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Como prevenir a cigarrinha no milho?

Autores

Luís Paulo Benetti Mantoan
Biólogo e doutorando em Ciências Biológicas/Fisiologia Vegetal – UNESP
luismantoan@gmail.com
Carla Verônica Corrêa
Engenheira agrônoma e doutoranda em Fisiologia Vegetal/Metabolismo Mineral – UNESP
cvcorrea1509@gmail.com 
Crédito: André Aguirré

A incidência de molicute, doença transmitida pela cigarrinha, em lavouras de milho, tem preocupado produtores. Ainda que a presença da praga encontre-se em estágio inicial, lideranças ressaltam a necessidade de controles efetivos para evitar custos elevados. Em lavouras irrigadas a doença pode causar perdas de 15 a 20% à produção. Considerando uma quebra aproximada de 15 sacas por hectare, com preço atual do milho em R$ 30,00/sc, o produtor estaria perdendo hoje R$ 450,00 por hectare na produção irrigada.

O primeiro passo para ocorrer a disseminação da doença é a cigarrinha encontrar uma planta com a doença. Assim, ao se alimentar do floema de plantas de milho infectadas a praga adquire o fitoplasma presente na seiva da planta.

Após um período de latência de três a quatro semanas, etapa essa em que o fitoplasma multiplica no interior do inseto, a cigarrinha pode transmitir a doença para plantas sadias. A coincidência entre o final do ciclo de algumas lavouras e o início do ciclo de outras permite que as cigarrinhas migrem de plantas adultas infectadas para plantas jovens sadias, disseminando a doença.

No Brasil, o milho é o único hospedeiro desse fitoplasma e da cigarrinha D. maidis. Deve-se ressaltar que quanto mais jovem a planta adquirir a doença, maiores serão as perdas. Assim, plantios escalonados contribuem para o agravamento dos sintomas nas lavouras.

Prejuízos

Os molicutes afetam o desenvolvimento, e dessa forma, a nutrição e a fisiologia das plantas infectadas e, em consequência, ocasiona grandes perdas de produção de grãos. As plantas infectadas com esses patógenos apresentam as seguintes características:

þ Internódios mais curtos;

þ Menos raízes;

þ Espigas mal formadas e pequenas;

þ  Quando as plantas estão adultas apresentam suas folhas com estrias avermelhadas ou pardas;

þ Tombamento das plantas, sendo que as quedas vão aumentando com a proximidade da época de colheita;

þ Redução da qualidade do grão;

þ Dificuldade de colheita, pois as máquinas não conseguem colher as espigas presentes nas plantas tombadas;

þ Redução de produtividade.

Sintomas

A intensidade dos sintomas depende do nível de tolerância da cultivar de milho e são, aparentemente, proporcionais à multiplicação dos molicutes nos tecidos da planta, sendo mais intensos quando as infecções das plantas ocorrem nos estádios iniciais de desenvolvimento.

Os sintomas dependerão do tipo de enfezamento, ou seja, enfezamento pálido ou o enfezamento vermelho. No enfezamento-pálido são observadas manchas cloróticas e independentes, produzidas na base das folhas, que se juntam e formam bandas grandes. Os entrenós se desenvolvem menos e a planta tem a altura reduzida (“fica enfezada”). Também se formam brotos nas axilas das folhas.

No enfezamento-vermelho observam-se plantas severamente “enfezadas” (menor altura) e maior intensidade da cor vermelha, que chega a ser púrpura nas folhas mais velhas, além da presença de perfilhamento mais intenso nas axilas foliares e na base das plantas.

Regiões mais afetadas

Essa doença tem causado danos expressivos e crescentes às lavouras, especialmente nas regiões com temperaturas mais elevadas no Brasil, onde a cultura é cultivada em mais de uma safra no ano. As doenças podem reduzir em 70% a produção de grãos da planta doente, em relação à planta sadia, em cultivar suscetível às doenças.

Em surtos epidêmicos, como os ocorridos recentemente no Oeste da Bahia, Sudoeste de Goiás, Triângulo Mineiro e o Noroeste de Minas Gerais, as perdas superam esse percentual. No Estado de São Paulo, as perdas também estão sendo significativas e a cigarrinha vem se tornando motivo de preocupação entre os produtores.

Causas

No Brasil, os agentes causais dos enfezamentos são transmitidos de uma planta de milho doente para uma sadia por um único inseto-vetor, denominado de cigarrinha-do-milho, ou seja, a Dalbulus maidis (Hemiptera: Cicadellidae). Essas cigarrinhas são pequenos insetos, medindo aproximadamente 4,0 mm de comprimento.

