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Como conduzir tomates em sistema de carrossel holandês

Rafael CampagnolProfessor Adjunto da Faculdade de Agronomia e Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso (FAAZ/UFMT)rafcampagnol@hotmail.com

Tomate- Campagnol et. al. (2017)

Para a produção de frutos de tomate de mesa, as plantas possuem, em sua maioria, hábito de crescimento indeterminado e devem ser conduzidas no sentido vertical. A condução das plantas no sentido vertical e a poda de ramos, folhas e frutos é uma prática cultural muito importante não só para o cultivo de tomate de mesa, mas também para outras hortaliças de fruto que precisam ser tutoradas, como pimentão e pepino, por exemplo.

Essa manipulação da arquitetura das plantas tem como objetivo criar condições para a maximização da produção de frutos de alta qualidade por meio do estabelecimento do número ideal de frutos, da melhor cobertura da área por folhas e da uniformidade de plantas, promovendo o balanço entre fonte e dreno de acordo com as necessidades produtivas.

Além disso, a condução das plantas no sentido vertical permite a melhor distribuição da radiação solar sobre o dossel, facilita os tratos culturais, reduz a competição intra e entre plantas e promove a melhor relação entre as partes vegetativas e reprodutivas.

Sistema carrossel

Visando esses benefícios, uma nova forma de condução das plantas está sendo muito usada para o cultivo de tomates de mesa, especialmente para minitomates. Esse sistema vem sendo chamado de “carrossel holandês”, pois é uma forma de condução usada com frequência na produção de tomate na Holanda, onde as hastes das plantas são movimentadas de acordo com seu crescimento, de forma semelhante ao movimento de um carrossel.

E isso só é possível para plantas de tomate de hábito de crescimento indeterminado, uma vez que possuem vigoroso e contínuo crescimento vegetativo juntamente com a produção de flores e frutos.

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Esse sistema de condução das plantas é mais empregado para o cultivo de minitomates, principalmente quando produzidos em estufas agrícolas e com o uso de substratos. Os principais benefícios proporcionados por essa forma de cultivo, fundamentais para o sucesso da condução das plantas no sistema carrossel holandês, são as melhorias das condições fitossanitárias e nutricionais das plantas.

Plantas sadias e bem nutridas se mantêm economicamente produtivas por mais tempo, o que é fundamental para cobrir todos os investimentos feitos ao longo do cultivo, especialmente em mão de obra, e garantir uma boa remuneração ao produtor.

Como implantar a técnica

Para implantação do sistema carrossel holandês, antes mesmo de iniciar a produção das mudas, todas as estruturas necessárias para o início do cultivo e condução das plantas devem estar instaladas e testadas ou com previsão máxima para serem finalizadas até as mudas estarem prontas para o transplante.

A estrutura de tutoramento das plantas, composta por mourões de madeira ou de metais, arame liso, catracas, carreteis, fitilho e bambu, assemelha-se à usada para o cultivo tradicional de tomate com fitilho, contudo, com maior altura do arame superior (altura de condução das plantas), entre 3 a 4,5 metros.

Essa altura é importante para facilitar o manejo das hastes das plantas, as podas de folhas e a colheita dos frutos. Os mourões devem ser bem resistentes, pois precisam suportar o elevado peso das plantas e de seus frutos.

Os arames lisos também devem ser de alta resistência e galvanizados. Eles devem ser posicionados na extremidade superior dos mourões sobre a linha de cultivo das plantas e esticados com o auxílio de catracas. Os carreteis são necessários para enrolar o fitilho e, assim, permitir a condução das hastes até o final do ciclo produtivo.

Geralmente são enrolados entre oito a 12 metros de fitilho em cada carretel. Os bambus (a cada 2,0 a 3,0 m) são usados para auxiliar no suporte dos arames, evitando que eles abaixem. Esse suporte também pode ser feito com arames fixados na parte superior dos pilares da estufa, no sentido perpendicular aos arames de condução. Dessa forma, reduz-se consideravelmente a demanda por bambus.

Detalhes importantes

Os recipientes (vasos ou sacolas) devem estar cheios com substrato e distribuídos na área de cultivo. Sua distribuição pode ser feita em linhas simples ou duplas. Independente da distribuição dos recipientes ou plantas utilizadas, a distribuição das hastes deve ser em linhas duplas para viabilizar a condução no sistema carrossel holandês.

Os espaçamentos entre as plantas e entre linhas são definidos em função do número de hastes por planta que serão conduzidas no sentido vertical. Para minitomate, esse número pode ser de duas a quatro hastes por planta.

Quanto maior o número de hastes, maior também será a distância entres as plantas na linha. O importante é manter uma distância entre hastes de 20 a 30 cm. Essa distância pode ser ajustada de acordo com a cultivar de tomate, visando sempre evitar o autossombreamento e o estiolamento das plantas e garantir uma maior produtividade de frutos.


Sugestão de distribuição das plantas/vasos:

Linhas simples: espaçamento entre linhas de 2,0 m e entre plantas de 0,25 m (plantas com duas hastes), 0,375 m (plantas com três hastes) ou 0,5 m (plantas com quatro hastes). Esses espaçamentos, apesar de resultarem em densidade de plantas diferente (2,0; 1,33 e 1,0 planta m-2, respectivamente), geram a mesma densidade de hastes (4,0 hastes m-2).

