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Como evitar a deriva

Laís Sousa ResendeEngenheira agrônoma, mestra e doutoranda em Fitotecnia – ESALQ/USPsialresende@gmail.com

Klinger Moreira Lima Júnior / Brendo Adriano Alves FreireGraduando em Agronomias – Universidade Federal de Lavras (UFLA)

Lindomar Canuto da SilvaEngenheiro agrônomo e mestrando em Fitotecnia – UFLA

Aplicação de herbicida – Crédito: Arquivo

Para obter altas produtividades dentro do sistema de produção agrícola, é necessário a adoção de medidas com intuito de manejar pragas, doenças e plantas daninhas. Desse modo, faz-se necessário o uso de defensivos agrícolas. Contudo, durante o processo de aplicação dos produtos químicos, até que atinjam o alvo, podem ocorrer perdas por meio da evaporação, volatilização e deriva.

O que é deriva?

A deriva assume um papel importante, visto que é um dos principais problemas relacionados à utilização de produtos fitossanitários, e pode ser definida como tudo aquilo que não atinge o alvo durante a pulverização.

Assim sendo, a deriva carrega consigo grandes problemas, pois está diretamente ligada à contaminação de culturas vizinhas, do aplicador e ambiental, além de ser uma fonte de perda, pois o produto pode não atingir o alvo ou atingir em excesso, acarretando prejuízos econômicos ao produtor.

Entre os defensivos agrícolas, o que causa maiores problemas com deriva são os herbicidas, que representam cerca de 60% dos produtos empregados na agricultura. Com isso, uma vez que este é aplicado de forma errônea, pode causar injúrias às culturas sensíveis e não seletivas.

Deriva x herbicidas

O processo da deriva tem relação com as características dos herbicidas, ganhando destaque a volatilidade, que está relacionada aos ingredientes ativos e formulações. Produtos que são mais voláteis tendem a ser mais suscetíveis, necessitando de maiores cuidados na sua aplicação. A exemplo disso, temos herbicidas que são amplamente aplicados, tais como: 2,4-D, Triclopyr, Trifluralina e Pendimethalin.

Em breve, o Dicamba será uma opção ao produtor para o manejo de plantas daninhas resistentes ao glifosato, porém, sua liberação para a comercialização é um ponto que está sendo amplamente discutido, pois é um produto com alta volatilidade e que poderá trazer grandes problemas a propriedades vizinhas que não adotam a tecnologia de tolerância a este herbicida.

Vale ressaltar que todos os herbicidas, quando aplicados sobre condições não apropriadas, podem ter problemas com deriva, sendo a volatilidade apenas um fator agravante.

Deriva x tecnologia de aplicação

Diante deste contexto, a tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários exerce papel essencial no controle da deriva e tem como objetivo a colocação do produto biologicamente ativo no alvo, na quantidade adequada, de forma econômica e eficiente, proporcionando o mínimo de contaminação e perdas possíveis.

A falta de conhecimento sobre a tecnologia de aplicação é um dos principais gargalos da agricultura tradicional, no entanto, a mesma passou a ganhar mais destaque nos últimos anos e existem muitos pontos a serem estudados.

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Portanto, é necessário definir os objetivos importantes que o produto deve cumprir, e ainda a importância da técnica de geração de gotas, condições meteorológicas, composição da calda (concentrações dos defensivos e adjuvante na calda) e as condições operacionais do pulverizador.

Representando a parte mais importante dos pulverizadores, as pontas de pulverização devem ser escolhidas e utilizadas de modo apropriado, sendo as mesmas o fator determinante na uniformidade de aplicação, na cobertura foliar por gotas e na quantidade aplicada por área, além de estarem associadas ao potencial de risco de contaminação ambiental e humana pela ocorrência da deriva.

Influência direta

O tamanho de gotas produzidas pelos modelos de pontas de pulverização é responsável, em grande parte, pela cobertura do alvo e pela deriva do produto pulverizado. Segundo a Associação Nacional de Defesa Vegetal (ANDEF), as gotas são classificadas pelo seu diâmetro mediano volumétrico (DMV) como gotas grandes (>400 µm), médias (entre 200 e 400 µm) e pequenas (<200 µm).

As gotas pequenas promovem ótima cobertura do alvo e normalmente altas quantidades de gotas por cm2, além de alta capacidade de penetração no dossel da cultura e baixa possibilidade de escorrimento do produto nas folhas. No entanto, são altamente suscetíveis à deriva.

