Herika Paula Pessoa – herika.paula@ufv.br
Felipe de Oliveira Dias – felipedeoliveiradias@gmail.com
Jéssica Lino Gomes – jessica.lino@ufv.br
Engenheiros agrônomos, mestres e doutorandos em Fitotecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
A espécie Brassica oleraceae, da família Brassicaceae (antiga família Cruciferae), possui algumas variedades botânicas que são utilizadas comercialmente na alimentação humana.
Popularmente, as mais comuns são conhecidas como couve-de-folhas, brócolis, couve-flor e repolho. O repolho, por sua vez, é a variedade botânica B. oleraceae var. capitata. É caracterizado pelo imbricamento das folhas no final da fase vegetativa, formando uma cabeça compacta que é consumida de diversas formas: cru ou cozido, na forma de saladas ou como componente de diversas outras receitas na culinária.
Nutricionalmente, o repolho é rico em fibras, vitaminas (principalmente a vitamina C) e minerais (principalmente o cálcio).
Genética
O desenvolvimento de cultivares híbridas pelos programas de melhoramento genético do repolho possibilitou seu cultivo ao longo de todo o ano com cultivares adaptadas a diversas condições ambientais.
Propagação
A propagação comercial do repolho é feita exclusivamente por meio de sementes, que podem ser semeadas direto no canteiro onde se seguirá todo o cultivo ou ainda serem usadas na formação de mudas que posteriormente serão transplantadas para o canteiro definitivo.
No primeiro caso, já definido o espaçamento de plantio e o canteiro já preparado com todas as recomendações para a cultura, na semeadura direta no campo de produção é recomendada a utilização de pelo menos duas sementes por ponto numa profundidade de um a dois centímetros.
Isto porque no campo diversos fatores bióticos e abióticos podem afetar a germinação e promover falhas no estande de plantas, mesmo com alta porcentagem de germinação das sementes.
Por isso, após a emergência é recomendada também a técnica de desbaste de plântulas nos pontos em que ambas as sementes germinaram, eliminando-se aquelas de menor vigor. Outra técnica que pode ser necessária é o ressemeio das sementes, caso haja muitas falhas na germinação.
Mudas
Já no caso da produção de mudas, diversos recipientes podem ser utilizados como bandejas de isopor e/ou plásticos, tubetes e sacos plásticos. No caso de recipientes comerciais, há uma diversidade de tamanho de cada produto no mercado.
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O viveirista pode escolher os de mais fácil manuseio e viáveis economicamente para a produção de mudas de repolho. Estes recipientes podem ser preenchidos com substrato comercial ou substrato preparado pelo próprio viveirista misturando-se solo, areia e esterco na proporção preferida.
A grande vantagem do uso do substrato comercial é que este geralmente é livre de patógenos e sementes de plantas daninhas, que podem ser veiculados tanto pela areia quanto solo e esterco, no caso de sua utilização.
Considerando a utilização de bandejas com diversas células, a semeadura para a produção de mudas pode ser feita utilizando-se apenas uma semente por célula, caso a semente tenha alta porcentagem de germinação, também na profundidade de um a dois centímetros, reduzindo assim o custo com a aquisição de semente.
Transplantio
Geralmente a produção de mudas está condicionada à utilização de ambiente protegido, o que reduzirá significativamente a mortalidade de plântulas durante a formação da muda. Isto porque os diversos fatores que naturalmente incidem sobre as plântulas no campo são melhor controlados nas casas de vegetação.
As mudas podem ser transplantadas quando possuírem de quatro a seis folhas definitivas e/ou atingirem a altura de 10 a 15 centímetros. Importante ressaltar que as mudas devem ser rustificadas antes do transplantio, reduzindo gradativamente a irrigação e a aplicação de nutrientes e aumentando sua exposição à luz solar.
Esta técnica visa aumentar a sobrevivência das mudas no campo, tornando-as mais rústicas para as adversidades do ambiente de cultivo.
O espaçamento, tanto no caso de semeadura direta quanto no caso de transplantio de mudas, pode variar de 0,6 a 0,8 m entrelinhas e de 0,4 a 0,6 m entre plantas. Aumentando-se a densidade de plantio as plantas tendem a produzir menores cabeças de repolho.
