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Como combater as tigueras de algodão

Laís Sousa Resendesialresende@gmail.com

Jeisiane de Fátima Andrade

Jéssica Cursino Presoto

Engenheiras agrônomas, mestras e doutorandas em Fitotecnia – ESALQ/USP

Algodão – Crédito: José Lusimar

As plantas tigueras de algodão, conhecidas também como “plantas voluntárias”, são plantas provenientes de sementes de algodão que caem sobre o solo durante a colheita (perdas na colheita) e que emergem na safra seguinte, se tornando uma planta daninha. Quando essas plantas não são controladas corretamente, podem trazer problemas à próxima safra, principalmente quando se cultiva soja ou milho.

Outro problema recorrente no algodoeiro é o manejo das soqueiras. É importante diferir as tigueras de algodão da soqueira. O algodoeiro é uma planta com característica arbustiva e perene. Embora seja cultivado como cultura anual, após a colheita a planta sobrevive muito tempo, mesmo em condições de baixa temperatura e de baixo teor de água no solo, podendo rebrotar e continuar seu ciclo de vida. Esses restos culturais remanescentes na área são denominados de soqueira.

Danos causados pelas tigueras

Os principais danos causados pelas tigueras de algodão são a competição com água, luz e nutrientes com a cultura principal que está sendo cultivada. Além disso, as tigueras são fonte de alimento e abrigo para insetos e patógenos, os quais estarão em populações ou fonte de inóculo elevadas no início da próxima safra.

Ao se multiplicarem, essas pragas e patógenos migram para a cultura que está sendo cultivada ou para áreas vizinhas cultivadas com algodão infestando precocemente essas áreas. Por isso, o correto controle de tigueras traz benefícios para o agricultor proprietário e para os cotonicultores da região.

Daninhas e pragas

Algumas pragas comuns e problemáticas que podem se desenvolver em tigueras ou nos restos culturais são o bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis), a lagarta-rosada (Pectinophora gossypiella) e a broca-da-raiz (Eutinobothrus brasiliensis).

De forma menos comum, em relação às pragas, essas plantas também podem hospedar patógenos, como o fungo Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides (ramulose) e a bactéria Xanthomonas axonopodis pv. Malvacearum (mancha-angular).

Para o manejo do bicudo-do-algodoeiro, praga-chave na cultura do algodão, na maioria dos Estados brasileiros há legislação que regulamenta a obrigatoriedade da destruição dos restos culturais do algodoeiro após a colheita, de modo que seja respeitado o período de vazio sanitário.

Geralmente, a destruição deve ser realizada em até 15 dias após a colheita. Esse período varia de Estado para Estado devido às particularidade de cada região. Durante o vazio sanitário não é permitida a manutenção de plantas vivas no campo, oriundas da rebrota (soqueira) ou emergência de plantas voluntárias. Logo, é muito importante o correto manejo dessas plantas, seja por método químico, mecânico ou cultural.

Erros frequentes no controle de tigueras de algodão

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Após o cultivo de algodão, culturas como soja ou milho são comumente cultivadas na área, porém, para o estabelecimento de uma nova lavoura, se faz necessário realizar o controle rígido das tigueras de algodão.

No entanto, alguns erros básicos são cometidos e a tiguera de algodão se estabelece na área. Dentre eles, podemos citar a realização da colheita com colhedora mal regulada, que por consequência faz com que muitas sementes caiam no solo e germinem, se tornando uma planta daninha na área, denominada tiguera.

Em seguida, se faz necessário realizar manejos eficientes para o controle dessa planta na área, mas, por vezes, o estádio de aplicação ideal (pós-emergência inicial) é perdido, dificultando o controle dessa planta.

Ressalta-se, ainda, que é muito importante orientar o agricultor a rotacionar o mecanismo de ação, quando necessário, e controlar tigueras de algodão a fim de evitar a pressão de seleção para biótipos resistentes à molécula herbicida utilizada. Ao evitar eventualidades como as citadas anteriormente, minimizaremos o escape de tigueras de algodão na área.

Manejo cultural e mecânico

O manejo de tigueras de algodão pode ser realizado de três formas: por meio de métodos culturais, mecânicos e químicos, além da integração de ambos. Para o manejo cultural, realiza-se o cultivo de espécies em sucessão ao algodoeiro, auxiliando na supressão das plantas voluntárias de algodão oriundas de sementes deixadas no campo pela colheita, o que também pode auxiliar no controle da rebrota.

Além disso, também se busca realizar uma colheita eficiente com menor percentual de perdas, evitando que essas plantas voluntárias venham emergir na safra seguinte.

