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Controle biológico de coró em morango

Autores

Anna Carolina Abreu Francisco e Silva
Graduanda em Agronomia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
annacabreufs@gmail.com
Letícia Silva Pereira Basílio
Doutoranda em Agronomia/Horticultura – UNESP/Botucatu
leticia.ufla@hotmail.com
Jullyanna Nair de Carvalho
Doutoranda em Agronomia/Fitotecnia – UFLA
jullyannacarvalho@gmail.com

Fotos: Ana Maria Diniz

O morangueiro é uma planta nativa de regiões de clima temperado, da família das rosáceas, há muito adaptada às variadas condições de cultivo no Brasil. Os maiores Estados produtores são Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo, Santa Catarina, Goiás e Rio de Janeiro, além do Distrito Federal.

O morango é, na realidade, um pseudofruto, pois se origina de uma única flor com vários ovários. O desenvolvimento de cada ovário produz uma fruta. Cada um dos pequenos pontos escuros do morango (chamados popularmente de sementes) é cientificamente conhecido como aquênio que, na verdade, é o verdadeiro fruto.

É muito popular e apreciado por seu sabor, resultado de uma complexa mistura de numerosos compostos voláteis, açúcares e ácidos orgânicos e por características como a textura e coloração. Sua elevada qualidade nutricional está intimamente correlacionada com o manejo realizado em campo, que pode potencializar ou inviabilizar a qualidade dos frutos.

Quem são eles

Um dos maiores entraves que esta cultura enfrenta atualmente são os corós rizófagos, que vivem no solo e se alimentam de raízes, comprometendo a produção de morangos. Possuem longo ciclo biológico, levando de um a dois anos para completarem uma geração.

Além de prejudicar o sistema radicular, esta praga causa o anelamento da coroa do morangueiro. Os besouros adultos possuem hábito noturno, causando perfurações irregulares em folhas e flores, alimentando-se preferencialmente de folhas jovens. Medidas curativas para essas pragas ainda estão em estudo e depois que o problema ocorre a aplicação de inseticidas não é efetiva.

Sintomas

Em campo, os primeiros sintomas notados quando ocorre o ataque desta praga são o amarelecimento das folhas, murcha das plantas e falhas no crescimento. Se não controlados, os corós causam um desenvolvimento lento ou inexistente, comprometimento do sistema radicular e podem levar à morte das plantas.

Geralmente os sintomas aparecem em reboleiras, sendo fácil a detecção. De dezembro ao final de março, quando ocorre o terceiro estágio de desenvolvimento da larva, estas eclodem no solo, ocorrendo a fase mais crítica de ataque. O morangueiro é uma planta delicada, especialmente em relação ao seu sistema radicular, pois a maior parte das raízes concentra-se na camada superficial do solo e, desta maneira, são a parte mais prejudicada no ataque dos corós.

Alerta

No Brasil, a espécie de coró que mais ataca o morangueiro é o coró-das-hortaliças (Aegopsis bolboceridus). Originalmente esta espécie ocorre em áreas nativas de Cerrado, mas com o avanço das atividades agrícolas para outros centros de cultivo e o desmatamento cada vez mais frequente das áreas de Cerrado, a espécie vem se tornando importante em outros polos dentro do ambiente agrícola.

Ainda assim, é comum ser encontrado em pomares no Distrito Federal e municípios de seu entorno. Os corós podem ocorrer em safras consecutivas e, além do morangueiro, cerca de 30 espécies também são atacadas pela praga, o que contribui com a dificuldade de erradicação.

A ocorrência é favorecida por períodos chuvosos e solos encharcados. Outra dificuldade no controle desta praga é que tanto o sistema convencional de manejo do solo como o manejo por plantio direto favorecem o aparecimento das larvas. Como forma de prevenção para que essas pragas não se instalem nos solos está a utilização de alguma espécie de adubo verde, que atua produzindo um efeito negativo sob as larvas, sendo a crotalária a mais indicada.

Biológicos à frente

Como o controle químico é ineficiente para a praga, a utilização de controle biológico é muito visada. Existem diversos produtos de controle biológico já registrados para a cultura do morangueiro, principalmente para o combate do ácaro-rajado.

O Bacillus thuringiensis é uma bactéria gram-positiva e entomopatogênica, aeróbica ou facultativamente anaeróbica, naturalmente encontrada no solo. Esta bactéria produz proteínas tóxicas, denominadas Cry, a algumas ordens de insetos e é um dos bioinseticidas mais conhecidos no mundo, usado como controle biológico de pragas em várias culturas.

As larvas ingerem os cristais, os quais sofrem modificação por meio do pH alcalino do intestino das lagartas e, juntamente com proteases lá presentes, ativam as toxinas e estas acabam se ligando a receptores no tecido epitelial do intestino, que quebram o equilíbrio osmótico das células, ocorrendo o rompimento e extravasamento do conteúdo intestinal para a hemocele.

Com isso, o pH do intestino é misturado com o pH do sangue e o reduz, criando um pH e ambiente favoráveis para a germinação dos esporos e multiplicação das bactérias. Com isso a larva paralisa, consequentemente paralisa a alimentação e acaba morrendo por inanição, sendo essa a especificidade do produto.

Para as frutas

O controle biológico pode ser empregado como medida preventiva e/ou curativa para pragas de fruteiras em geral. Como medida preventiva, podem ser utilizadas estratégias que aumentem a abundância e a eficiência de insetos que já estão presentes nos pomares.

Como medida curativa, o controle biológico aumentativo por meio da liberação de predadores, parasitoides e patógenos, de maneira inundativa ou inoculativa, é estratégia disponível para algumas fruteiras. Essas duas medidas podem ser utilizadas de maneira integrada e complementar.

Podem ser aliados a estas técnicas outros métodos de controle, como a eliminação de folhas velhas, mantendo o solo livre de contaminação direta, e a utilização de armadilhas luminosas. Estas últimas são dispositivos de captação e controle de insetos com hábito noturno (como os besouros adultos, cuja fase larval são os corós) e são um bom ponto de partida para saber o que está acontecendo na lavoura, ajudando na tomada de decisões para a adoção de outras ações de controle.

Recomendações

Não existe, para o morangueiro, a recomendação de aplicação de produtos que contenham Bacillus thuringiensis como princípio ativo. No Brasil, a maioria dos produtos à base de B. thuringiensis encontrados no mercado é importada, e tem como organismos-alvo os lepidópteros.

Contudo, coleópteros como os corós também são atingidos pelas proteínas Cry quando ativas, principalmente a Cry3. Os erros mais frequentes são a identificação da praga, que acaba sendo confundida com outras doenças/pragas, ou ainda com problemas nutricionais das plantas; e o período de aplicação, que deve ser realizado no estágio larval.

Para serem evitados esses erros, é sempre importante a presença de um engenheiro agrônomo para a devida orientação.

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