Entre um e outro
Um grande benefício da utilização de mudas sobre a semeadura direta é a vantagem competitiva das mudas sobre as ervas daninhas. Quando se semeia a semente de repolho diretamente no campo, a germinação ocorre simultaneamente à germinação de plantas daninhas, que muitas vezes são mais competitivas que o repolho.
Desta forma, seria necessário promover um controle mais frequente das daninhas, afim de garantir o bom desenvolvimento do repolho até a cobertura do solo pela cultura. Quando se utiliza mudas, o canteiro geralmente está limpo de plantas daninhas e a muda cobriria o solo com maior rapidez, retardando e/ou impedindo o desenvolvimento do mato.
Técnicas como o mulching são importantes ferramentas para ambos os casos. Além disso, no campo tanto a técnica de desbaste quanto a de ressemeio, no caso de semeadura direta, devem serem feitas manualmente.
No caso de transplantio de mudas, apenas o replantio é manual, caso seja necessário. Dessa forma, a adoção de mudas para plantio do repolho reduz as operações em campo, quando comparadas com a semeadura direta.
Erros mais frequentes
O repolho é uma cultura exigente em temperaturas amenas. Assim, o cultivo em épocas não propícias, sem a utilização de híbridos de qualidade, tende a formar cabeças pouco compactas, que são impróprias à comercialização.
Algumas doenças de grande importância econômica afetam a produção de repolho, e o tratamento mais eficiente para tais doenças é o preventivo, no qual deve-se evitar a entrada dos patógenos no campo, optando por áreas em terrenos bem drenados, e não aquelas frequentemente cultivadas com brássicas.
Além disso deve-se evitar plantios muito densos, e sempre optar por cultivares adaptadas à área de cultivo.
As híbridas
A produção de mudas vigorosas e sadias, com sistema radicular bem desenvolvido, é fundamental no sucesso da cultura. É possível encontrar no mercado sementes híbridas que toleram algumas das principais doenças encontradas em campo, contudo, sua utilização ainda não é aderida por todos os produtores.
É importante ressaltar que características de produção e resistência são encontradas apenas em materiais híbridos.
Qualidade é fundamental
A aquisição de mudas adaptadas para a região de cultivo e oriundas de sementes certificadas e de qualidade é de suma importância, priorizando a qualidade principalmente no que diz respeito à resistência às condições climáticas adversas e doenças, facilidade no pegamento no solo e qualidade de cabeça.
É crucial a aquisição de mudas oriundas de viveiros idôneos, a fim de garantir a redução de perdas e a necessidade de replantio, que aumentam os custos de produção.
Sementes hibridas de qualidade são resistentes às principais doenças encontradas em campo. Com isso, o produtor diminui a aplicação de defensivos químicos. Para minimizar impactos causados pelas doenças, recomenda-se, além da utilização de sementes sadias para formação das mudas, fazer rotação de cultura com plantas de outra família, utilizar variedades resistentes ou tolerantes e eliminar restos culturais.
Investimento
Alguns estudos mostram custos de implantação do repolho em torno de aproximadamente R$ 30.000/ha. A produção de mudas de repolho é compensatória ao produtor, uma vez que é uma planta de fácil manejo, que se adapta a diferentes condições climáticas.
É uma cultura rentável, principalmente quando consideramos seu ciclo curto, que além de possibilitar múltiplos ciclos anuais, é uma opção para complementação de renda a curto prazo para os agricultores.
Investimento x retorno
Apesar do investimento inicial, é possível a obtenção de lucros estimados na literatura em aproximadamente R$ 45.000,00. A produção do repolho se destaca principalmente em agricultura familiar, atuando na geração de empregos e renda para os envolvidos.
Os maiores investimentos para produção desta cultura estão relacionados ao controle fitossanitário, com utilização de fungicidas, inseticidas e herbicidas. Há, ainda, necessidade de adquirir sistema de irrigação adequado, sementes e/ou produção de mudas de qualidade. Além disso, o preparo do solo e a mão de obra também são incluídos na tabela de custos.
