nutrientes no solo, mmolc/dm3

Relação Mg:K no solo

Produtividade do café, sc. beneficiadas/ha

K

Mg

Ca

Testemunha, sem K

1,7

6

20

3,5

65,6a

100 kg/ha de KCl/ano

4,9

6

20

1,2

50,8b

200 kg/ha de KCl/ano

6,5

7

20

1,1

56,9b

400 kg/ha de KCl/ano

5,1

8

20

1,6

51,9b

Fonte: Matiello et al., 2004.

Monitoramento do estado nutricional do cafeeiro

O cafeicultor brasileiro está subutilizando as ferramentas de monitoramento do estado nutricional do cafeeiro. As lavouras de café com maior equilíbrio nutricional tendem a produzir cafés de melhor qualidade.

Além da análise de solo, o cafeicultor precisa utilizar a análise foliar para o monitoramento do estado nutricional do café e fazer os ajustes necessários para a minimização das deficiências e desequilíbrios nutricionais.

Considerações finais

A história do café no Brasil é marcada por sucessivas crises provenientes de superproduções e baixas cotações do café. Uma das formas para minimizar as perdas econômicas nos momentos das baixas cotações é a produção de café de melhor qualidade com maior cotação.

Entretanto, a melhoria da qualidade da bebida do café depende de investimentos em infraestrutura, equipamentos, manejo das lavouras, capacidade técnica dos colaboradores e uso de cultivares com maior potencial para a produção de bebidas de melhor qualidade.

A complexidade do conteúdo de uma xícara de café envolve muitos fatores, alguns incontroláveis ligados ao clima, outros controláveis, mas com ação mais abrangente, tais como manejo nutricional sustentável elevando a fertilidade do solo, manejo cultural, colheita, preparo, secagem, beneficiamento e armazenagem (AMORIM, 1979).

O manejo nutricional evitando os desequilíbrios nutricionais pode melhorar a qualidade da bebida do café. Além disso, devem-se utilizar preferencialmente fertilizantes isentos de substâncias que possam prejudicar a qualidade do café.

Entretanto, qualquer tentativa no sentido de melhorar a qualidade do café, via manejo nutricional, deve ser realizada, primeiramente, em pequenos talhões. Posteriormente, pode ser expandido para os demais talhões da propriedade.

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