Embora a germinação do algodoeiro não seja tão dependente da luminosidade, o desenvolvimento da planta é extremamente sensível à falta de luz, fazendo com que a atividade fotossintética seja reduzida e, com isso, sejam abortadas as primeiras estruturas reprodutivas emitidas pela planta.

A soja é uma planta de rápido crescimento inicial, proporcionando o fechamento das entrelinhas e o maior sombreamento da área, podendo ser uma alternativa para o manejo das tigueras, além de expressar alto potencial para exploração, integrando os sistemas produtivos das propriedades.

Controle mecânico

O controle mecânico está mais voltado para o controle de soqueiras. Nesse tipo de controle pode ser realizada mais de uma entrada na área para a destruição, integrando uma roçada seguida de aplicações de herbicidas.

A destruição mecânica consiste no uso de roçadeira ou de triturador de restos culturais, com corte e trituração das plantas a uma altura entre 10 e 20 cm do solo. Essa operação tem como objetivo cortar ou fragmentar a parte aérea das plantas, de modo a propiciar melhor desempenho das outras estratégias sequenciais de destruição.

Controle químico

Antes do surgimento de plantas tolerantes aos herbicidas, o manejo de plantas tigueras era realizado principalmente com aplicações do herbicida glifosato nas culturas RR em sucessão, como o milho e a soja, desde que o algodoeiro não seja transgênico RR.

Entretanto, quando as cultivares são resistentes ao glyphosate, o uso desse herbicida na cultura em sucessão não controla os restos culturais ou plantas voluntárias de algodoeiro remanescentes, sendo necessário o conhecimento das características de outras moléculas para adotar novas estratégias, como seletividade, espectro de ação e intervalo de segurança para o plantio da cultura em sucessão, no caso de pré-emergentes, a fim de evitar efeitos de carry over.

Além das plantas voluntárias destes cultivos transgênicos de algodão, as áreas agrícolas enfrentam problemas relacionados à seleção de biótipos resistentes de plantas daninhas. Tudo isso nos leva a reduzir o leque de opções para manejar estas plantas tigueras, além de levar a perdas de tecnologias a longo prazo.

Para o manejo químico das tigueras de algodão no cultivo de soja, é recomendada a utilização do herbicida flumicloraque, com elevada eficácia e seletivo à cultura da soja. Além deste, também podem ser utilizadas as moléculas imazethapyr, cloransulam, chlorimuron ou fomesafen.


Carry over dos herbicidas

Geralmente, para a destruição de soqueiras de algodão são realizadas cerca de três aplicações sequenciais, com intervalo de 30 dias entre elas, quando se opta pelo controle químico da planta. Para esse fim, geralmente são realizadas as seguintes combinações:

1. 2,4 D + glifosato + glifosato (quando não resistente ao glifosato)

2. 2,4 D + 2,4 D + 2,4 D

3. 2,4 D + carfentrazone-ethyl + carfentrazone-ethyl

4. 2,4 D + saflufenacil + saflufenacil

5. 2,4 D + diquat + diquat

6. 2,4 D + diquat e diuron + diquat e diuron


Cuidados e carência

Alguns cuidados devem ser tomados em relação à cultura subsequente, para evitar o efeito carry over sobre a nova cultura a ser inserida no sistema. O carry over é o efeito indesejado de supressão da cultura de interesse econômico por meio de uma molécula herbicida utilizada na safra anterior, cujo efeito residual ainda está efetivo no solo, impedindo a cultura de crescer e se desenvolver sadia. Sendo assim, quando ocorre esse processo, perdas no rendimento final da cultura podem ocorrer.

Desta forma, quando o agricultor fizer uso do herbicida 2,4 D para controle de soqueira de algodão na safra anterior, esse deve esperar de sete a 12 dias para realizar a semeadura de culturas como soja e milho, e no mínimo 10 dias para realizar a semeadura da soja, quando aplicado saflufenacil, por exemplo.

Já o herbicida diquat é seletivo para a cultura da soja, quando aplicado em pré-emergência da cultura, no sistema de plantio direto. E o herbicida carfentrazone-ethyl é seletivo à cultura da soja, em pré-emergência da cultura.

Já quando usado o herbicida diuron, se faz necessário esperar no mínimo 60 dias para semeadura da soja. Em suma, o planejamento da safra não deve envolver apenas práticas de nutrição, fitopatologia e entomologia, dentre outras, mas também uma criteriosa análise de qual molécula herbicida utilizar naquele ano agrícola, pensando em não causar danos à segunda safra a ser instalada.

Para melhores resultados agrícolas, conte sempre com o auxílio de um(a) engenheiro(a) agrônomo(a).

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