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quinta-feira, abril 18, 2024
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Cafeeiro: Qual o momento correto de entrar com a calagem?

Autor

Bruno da Silva Moretti
Engenheiro agrônomo, doutor em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas e consultor em cafeicultura
bsmoretti@hotmail.com

É de amplo conhecimento entre pesquisadores, técnicos e profissionais envolvidos com agricultura que os solos brasileiros são, em sua grande maioria, pobres em nutrientes e naturalmente ácidos. Esta combinação é um dos fatores mais limitantes para o desenvolvimento de diversas culturas de interesse agronômico.

Apesar destas limitações químicas dos nossos solos, muitos desses problemas podem ser contornados com uma adequada calagem e adubação, prescritas por um engenheiro agrônomo. Em especial para a cultura do café, por ser uma cultura que permanecerá na área por muitos anos antes da sua substituição, a calagem pré-plantio tem uma importância ainda maior.

Entenda melhor

A calagem, para quem não tem familiaridade com o termo, é a prática de aplicar o calcário, na forma de pó, na área onde será implantada a cultura. Na cafeicultura, esta aplicação se dá na superfície e no sulco de plantio.

A calagem é a forma mais difundida, prática e econômica de realizar a correção da acidez e, ao mesmo tempo, suprir a demanda de cálcio e magnésio para o cafeeiro. Além disso, ela melhora o aproveitamento das adubações, aumenta a atividade microbiana no solo, acelerando a liberação dos nutrientes contidos na matéria orgânica, e aumenta a capacidade de troca de cátions do solo.

A raiz do cafeeiro pode ser dividida, basicamente, em duas partes, uma pivotante, que tem como finalidade principal a sustentação e absorção da água em maiores profundidades, e outra parte na camada superficial, até próximo de 20 cm da superfície.

Cerca de 80% das raízes mais ativas em absorver nutrientes se encontram nesta camada superficial e são estas as principais responsáveis pela absorção dos nutrientes. Estas raízes estão mais concentradas na projeção da copa do cafeeiro, porém, podem ultrapassar esta distância a ponto de encontrar com a raiz de plantas da outra linha.

Este fato, por si só, justifica a aplicação do calcário em área total, proporcionando ao solo uma condição mais favorável ao crescimento e desenvolvimento das raízes, uma vez que, além de neutralizar o alumínio toxico, o cálcio é um importante nutriente para formação da parede celular, o que proporciona um melhor desenvolvimento e resistência das raízes.

Dúvidas pertinentes

Como dito, as raízes superficiais representam cerca de 80% das raízes ativas, mas, e os outros 20%? E a raiz pivotante, que sustenta e busca água em maior profundidade? Devido a esses questionamentos, vem-se estudando formas de melhorar a qualidade do solo em subsuperfície, a fim de proporcionar às raízes condições favoráveis para o crescimento e desenvolvimento em profundidade. Uma dessas técnicas é a aplicação do calcário no sulco de plantio.

O aumento de raízes em profundidade pode trazer ganhos significativos ao cafeeiro, como maior resistência a veranicos; melhor aproveitamento da adubação, principalmente dos nutrientes mais facilmente lixiviados nos períodos de chuva; maior resistência física e até mesmo a pragas e doenças, já que uma planta melhor nutrida tende a ser mais resistente do que outra com deficiência nutricional.

Na dose certa

Quanto à dose, a forma básica de se calcular é a mesma para superfície, todavia, quando se calcula para a superfície, tem-se que considerar que as recomendações são padronizadas para uma camada de 20 cm. Assim, se o preparo do sulco será até 60 cm, a camada de 20 cm já será corrigida pela calagem superficial, então será necessário fazer os cálculos para a camada de 20 a 60 cm.

Recomenda-se, nesse caso, fazer três pontos de coleta de solo para levar ao laboratório de análise de solo, uma de 0 a 20 cm (para o cálculo da calagem superficial), e outras duas de 20 a 40 e de 40 a 60 cm, que serão usadas para a determinação da dose de calcário no sulco.

Deve-se prestar bastante atenção à determinação desta dosagem, pois tem-se que considerar que as fórmulas são padronizadas para uma área de um hectare (10.000 m²) e uma profundidade de 20 cm.

Assim, o cálculo da aplicação no sulco deve ser feito duas vezes, uma para a camada de 20 a 40 cm e outra para a camada de 40 a 60 cm. Supondo que o sulco tenha 50 cm de largura e o espaçamento entre linhas seja de 3,60 m, em um hectare terá cerca de 2.778 metros lineares (sem considerar áreas de passagem), o que representa cerca de 1.389 m², ou seja, cerca de 14% de um hectare.

Assim, se não forem tomadas as devidas proporções e o produtor aplicar a dose completa, pode cometer o erro mais comum nesta técnica – causar uma supercalagem e as consequências mais comuns serão a deficiência de micronutrientes e desbalanço nutricional.

Barreiras

Outro problema atrelado à aplicação de calcário no sulco é a forma de aplicação. Apesar de o cálculo ser feito para a camada de 20 a 60 cm (duas camadas de 20 cm), a distribuição ocorre de forma concentrada e, se não for homogeneizado, ocorrerá uma zona de supercalagem próxima de onde houve a concentração do corretivo.

Um equipamento que vem sendo utilizado na cafeicultura, apesar de ainda controverso e requerer mais estudos dos seus efeitos na estrutura de solos distintos, é o batedor de cova. Este equipamento trabalha acoplado a um trator e revolve o sulco de plantio, pulverizando e misturando o solo e os produtos que ali foram inseridos.

Visto isso, a calagem superficial e em sulco, quando requerida, é de suma importância para o bom desenvolvimento do cafeeiro. Além de controlar a acidez e fornecer dois importantes nutrientes, cálcio e magnésio, condiciona o solo para um bom desenvolvimento radicular.

Custo ou investimento?

Outro ponto importante referente ao uso do calcário é o custo. Trata-se de um produto que, no geral, tem um custo bastante baixo quando comparado aos demais tratos necessários para o desenvolvimento do cafeeiro.

Por exemplo, enquanto a tonelada de um adubo nitrogenado ou formulado chega a custar mais de R$ 1.500,00, a tonelada de um bom calcário, sem o frete, custa cerca de R$ 60,00. Como o Brasil tem uma boa distribuição da rocha calcária em seu território, apesar do frete no geral custar mais caro que o produto, o calcário ainda chega às propriedades rurais com um preço bastante acessível.

Por fim, cabe ressaltar que o calcário é a fonte mais barata para o fornecimento de cálcio e magnésio ao cafeeiro, que são nutrientes indispensáveis para um bom crescimento vegetativo e uma boa produção.

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