Autores
Adilson Júnior Soares Alves
Graduando em Agronomia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
adilsonjralves13@gmail.com
Ricardo Alex Figueiredo Russo de Sá
Engenheiro agrônomo – UFLA
ricardo.alex.sa@hotmail.com
Atualmente, o mercado de fungos movimenta cerca de US$ 35 bilhões no mundo ao ano e a expectativa é de que este ramo deva crescer até 9% em 2023. Dados da Associação Nacional dos Produtores de Cogumelos (ANPC), o País possui uma produção média de 12 toneladas de cogumelos no geral, sendo duas toneladas de shimeji. Para se ter uma base, 1 bandeja de 200 g de shimeji é vendida ao preço médio de R$ 15,00.
A China lidera o mercado mundial de exportação, seguida pela Itália, Estados Unidos e Holanda. O consumo per capita no país asiático chega a oito quilos, sendo também o que mais consome do produto.
No Brasil, a média anual de consumo per capita é de apenas 160 gramas, e se comparado com a Itália, que possui uma média de 1,3 kg de consumo per capita, nota-se que o país está bem abaixo da média.
No atual momento, a demanda nacional é maior que a oferta, e por esse motivo o Brasil necessita importar de outros países, como a China. Um fato interessante é, que apesar de ser transportado de um país geograficamente distante, o produto chega ao Brasil com preço inferior ao do cultivado em território nacional.
A produção
O shimeji é cultivado em substratos como serragem de pinheiro ou eucalipto, que são contidos em pacotes de polipropileno (PP) ou polietileno de alta densidade (PEAD). Seu período de crescimento, que corresponde da semeadura à colheita, pode variar de 45 a 180 dias.
São necessários alguns cuidados específicos da cultura, como um galpão de câmara de cultivo contendo equipamentos de controle da luminosidade e umidade do local. Alguns fatores que também devem ser levados em consideração no planejamento são: custos de construção, espaço de maquinário, tamanho da estrutura que será montada dentro da câmara e também o espaçamento entre bandejas e/ou pacotes que serão utilizados no cultivo.
O cultivo axênico de cogumelos shimeji refere-se ao processo em que o substrato é esterilizado e enriquecido com nutrientes, permitindo que o fungo cresça sem competição e obtenha maior produtividade. Esse sistema permite o aproveitamento de diversos resíduos agrícolas propícios para a elaboração de substratos para cogumelos.
A técnica consiste em usar serragem de eucalipto misturada com outros ingredientes, como farelo de cereais (normalmente soja) e calcário, permitindo que o pH esteja ideal e com nutrientes que irão alimentar o fungo.
Deve-se prensar esta mistura em forma de blocos e autoclavá-las para eliminar quaisquer microrganismos que possam interferir na produção. Em seguida, são inoculados os micélios do cogumelo, popularmente chamados de “sementes”.
Sementes
A produção das “sementes” ocorre por meio de processos biotecnológicos em laboratórios de sementes. No laboratório ocorre a multiplicação do material genético já selecionado por meio do processo de clonagem. É necessário um ambiente totalmente estéril para que não haja nenhum contaminante – para isso se utiliza autoclave, câmara de fluxo laminar e álcool 70º.
O bloco, depois de inoculado, deve ser colocado em um saco plástico com filtro para permitir a respiração do micélio e evitar a contaminação. Depois destes processos, o bloco deve ser deixado por 90 dias em um local escuro, em temperatura média de 21 a 24ºC, e umidade entre 70% – 75%.
Após esse tempo, deve-se realizar a lavagem dos blocos com água corrente e então coloca-los em uma sala separada, na qual a temperatura deve variar de 14 a 20º C, e umidade sempre mantida acima dos 90%.
Além disso, não é recomendado que os níveis de CO2 atinjam taxas superiores a 1.500 ppm (parte por milhão). Dentre nove a 10 dias eles começam a ser colhidos e embalados.
Os blocos continuam produzindo, desde que sejam submetidos ao choque térmico. Eles são inundados em água gelada por cerca de seis horas, e assim o processo é iniciado novamente. Esse processo pode ser repetido por três a quatro vezes, e vale ressaltar que deve ser realizado de modo totalmente asséptico, sempre com equipamentos esterilizados, máscaras, luvas, toucas, etc.
Novidades
As formas de produção vêm evoluindo bastante. O cultivo no Brasil começou em toras de eucalipto, que além de ser um sistema que demandava grande mão de obra, demorava cerca de um ano para realizar a primeira colheita.
Atualmente, em algumas empresas a estrutura é toda feita de material chamado EPS, o qual permite bom isolamento térmico e grande facilidade de limpeza. Além disso, são utilizados condensadores, evaporadores e umidificadores que são controlados digitalmente para manter as condições ideais.
Fitossanidade
Nessa cultura, as principais pragas são moscas e roedores. Para que haja bom controle, deve-se manter as salas sempre fechadas, exautores com filtros, telas anti moscas e armadilhas para insetos, se possível. As principais doenças são de origem fúngica e bacteriológica.
Muitas espécies são contaminantes e a intensidade destes depende do manejo preventivo durante o ciclo. Dentre os fungos, destacam-se os chamados fungos verdes, como o Trichoderma spp., Penicillium spp., Aspergillus spp., e a bactéria mais comum é a Pseudomonas spp.
As vias de dispersão dos contaminantes são insetos, pelo ar, manipuladores, utensílios e equipamentos. Algumas medidas de controle são: limpeza e desinfecção adequada do ambiente, instalações, aparelhos e tudo que entra em contato com o bloco, higienização correta das mãos e uso de EPI’s.
Para que as perdas sejam mínimas na produção, é necessário reconhecer e tratar o fungo contaminante no estágio inicial, com raspagem e aplicação de álcool 70º, isolar os cogumelos contaminados, retirar partes que tiveram crescimento abortado e cortar os talos rentes durante a colheita.
Erros
Os erros mais comuns nesse tipo de cultura são contaminação do substrato, contaminação da “semente”, temperatura e umidade fora do padrão e erros de manejo (que vai desde a implementação e colheita até vazão do produto final).
As melhores formar de sanar esses entraves são: realizar treinamento dos colaboradores a fim de prepará-los para lidar com os desafios que o shimeji impõe, vistoria diária dos painéis de controle de umidade e temperatura; higienização adequada do ambiente, dentre outros.
Investimento x retorno
Em uma reportagem do portal de notícias G1, produtores do Rio Grande do Sul disseram que em um galpão com aproximadamente 200 metros quadrados, foi possível produzir até 300 kg de cogumelos frescos semanalmente e ainda, segundo eles, o volume pode representar renda de até R$ 4.000,00 por semana.
Tendo em vista a alta procura no mercado interno, o cultivo do shimeji é uma excelente alternativa para pequenos produtores que visam aumentar sua renda.