Pelo contrário, gotas grandes ou grossas possuem menores chances da ocorrência de deriva, no entanto, proporcionam menor cobertura da superfície a ser tratada e alta probabilidade de escorrimento do produto nas folhas, além de possuir uma menor penetração no dossel da cultura.

Portanto, para a escolha de uma ponta adequada, devem ser levados em conta as características do produto fitossanitário, principalmente a sistemicidade, ou seja, se o produto é sistêmico ou de contato.

Atuação dos produtos

Como os produtos sistêmicos são absorvidos e possuem translocação na planta via acropetal ou basipetal, os mesmos têm a capacidade de atuar em pontos diferentes do local de aplicação, não necessitando de uma boa cobertura da superfície de contato.

Desde modo, estes produtos permitem a utilização de gotas maiores (grossas), ocasionando a redução da deriva. Por outro lado, os produtos de contato não possuem translocação pela planta, necessitando de altas quantidades de gotas por cm2.

Produtos com sistemicidade limitada também requerem uma alta quantidade de gotas por cm2. Para esses dois tipos de produtos as gotas menores são ideais, no entanto quanto menor o tamanho da gota, maior a sua suscetibilidade à deriva.

Além de considerar as características do produto, deve-se considerar o problema fitossanitário, presença de culturas sensíveis ao produto aplicado em áreas adjacentes e, principalmente, as condições meteorológicas no momento da aplicação. Em relação aos tipos de pontas de pulverização, existe uma infinidade de opções no mercado, desde as mais simples até pontas mais tecnológicas, com sistemas antideriva ou indução de ar.

Essas proporcionam gotas maiores, porém, com melhor cobertura e penetração das gotas no alvo.

Condições climáticas

Outro ponto fundamental e decisivo no momento da aplicação são as condições meteorológicas, que afetam de maneira direta a direção, a quantidade e a distância da deriva. Pulverizações efetuadas com ventos fortes favorecem o aumento da deriva pelo arraste das gotas, principalmente se o tamanho das gotas for pequeno ou muito pequeno.

A umidade relativa do ar e a temperatura também condicionam a duração da vida útil da gota produzida. Deste modo, quanto maior a temperatura e menor a umidade relativa do ar, menos tempo a gota tem para atingir o alvo antes de evaporar.

Condições onde se tem ausência de vento ou ventos calmos não são indicadas, pois nesses cenários as gotas do produto não serão capazes de atingir ou penetrar as partes inferiores das plantas. De modo geral, na literatura recomenda-se que as aplicações de defensivos agrícolas sejam realizadas quando a temperatura ambiente for menor que 30°C, a umidade relativa do ar maior que 50% e ventos com velocidade entre 3,0 e 10 km/h.

Dentro dos fatores climáticos, a inversão térmica também deve ser levada em consideração. Durante esse processo ocorre a inversão de temperatura, tornando o ar próximo ao solo mais frio que o ar acima dele, impedindo que conjunto de gotas pequenas alcance o alvo, forçando seu movimento para fora do local de pulverização. Esse processo geralmente ocorre durante o período da tarde, em dias que a temperatura for superior a 30ºC.

Problemas x soluções

As características físico-químicas da calda podem afetar fortemente o processo de deriva e o tamanho das gotas. As principais características levadas em consideração são a viscosidade e tensão superficial. Quanto maior os valores das mesmas, maior a força necessária para a quebra das gotas no processo de pulverização, dificultando o espalhamento e penetração da gota no alvo.

Diante disto, a utilização de adjuvantes é uma ferramenta interessante para melhorar a dinâmica da gota sobre o alvo, além do seu tamanho, podendo ocasionar diminuição das perdas no processo de deriva. O comportamento dos adjuvantes é variável de acordo com as diferentes pontas de pulverização e produtos utilizados, entretanto, há poucas informações a respeito.

Sendo assim, na hora de realizar a pulverização, deve ser levado sempre em consideração todas as questões citadas acima: temperatura, velocidade do vento e de aplicação, umidade relativa do ar, tipo de ponta, características físico-químicas do produto e atentar-se às inversões térmicas.

Desse modo, é possível minimizar os problemas e perdas por deriva, além de garantir o máximo ganho econômico.

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