Pedro Henrique Ribeiro
Consultor técnico – Agropecuária Irmãos Ribeiro
pedrohr03@gmail.com
Daniele Maria do Nascimento
daniele.nascimento@unesp.br
Marcos Roberto Ribeiro Junior
marcos.ribeiro@unesp.br
Engenheiros agrônomos e doutores em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP
As tigueras de algodão podem parecer inofensivas à primeira vista, mas são uma verdadeira dor de cabeça para os produtores. Elas não só comprometem a produtividade das lavouras, como também servem de refúgio para o bicudo do algodoeiro, um dos maiores desafios na cotonicultura.
Afinal, quem são elas?
Tigueras são as plantas de algodão que nascem espontaneamente dentro ou nas proximidades das áreas de cultivo, geralmente oriundas de sementes dispersas na colheita anterior.
Elas atuam como plantas daninhas e competem por recursos como água, luz e nutrientes, reduzindo significativamente a produtividade e a qualidade do algodão. Podem dificultar a colheita e aumentar os custos com herbicidas e mão de obra.
Além disso, servem como hospedeiros de patógenos que se multiplicam e alcançam grandes populações apresentando risco de dano econômico na safra.
Tigueras e o bicudo do algodoeiro
As tigueras são especialmente problemáticas na cotonicultura porque servem de habitat para o bicudo do algodoeiro, uma praga que ataca as cápsulas de algodão, prejudicando tanto a qualidade quanto a quantidade da produção.
Esse inseto se reproduz nas tigueras, dificultando seu controle e elevando os custos de produção devido ao aumento no uso de inseticidas e outras medidas de controle. Assim, uma gestão efetiva das tigueras é crucial para reduzir a população do bicudo e proteger as plantações de algodão.
Monitoramento de tigueras
O monitoramento eficaz das tigueras é essencial para prevenir danos antes que estes alcancem um nível economicamente significativo.
Dentre as técnicas mais eficazes, destacam-se as inspeções regulares, que são vitais para as áreas cultivadas e adjacentes. Estas devem ser intensificadas logo após a colheita e antes do plantio da próxima safra, períodos propícios para o surgimento das tigueras.
Outra técnica importante é o uso de drones equipados com câmeras RGB e multiespectrais, que capturam imagens das áreas de cultivo para análise e identificação precoce das tigueras, observando diferenças na cor e textura em relação ao solo ou outras plantas.
Além disso, o sensoriamento remoto e por satélite, por meio de imagens e software de análise, permitem monitorar grandes áreas e identificar variações na vegetação que sugerem a presença de tigueras. Este método é particularmente vantajoso para grandes produtores.
As armadilhas de feromônios também são úteis, especialmente para monitorar o bicudo do algodoeiro nas tigueras, atraindo os machos da praga e ajudando a identificar áreas problemáticas. Por fim, os relatórios de campo são cruciais, fornecendo informações em tempo real sobre o surgimento dessas plantas indesejadas.
Medidas preventivas
A prevenção é tão crucial quanto o combate direto. Medidas simples, como a limpeza de equipamentos de plantio e colheita, podem impedir que as sementes de tigueras se espalhem para novas áreas, evitando assim a germinação em locais e momentos indesejados.
A gestão adequada dos resíduos da colheita, seja pela incorporação ao solo ou pela destruição controlada, é outra prática fundamental que ajuda a eliminar as sementes remanescentes que poderiam dar origem a novas tigueras.
A rotação de culturas também desempenha um papel vital na prevenção das tigueras, pois interrompe o ciclo contínuo do algodão e, por consequência, o ciclo de vida das pragas e doenças associadas. Intercalar o algodão com culturas como milho ou soja não apenas reduz a emergência de tigueras, mas também beneficia o solo e a biodiversidade do ecossistema.
Outro método eficaz é o uso de coberturas de solo entre as temporadas de plantio. Essas coberturas competem com as tigueras por recursos vitais, como luz e nutrientes, e ainda trazem benefícios adicionais, como a melhoria da estrutura do solo. Controlar a irrigação para evitar excessos também pode desencorajar a germinação das tigueras em períodos críticos.
Além disso, a aplicação de herbicidas pré-emergentes pode ser uma linha de defesa importante, impedindo que as tigueras cheguem à superfície. É vital escolher produtos que sejam eficazes e seguros, seguindo rigorosamente as diretrizes de aplicação para evitar a resistência.
Métodos de controle
A remoção mecânica é uma ação no controle de tigueras, que pode ser realizada tanto manualmente quanto por meio de maquinários. Para grandes áreas, o uso de equipamentos como cultivadores e grades pode ser mais prático e econômico, embora sempre haja a preocupação de ajustar as ferramentas para evitar danos às culturas principais.
O uso de herbicidas específicos também apresenta uma solução poderosa para o controle de tigueras. Selecionar herbicidas que sejam efetivos contra tigueras, mas que tenham o menor impacto possível sobre as culturas de algodão e sobre o meio ambiente é essencial.
O uso de produtos de ação direcionada e a aplicação no momento adequado podem maximizar a eficácia e minimizar os riscos de resistência das plantas.
Estratégias de controle biológico também podem ser integradas ao manejo das tigueras. Utilizar agentes naturais, como alguns fungos ou bactérias que atacam especificamente as tigueras, é uma área em crescimento que pode oferecer uma alternativa ou um complemento aos métodos químicos.
É importante adotar, junto a essas ações, práticas agrícolas inteligentes e sustentáveis, como a rotação de culturas e o manejo adequado do solo.
Variações regionais no controle das tigueras
A presença das tigueras nas nossas plantações de algodão não é só uma questão de má sorte, mas tem tudo a ver com onde você está plantando e o clima que você enfrenta ao longo do ano. A dinâmica de emergência das tigueras varia significativamente em função desses fatores, impactando diretamente as estratégias de manejo adotadas pelos produtores.
Em áreas mais úmidas e quentes, as tigueras tendem a brotar com mais vigor. Isso acontece porque a combinação de calor e umidade cria o ambiente perfeito para essas plantas indesejadas prosperarem.
A escassez de chuvas pode retardar a germinação, mas as tigueras que emergem sobrevivem e se desenvolvem, aproveitando a umidade do solo conservada. Neste caso, a gestão da irrigação e o uso estratégico de herbicidas pré-emergentes, conforme indicado por estudos sobre manejo integrado de pragas, tornam-se ferramentas valiosas.
Além disso, a variação na incidência de tigueras influencia o tipo e a frequência dos tratamentos aplicados. Em regiões com emergência agressiva de tigueras, o uso de herbicidas seletivos e a implementação de técnicas de controle mecânico são comuns. Publicações recentes destacam a importância de selecionar herbicidas que minimizem o impacto ambiental, ao mesmo tempo que se mostram eficazes contra as tigueras, adaptando-se aos ciclos de cultivo do algodão local.
Manejo integrado de pragas
Para realizar o Manejo Integrado de Pragas (MIP) é essencial integrar as práticas citadas anteriormente, como o monitoramento constante da lavoura, aplicação controlada de herbicidas e inseticidas, e o possível uso de controles biológicos, como alguns agentes patogênicos específicos para tigueras e pragas que já são estudados e usados atualmente.
A rotação de culturas e a gestão cuidadosa dos resíduos agrícolas também são práticas culturais que complementam as técnicas mecânicas de remoção, reduzindo a pressão das infestações.
Essas medidas, adaptadas às condições do local e implementadas em harmonia, podem garantir eficácia no controle das tigueras, do bicudo do algodoeiro e outras pragas, garantindo uma produção mais econômica e sustentável.