Linhas duplas: espaçamento entre linhas de 0,8 m, entre linhas duplas de 1,4 m e entre plantas de 0,4 (plantas com duas hastes), 0,6 m (plantas com três hastes) ou 0,8 m (plantas com quatro hastes). Nesse caso, as densidades de plantas são de 2,3; 3,4 e 4,6 plantas m-2, respectivamente, e a densidade de hastes é de 4,6 m-2.


Segurança

Todos os componentes do sistema de irrigação também já devem estar instalados e testados. A forma mais indicada de irrigação para o cultivo de tomate em substrato é o gotejamento. Pode-se usar as mangueiras gotejadoras ou os gotejadores com microtubos.

No caso das mangueiras gotejadoras, recomenda-se fixá-las com o auxílio de um arame esticado sobre os vasos (no sentido da linha de cultivo), a fim de evitar que elas se desloquem e deixem de irrigar as plantas. Para que haja uma boa uniformidade de hidratação do substrato, recomenda-se, no mínimo, dois pontos de gotejos por vaso ou por planta (no caso de sacolas).

Com toda estrutura de cultivo preparada, procede-se o transplantio das mudas para os recipientes. As primeiras semanas após o transplantio das mudas é muito importante para a formação da arquitetura da planta e o início da condução vertical das plantas. Essas ações são feitas de forma simultânea.

Podas

A formação da arquitetura da planta consiste na poda de formação (em alguns casos não é necessária), definição das hastes que serão conduzidas no sentido vertical e poda das brotações remanescentes.

Um tipo de formação bastante usado pelos produtores de minitomates, por ser simples e fácil, é a condução das plantas com duas hastes, sem poda de formação. Nesse caso, uma das hastes tutoradas é a haste principal e a outra a brotação originada da gema axilar logo abaixo do primeiro cacho floral.

Outra forma de obter as hastes de condução é fazer uma poda de formação, que consiste na poda do ápice da muda e a condução das brotações que surgirem das axilas das folhas remanescentes ou dos cotilédones.

A condução das hastes é iniciada quando as plantas atingem entre 20 a 30 cm de altura. Esse processo é feito com fitilhos plásticos de alta resistência e durabilidade. Como mencionado anteriormente, são enrolados entre 8,0 a 12 m de fitilhos em carreteis feitos de arame. Isso é necessário para permitir a condução das hastes de acordo com seu crescimento.

Os carreteis são fixados no arame superior e espaçados de acordo com o espaçamento entre as hastes. A extremidade do fitilho deve ser amarrada em arame posicionado acima dos recipientes (no sentido da linha de cultivo) ou na base das plantas.

De acordo com o crescimento das hastes das plantas, elas devem ser enroladas ou amarradas nos fitilhos verticais. Nesse processo, também deve ser feita a poda das brotações secundárias (desbrota).

Como as plantas de tomate de mesa possuem hábito de crescimento indeterminado, suas hastes crescem continuamente, emitindo novas folhas e inflorescência. Nos cultivos tradicionais de tomate de mesa, esse processo é interrompido pela poda apical (capação). Essa prática cultural limita o crescimento da planta e faz com os fotoassimilados que eram direcionados para o crescimento apical da planta sejam redirecionados para os frutos.

Diferencial

O grande diferencial do sistema carrossel holandês de condução está no fato de não haver a poda apical (sem capação). Nesse caso, como o crescimento das hastes é contínuo, à medida que elas crescem e alcançam os arames superiores, os fitilhos devem ser desenrolados um pouco dos carreteis (10 a 20 cm) e as hastes abaixadas com cuidado.

Para acomodar bem as hastes e evitar lesões, elas devem ser reposicionadas na linha de cultivo, tomando a posição da haste ao lado. Isso é feito com frequência, de acordo com o crescimento das hastes e da mesma forma para todas as plantas.

Consequentemente, as hastes vão se movimentando ao longo da linha de cultivo. As hastes das extremidades das linhas de cultivo assumem a posição da haste localizada na linha ao lado que, por sua vez, segue no sentido de condução oposto. Esse caminhamento das hastes das plantas ao longo do seu crescimento assemelha-se ao movimento de um carrossel.

Benefícios proporcionados

O principal benefício gerado por esse sistema de condução é o aumento da produtividade. Contudo, há também outros benefícios, como a redução da fonte de inóculo de algumas doenças e pragas, uma vez que folhas velhas, com sintomas de doenças foliares e ninfas de insetos, são retiradas periodicamente por meio das podas de folhas e brotações; e o melhor aproveitamento das sementes, no caso de minitomates, que são extremamente caras.

O ciclo de cultivo de tomate de mesa no sistema de condução tradicional é de cinco a seis meses a partir do transplante das mudas. Considerando que o período vegetativo da planta dura entre dois a três meses, dependendo das condições ambientais, nutricionais e fitossanitárias das plantas, o período de colheita é de três a quatro meses.

Já no sistema carrossel holandês de condução, como as plantas não são podadas, seu ciclo de cultivo pode ser estendido até 12 meses ou mais, desde que as condições nutricionais e fitossanitárias das plantas são sejam limitantes.

Excluindo o período vegetativo das plantas, de dois a três meses, o período de colheita de frutos nesse sistema se estende para nove a 10 meses. Como consequência, há um aumento considerável de produtividade, podendo ultrapassar 200 t ha-1 de frutos de minitomates.

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