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sexta-feira, março 29, 2024
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Como combater o Bicho-mineiro em cafeeiros?

Autores

Amanda Carvalho Penido
apenidoufla@gmail.com
Laís Sousa Resende
sialresende@gmail.com
Engenheiras agrônomas e mestras em Agronomia/Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Fotos: Laís Sousa Resende

O bicho-mineiro (Leucoptera coffeella) é considerado a praga de maior importância da cultura do café. O inseto possui metamorfose completa, ou seja, passa pelas fases de ovo, lagarta, crisálida e inseto adulto.

A mariposa possui cor branca (adulto) e deposita os ovos na parte superior das folhas do cafeeiro e, após um período de incubação, ocorre a eclosão das lagartas, que se alimentam das folhas causando lesões e galerias popularmente conhecidas como “minas”.

A fase da lagarta consiste no período de maiores perdas na lavoura, pois os danos causados por elas reduzem a capacidade fotossintética da planta e, em casos de alta infestação, podem causar alta desfolha em cafeeiros.

Após esse período, as lagartas abandonam o interior das folhas e deslocam-se preferencialmente para as folhas do terço inferior das plantas (saia do cafeeiro), tecendo um fio de seda onde farão um casulo muito característico na forma da letra “X” (crisálida).

Nessa fase ocorre a transformação em pupa, que após o período de encubação, transforma-se na mariposa (adulto). O ciclo evolutivo da praga varia de 20 a 90 dias, a depender das condições climáticas da região. Os hábitos do inseto são noturnos, ou seja, as mariposas ficam escondidas nas folhagens durante o dia e ao entardecer começam suas atividades.

O ataque da praga ocorre durante todo o ano, porém, se intensifica nos períodos mais quentes do ano, geralmente entre os meses de março a setembro. Em regiões cafeeiras com maior temperatura média, como no Cerrado Mineiro, o ataque é mais severo, pois o inseto completa seu ciclo mais rápido. O uso excessivo e irracional de inseticidas pode interferir no equilíbrio de inimigos naturais do bicho-mineiro, aumentando a incidência dessa praga.

Outros fatores que contribuem para a intensidade do ataque são as adubações desbalanceadas, responsáveis por deixar as plantas mais suscetíveis.

As áreas atingidas na folha pelo bicho-mineiro ficam necróticas e secas (mortas), com uma coloração marrom avermelhada. Pesquisas mostram que, dependendo da severidade da desfolha, pode-se chegar a uma perda de até 70% da produção de café.

Devido à praga afetar as folhas do cafeeiro, os prejuízos ocorrem devido à redução da fotossíntese e da área foliar e por meio da queda prematura das folhas, comprometendo a produtividade e a safra seguinte.

Monitoramento

É importante realizar o monitoramento do bicho-mineiro na lavoura para o cafeicultor tomar decisões assertivas e observar as áreas mais propícias ao ataque da praga. As lavouras devem ser visitadas com frequência, observando a presença de lesões nas folhas. Em viveiros e em lavouras novas o controle deve ser feito assim que a praga aparecer devido à pequena área foliar das plantas nessas fases.

Para isso, o cafeicultor deve dividir a propriedade em glebas homogêneas de até 10 ha e realizar a amostragem do tipo não destrutiva. Deve-se amostrar aproximadamente 25 plantas ao acaso por talhão. Em cada planta deve-se observar os sintomas da praga em quatro folhas localizadas no terço médio, entre o 3° e 4° par.

Em situações em que o nível de infestação está superior a 30% de folhas amostradas com minas intactas, ou seja, aquelas que possuem lagartas vivas, deve-se iniciar o controle.

Controle químico

O controle químico com o uso de inseticidas é o mais utilizado, pois oferece praticidade e rapidez no controle. Dessa forma, pode ser feito por meio da pulverização foliar e/ou da aplicação via solo.

O controle via foliar ocorre basicamente por meio da mortalidade das lagartas, dentro das minas nas folhas, embora alguns produtos possam acarretar também na morte parcial das mariposas (adultos). Desse modo, é importante que os produtos possuam ação sistêmica ou mesmo de profundidade, para atingir as lagartas dentro das folhas. O período residual de controle via foliar normalmente é pequeno e em alguns casos é interessante associar aplicações de solo com pulverizações foliares.

Nas aplicações via solo os produtos devem ser aplicados sobre a saia dos cafeeiros dirigidos às proximidades do caule. Quando se pretende controlar as cigarras concomitante ao bicho mineiro, as aplicações podem ser feitas no período de outubro a dezembro. Quando se quer fazer o controle exclusivamente do bicho-mineiro, deve-se aplicar no mês de fevereiro.

Pode-se utilizar inseticidas pertencentes aos grupos químicos registrados para a cultura, como neonicotinoide, organofosforado, diamida, espinosina, piretróide e carbamato. É importante ressaltar que o cafeicultor deve sempre procurar assistência especializada para as recomendações e posicionamento dos produtos.

Normalmente são necessárias de duas a três aplicações, com intervalo de 30 a 40 dias para o controle eficiente do bicho-mineiro, em condições normais de ataque. O acompanhamento da praga, por meio do monitoramento, é a base para avaliar a necessidade de novas aplicações. Vale ressaltar que a integração dos métodos de controle culturais, biológicos e químicos é essencial para ter sucesso no controle do bicho-mineiro.

Controle genético e cultural

Em relação ao controle genético, existem diversas pesquisas no setor de melhoramento para cultivares resistentes ao ataque do bicho-mineiro. Pode-se citar os trabalhos da Fundação Procafé com a cultivar “Siriema AS 1”, que possui resistência ao ataque do bicho-mineiro e a ferrugem.

Para o controle cultural o cafeicultor dispõe de técnicas como uso de plantas de cobertura na entrelinha do cafeeiro que servem como abrigo para os inimigos naturais do bicho-mineiro. O uso de quebra-ventos, adubações equilibradas e espaçamentos mais largos também diminui a incidência dessa praga.

Controle biológico

O controle biológico, no caso do bicho-mineiro, é realizado por predadores e parasitoides eficientes em reduzir a população da mariposa. A utilização de vespas parasitas e de crisopídeos também é utilizada nas lavouras, como parte do manejo integrado de pragas (MIP). Alguns estudos apontam que se pode chegar a até 30% de controle de pupas e lagartas com o uso desses parasitoides.

A eficiência do controle biológico está atrelada às práticas de manejo no campo, por exemplo a utilização de plantas hospedeiras dos inimigos naturais que mantém a população no campo, como é o caso da braquiária. Além disso, ao escolher o inseticida a ser aplicado na lavoura, deve-se atentar à seletividade do produto, para que não influencie na população dos inimigos naturais.

Recentemente, algumas pesquisas mostraram que patógenos como fungos e bactérias reduzem a população do bicho-mineiro. Espécies de bactérias como Erwinia herbicola e Pseudomonas aeroginosas possuem potencial de infectar as lagartas de L. coffeella.

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