Apresentam coloração amarela-palha com duas manchas circulares negras no alto da cabeça, o que permite diferenciá-las de outras cigarrinhas comumente encontradas na cultura do milho. Essas cigarrinhas se alimentam sugando a seiva das plantas de milho e localizam-se nos ponteiros, principalmente no interior do cartucho das plantas.

Além disso, ao caminhar no meio da lavoura ou no corredor próximo à plantação é fácil observar pequenos insetos voando. A duração do período, que vai do ovo até o adulto, é amplamente influenciada pela temperatura.

No entanto, o ciclo biológico dura cerca de 25 dias. Em regiões quentes, desde que haja plantios de milho disponíveis, pode apresentar várias gerações ao longo do ano. Os espiroplasmas e fitoplasmas são adquiridos pelas cigarrinhas durante a alimentação do inseto nas plantas doentes.

Esses microrganismos atravessam as paredes intestinais e caem na hemolinfa, se espalhando por diversos órgãos. Assim, a doença passa a se multiplicar no interior dos insetos, principalmente nas glândulas salivares de onde são inoculados em plantas sadias no processo de alimentação do inseto.

Este tipo de transmissão é denominada de “persistente e propagativa”. Dessa forma, uma vez que a cigarrinha adquire os molicutes, ela se torna transmissora por toda sua vida.

Controle preventivo e curativo

Para controlar o avanço da doença os produtores devem:

; Evitar a semeadura do milho próximo a lavouras mais velhas e com alta incidência dos enfezamentos;

; Semear mais de uma cultivar de milho;

; Tratar as sementes com inseticidas registrados no Ministério da Agricultura para controlar a cigarrinha (inseto transmissor das doenças);

; Em localidades com alta incidência de enfezamentos e de cigarrinhas, os pesquisadores recomendam a interrupção temporária do cultivo do milho para eliminar tanto as doenças quanto os insetos-vetores;

; Além disso, o agricultor não deve deixar plantas de milho voluntárias (tiguera), que podem servir de reservatórios do inseto e dos enfezamentos para os cultivos de milho subsequentes;

; A utilização de cultivares de milho com tolerância genética aos enfezamentos é uma alternativa que pode minimizar danos por essas doenças;

; De uma maneira geral, uma opção para escapar dos enfezamentos é evitar a semeadura tardia do milho.

Inovações

O controle químico mais eficiente é o tratamento de sementes, propiciando a proteção das plântulas no período em que o ataque da cigarrinha traria maior dano direto e, principalmente, pela transmissão dos molicutes e vírus. Entre os produtos presentes no mercado podemos destacar: Adage 350 FS; Adage 700 WS; Cruiser 350 FS;Cruiser 600 FS;Imidacloprid 600 FS; Poncho. Também têm a opção de controle biológico com alguns produtos como: Agrivalle AUIN; Albatroz; Avenger; BeauveControl; Beauveria JCO, entre outros.

Direto ao ponto

Os erros mais frequentes na lavoura são:

ð Utilização de materiais muito suscetíveis a cigarrinha;

ð Utilização de apenas uma forma de manejo, ou seja, para se obter sucesso no controle da cigarrinha é necessária a combinação de medidas;

ð Uso excessivo de inseticidas na busca de controlar a praga. Assim, a única coisa que realmente acontece é o surgimento de gerações de insetos resistentes;

ð Plantios tardios;

ð Plantios consecutivos, que proporcionam a sobreposição de ciclos da cultura.

A coincidência entre o final do ciclo de algumas lavouras e o início do ciclo de outras permite que as cigarrinhas migrem de plantas adultas infectadas para plantas jovens sadias, disseminando a doença. Considerando que nem todas as cigarrinhas são portadoras dos molicutes, é importante saber reconhecer a doença, adotar as medidas que vão contribuir para evitar os enfezamentos e conviver com as cigarrinhas.

Não existe medida isolada que seja suficientemente efetiva para evitar a disseminação dos molicutes e a incidência dos enfezamentos. Por isso, há necessidade da atuação simultânea de todos os produtores para reduzir a doença em uma região. Além disso, medidas simples, como eliminar o milho tiguera, tratar as sementes com inseticidas e evitar semeadura em proximidade de lavouras adultas com enfezamentos, têm sido adotadas em algumas regiões, havendo expectativa atual de redução expressiva na incidência dessas doenças.

Medidas

O manejo para controle do molicutes é dependente do controle da cigarrinha. Medidas como eliminação de tigueras, materiais com tolerância, evitar lavouras novas perto de lavouras velhas, evitar plantios tardios, utilizar tratamentos de sementes e controle biológico, contribuem para reduzir de forma significativa o avanço da doença e, dessa forma, evitar perdas na produção.

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