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CNMA inicia 9ª edição ampliando debate sobre os novos desafios globais das mulheres do agro

Divulgação

Com o tema “Mulher Agro Brasileira: Voz para o Mundo”, teve início, nesta quarta (23/10), a 9ª edição do Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio – CNMA, no Transamerica Expo Center, em São Paulo (SP).

A mesa-redonda de abertura “Mulher Agro Brasileira: voz para o mundo” contou com a moderação do embaixador Especial da FAO para as Cooperativas, Roberto Rodrigues, e contribuições da diretora de Negócios da ApexBrasil, Ana Repezza; da chefe da Coordenação-Geral de Gestão dos Adidos Agrícolas, Carolina Aquino de Sá; da presidente da Aprosoja Tocantins, Caroline Barcellos; da diretora Sênior de Assuntos Corporativos e Governamentais na Mondelēz Brasil, Maria Claudia Souza; do presidente da Cargill no Brasil, Paulo Sousa; e da presidente da Embrapa, Silvia Masshurá.

Roberto Rodrigues fez uma análise do cenário global atual, destacando a crescente desordem parlamentar e a perda de protagonismo das grandes organizações multilaterais, como Organização das Nações Unidas (ONU), Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e Organização Mundial do Comércio (OMC). Segundo ele, a falta de liderança dessas instituições cria um ambiente de incerteza, com países agindo individualmente, o que agrava a erosão da democracia e coloca em risco a paz mundial.

Rodrigues apontou, ainda, que essa conjuntura é marcada pelo que chamou de ‘quatro modernos cavaleiros do apocalipse’: insegurança ambiental, transição energética, mudanças climáticas e desigualdade social. Para ele, todos esses desafios afetam a população global e exigem uma solução urgente.

Nesse contexto, o Brasil tem um papel importante a desempenhar. O embaixador ressaltou o potencial do País em liderar uma nova era de desenvolvimento sustentável, com foco na região tropical, abrangendo América Latina e África. Ele destacou que a experiência brasileira em áreas como agricultura tropical pode ser replicada globalmente, dando ao País um papel de destaque na busca por estabilidade e paz universal.

A presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, refletiu sobre seus 35 anos de trabalho dedicados à pesquisa e gestão, enfatizando a importância da ciência para o desenvolvimento da agricultura no Brasil. Silvia abordou ainda a trajetória da Embrapa, desde sua criação, há 51 anos, e o papel fundamental da pesquisa científica para garantir a segurança alimentar e apoiar o crescimento sustentável da agricultura brasileira.

“Embora o foco inicial fosse garantir a segurança alimentar no País, a Embrapa evoluiu para se tornar uma referência mundial em tecnologias sustentáveis. Nosso atual desafio é avançar para uma ‘agricultura multifuncional’, na qual as lições aprendidas possam ser aplicadas para melhorar e inovar ainda mais”, disse a presidente.

Em sua apresentação, Silvia também destacou a importância da comunicação e da transparência sobre as práticas sustentáveis da agricultura brasileira, especialmente em resposta às críticas internacionais sobre o impacto ambiental. “A Embrapa tem grande foco em desenvolver tecnologias de baixo carbono, como a soja de baixo carbono, e práticas agrícolas resilientes que podem ser referência para a agricultura tropical”.

Silvia concluiu destacando o avanço da participação feminina na Embrapa. Ela mencionou que as mulheres em posições de gestão passaram de 10% para 40% nos últimos 15 anos, e na pesquisa também representam 40%, acima da média global de 30%. “Entre as ações voltadas às mulheres empreendedoras do agro, estamos investindo no ‘Observatório das Mulheres Rurais’, um projeto que visa apoiar políticas públicas e divulgar tecnologias agrícolas, além de iniciativas como a ‘Rede Embrapa Mulheres Rurais’ para promover o empreendedorismo feminino no campo”, destacou.

Participação das mulheres no comércio internacional

A diretora da Apex Brasil, Ana Repezza trouxe à tona a importância de aumentar a participação das mulheres no comércio internacional, destacando o papel fundamental da ciência e da promoção para o avanço do País. Ela ressaltou a necessidade de expor o que o Brasil é capaz de realizar e, mais especificamente, de incentivar as mulheres a se engajarem no mercado externo.

Ana destacou o programa “Mulheres e Negócios Internacionais”, iniciativa que visa capacitar e apoiar mulheres empreendedoras que desejam exportar ou ampliar seus mercados. Lançado em março de 2023, o programa já rendeu frutos e, recentemente, foi premiado pelo International Trade Center (ITC) – órgão vinculado à ONU e à OMC – pela sua abordagem de comércio inclusivo. A iniciativa busca corrigir a disparidade de gênero no setor exportador, no qual apenas 14% das empresas exportadoras brasileiras são lideradas por mulheres. No agronegócio, o número sobe para 16%, mas ainda está longe de ser ideal.

Para enfrentar esse desafio, a Apex Brasil adotou algumas medidas. Internamente, implementou uma política de equidade de gênero, garantindo que 50% dos cargos de liderança sejam ocupados por mulheres. Externamente, o programa “Elas Exportam”, parte do Mulheres e Negócios Internacionais, oferece mentoria para mulheres que estão começando a exportar ou que buscam aprimorar suas competências, tanto técnicas quanto socioemocionais.

