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Como é a inoculação da cultura da soja?

Autor

Marco Antonio Nogueira
Mariangela Hungria
Pesquisador da Embrapa Soja
Fotos: Embrapa Soja

A inoculação da cultura da soja é um dos casos bem-sucedidos de aplicação de microrganismos benéficos na agricultura. Desde que passou a ter importância comercial no país nos anos 50, a soja é inoculada com bactérias do gênero Bradyrhizobium eficientes em fixar o nitrogênio atmosférico nos nódulos radiculares.

Embora seja conhecido do produtor há várias décadas, o inoculante usado nos primórdios da cultura da soja no Brasil evoluiu muito até os dias atuais, tanto em termos de eficiência das estirpes das bactérias utilizadas quanto em concentração de células, pureza e qualidade da formulação.

Essa evolução é resultante da pesquisa científica alinhada à indústria de inoculantes, ambos ajustados às normativas legais elaboradas em conjunto com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Ganhos

Dezenas de trabalhos de pesquisa conduzidos em rede pela Embrapa e parceiros em todas as regiões produtoras de soja do Brasil indicam um ganho médio de 8% de produtividade com a inoculação da cultura.

Entretanto, mesmo sendo uma técnica bem conhecida do produtor, alguns cuidados durante o processo de inoculação têm sido negligenciados, o que limita a máxima eficiência da FBN. Um levantamento realizado no Paraná pela Emater e Embrapa na safra 2017/18 indicou que apenas 60% entre 665 produtores fizeram inoculação da soja.

Desses, menos da metade fez o uso adequado do inoculante, pois a maioria simplesmente fez a aplicação de inoculante turfoso diretamente na caixa da semeadora, o que não resulta em boa homogeneização e aderência às sementes.

Esses números combinados indicam que apenas 25% dos produtores fizeram o uso correto do inoculante. São vários os argumentos entre os que não fizeram uso de inoculantes ou o fizeram de forma inadequada: dificuldade de mão de obra, falta de tempo no momento da semeadura, temor em perder a garantia do tratamento industrial de sementes, entendimento de que não é necessário inocular em áreas já cultivadas com soja há vários anos, etc.

Cuidados

Assim como qualquer outro insumo, o uso adequado do inoculante vai refletir nos seus benefícios à cultura. O primeiro ponto que se deve ter em mente é que o inoculante contém organismos vivos que não toleram condições estressantes além de certos limites. Por isso, algumas medidas simples ajudam a preservar a viabilidade das bactérias dos inoculantes durante o transporte e armazenamento, e durante e após a aplicação nas sementes.

A esse conjunto de medidas denominamos Boas Práticas de Inoculação. Sabe-se que a viabilidade das células das bactérias do inoculante começa a entrar em declínio quando a temperatura ultrapassa 30ºC e essa queda é maior quanto maior for o tempo de exposição.

Portanto, esse limite de temperatura precisa ser observado nas várias etapas desde a saída da indústria até o inoculante chegar ao solo junto com as sementes. Um fator que agrava a mortalidade das bactérias é a mistura com produtos químicos empregados no tratamento de sementes.

A inoculação deverá ocorrer separada dos químicos, em segunda operação, no máximo 24 h antes da semeadura. Inoculantes registrados no MAPA para inoculação antecipada, denominados “longa vida”, devem permitir uma recuperação de pelo menos 80 mil células por semente no momento da semeadura, isso para áreas em que a soja já vem sendo cultivada.

Para que todas as plantas de soja da área tenham uma maior ocupação nodular com as bactérias eficientes, todas as sementes devem receber o inoculante na dose adequada, o que não ocorre quando se faz a inoculação diretamente na caixa de sementes. Para uma boa aderência e homogeneização, deve-se aplicar uma substância adesiva às sementes antes de aplicar os inoculantes sólidos (turfosos), que pode ser água açucarada a 10%, com o auxílio de equipamentos para tratamentos de sementes, tambores de eixo excêntrico ou betoneiras, sem, no entanto, promover danos mecânicos às sementes.