A chefe da Coordenação-Geral de Gestão dos Adidos Agrícolas, Carolina Aquino de Sá, apontou o papel estratégico das representações internacionais para o agronegócio brasileiro e enfatizou a liderança feminina nesse projeto tão importante para o Brasil. “As adidâncias agrícolas são fundamentais para a defesa dos interesses brasileiros no exterior. Os adidos agrícolas passam por rigorosos processos seletivos, sendo servidores do Ministério da Agricultura e Pecuária com experiência no setor, fluência em idiomas e conhecimento técnico especializado”, detalhou.

Atualmente, o Brasil conta com 29 adidos posicionados em 27 países, atuando tanto em negociações bilaterais, especialmente no âmbito fitossanitário, quanto em fóruns multilaterais como a OMC, FAO e Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Pela primeira vez, 45% dessas posições são ocupadas por mulheres, o que representa um marco importante na igualdade de gênero no setor.

Essas adidâncias não se limitam à diplomacia comercial, mas desempenham também um papel político de destaque na representação do agronegócio brasileiro no exterior. “Recentemente, oito adidas brasileiras foram reconhecidas pela Forbes como algumas das mulheres que estão levando o agro brasileiro ao mundo, ecoando a potência do setor globalmente”, frisou Carolina.

A presidente da Aprosoja Tocantins, Caroline Barcellos, aproveitou o espaço para falar da importância das mulheres em sua família e o espaço que já havia sido aberto por sua avó, mãe e tia, permitindo que ela, sua irmã e cunhada pudessem hoje estar à frente dos negócios. Ela comentou sobre o desafio contínuo para ocupar cargos de liderança no setor, sendo parte de uma diretoria na qual metade dos integrantes são mulheres.

Em relação às dificuldades enfrentadas na produção de soja no Brasil, Caroline mencionou questões como o clima, instabilidades jurídicas e políticas que impactam o setor, ressaltando a importância de dar voz ao produtor e de comunicar a sustentabilidade do agronegócio brasileiro, que respeita o Código Florestal.

“Em recente viagem à China, me impressionei com o tamanho da população e da demanda por alimentos. Nesse cenário, o Brasil tem uma responsabilidade muito grande como fornecedor de alimentos, não apenas para o gigante asiático, mas para o mundo”, observou Caroline Barcellos.

Importância da indústria de alimentos

Destacando a importância do setor agrícola e a resiliência dos produtores e produtoras frente aos desafios e adversidades para continuar alimentando o mundo, a diretora Sênior de Assuntos Corporativos e Governamentais na Mondelēz Brasil, Maria Claudia Souza salientou que a luta agora é combater a desinformação e as fake news, que têm sido uma grande ameaça tanto para o agronegócio, quanto para a indústria de transformação de alimentos. “Apesar dos esforços para garantir a segurança alimentar e a disponibilidade de alimentos de qualidade, o setor enfrenta constantes acusações e desinformações”.

Maria também destacou que o setor industrial depende diretamente da produção agrícola para transformar os alimentos que chegam às mesas. Ela alertou para a ameaça da fome, que pode agravar conflitos globais e fez uma homenagem às mulheres, ressaltando o seu papel fundamental na alimentação da humanidade, desde o cuidado materno até a produção agrícola.

Encerrando o painel, o presidente da Cargill no Brasil, Paulo Sousa destacou a importância da indústria de alimentos como o maior comprador do agronegócio brasileiro, responsável pela aquisição de cerca de 70% do que o setor produz. Ele reforçou que, apesar da relevância do agronegócio, é a indústria de alimentos que desempenha um papel central na economia do País.

“Muitos dos produtos consumidos pela plateia, como óleo de cozinha e produtos à base de tomate e chocolate, estão relacionados à Cargill, que atua fortemente na comercialização e na fabricação de alimentos. Presente no Brasil há quase 60 anos, a Cargill está em 60 países e é atualmente a nona maior empresa do País em termos de faturamento”, comentou Sousa. “Nesse cenário, a empresa tem grande responsabilidade em relação aos desafios globais, mencionados por Roberto Rodrigues, e como o Brasil está preparado para suprir a crescente demanda mundial por alimentos, principalmente em regiões como o Sudeste Asiático”, complementou.

Paulo Sousa destacou o grande potencial da agricultura brasileira, ressaltando a importância das mulheres no setor. “Estamos em amplo crescimento da participação feminina na empresa e o sucesso da Cargill se deve, em parte, à cultura de valorização do talento individual, independentemente de gênero”.

Para a gerente de Desenvolvimento e Novos Negócios do Transamerica Expo Center e organizadora do CNMA, Renata Camargo, o evento se tornou um importante encontro para o setor, pois destaca o papel fundamental das mulheres no agronegócio. “Juntas, estamos moldando o futuro e mostrando a força e a resiliência femininas. Há nove anos celebramos as nossas conquistas, aprendendo umas com as outras e fortalecendo nossa rede de apoio”.

“O Brasil é hoje uma referência global em diversos setores, com destaque para o agronegócio. Para manter essa posição, é fundamental dialogar com o mundo. E é aqui que as mulheres do agronegócio desempenham um papel único. Sua empatia e capacidade de conexão são a base para alcançar nossos objetivos, pois elas sabem que o caminho para o cérebro passa pelo coração”, afirma o professor, sócio-diretor da Biomarketing e curador de conteúdo do CNMA, José Luiz Tejon.

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