Detalhes

Outros detalhes também podem fazer a diferença, como a validade do inoculante, registro no MAPA para a modalidade de uso (informada no rótulo), condições de armazenamento, dose adequada, etc. Em anos em que há um atraso no período chuvoso, alguns produtores têm realizado a semeadura “no pó”, uma prática não recomendada e muito arriscada, pois equivale a armazenar a semente inoculada em um ambiente quente e seco, prejudicando não apenas a sobrevivência da bactéria, mas também o vigor das sementes.

Para diminuir os riscos de incompatibilidade dos inoculantes com os produtos químicos do tratamento de sementes, é possível fazer a inoculação no sulco, simultânea à semeadura. Para isso, as semeadoras devem ser adaptadas com um tanque e bicos de aplicação, estes posicionados atrás dos discos de distribuição das sementes, antes das rodas de cobertura de sulco.

É importante o uso de tanques com isolamento térmico, para evitar o aquecimento da calda, que deve ser usada exclusivamente com o inoculante. A dose do inoculante (geralmente equivalente a 100 mL), que nesse caso precisa ser líquido, deve ser de pelo menos 2,5 por hectare.

Eficiência

A eficiência da FBN promovida pela inoculação do Bradyrhizobium pode ser ainda melhorada pela coinoculação com uma segunda bactéria, o Azospirillum, o que resulta em um incremento médio de produtividade da soja de 16% em relação ao não uso de inoculantes.

O Azospirillum age estimulando o desenvolvimento de raízes e outros processos fisiológicos da planta, resultando em maior nodulação e, consequentemente, mais fixação de N. Essas duas bactérias são perfeitamente compatíveis e podem ser aplicadas tanto via sementes quanto via sulco de semeadura.

Deve-se observar, no entanto, que o inoculante à base de Azospirillum é limitado a 01 dose/ha via sementes ou a 02 doses/ha via sulco de semeadura, sob pena de, em excesso, promover efeitos negativos à planta.

Os micronutrientes cobalto (Co) e molibdênio (Mo) são necessários para a FBN, mas em geral também prejudicam a sobrevivência das bactérias dos inoculantes em contato. Assim, se a inoculação for realizada via sulco de semeadura, a aplicação dos micronutrientes pode ser via sementes ou via foliar no início da fase vegetativa (V3-V5).

Se a inoculação for via sementes, melhor realizar a aplicação dos micronutrientes via foliar (V3-V5). Isso evita o contato das bactérias com mais um produto químico além dos já empregados no tratamento de sementes, aumentando a sobrevivência das células inoculadas.

Vantagens

As vantagens econômicas da inoculação e da coinoculação da soja foram recentemente demonstradas em um trabalho realizado no Paraná pela Emater e Embrapa na safra 2017/18. Os resultados de 37 unidades de referência técnica sobre inoculação e coinoculação indicaram um ganho médio de R$ 126,60/ha com a inoculação de Bradyrhizobium e de R$ 390,00/ha com a coinoculação de Bradyrhizobium + Azospirillum, o que reforça a importância dessa tecnologia de baixo custo, mas que traz grandes resultados para o produtor e para o ambiente. Os ganhos relativos de produtividade pela coinoculação estão ilustrados na Figura 1.

Mesmo frente aos baixos custos e à alta qualidade dos inoculantes legalmente comercializados no Brasil, tem sido observada a tentativa de se produzir “inoculantes” na propriedade. Essa é uma iniciativa que apenas tumultua o mercado de um insumo que é essencial para o sucesso da soja no Brasil e demandou décadas de pesquisas para chegar ao nível tecnológico hoje observado, com inoculantes de última geração, com alta concentração de células, pureza e longevidade.

Análises de amostras de “inoculantes” produzidos em algumas propriedades revelaram apenas a ocorrência de microrganismos contaminantes, alguns até patogênicos para humanos e animais. Portanto, não vale a pena colocar em risco uma tecnologia de tamanha importância e resultado achando que se vai fazer economia. O efeito pode ser justamente o contrário.

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