
Os bioinsumos, que abrangem produtos como agentes de controle biológico, inoculantes, bioestimulantes e solubilizadores, vêm ganhando destaque como alternativas sustentáveis e eficazes para o manejo agrícola.
No Brasil, esse mercado tem registrado um crescimento médio anual de 21% nos últimos três anos, ritmo que supera em quatro vezes a média global. O estado do Mato Grosso lidera o consumo nacional, representando aproximadamente um terço da demanda total.
Globalmente, o mercado de bioinsumos tem projeção de alcançar um valor de US$ 45 bilhões até 2032, com taxas de crescimento anual variando entre 13 e 14%. As culturas de soja, milho e cana-de-açúcar despontam como os principais impulsionadores dessa expansão.
Esses insumos favorecem o crescimento e o desenvolvimento, gerando efeitos positivos em plantas, animais, microrganismos ou em substâncias derivadas, interagindo de maneira benéfica com os processos biológicos, químicos e físicos do ambiente.
As doenças foliares
O manejo de doenças foliares nas lavouras é um dos desafios mais relevantes para os produtores rurais brasileiros. Geovania Rezende, engenheira agrônoma e consultora técnica, explica que essas doenças geralmente surgem em estágios avançados do ciclo das culturas, quando o controle se torna mais complexo e os prejuízos podem ser significativos, comprometendo diretamente a produtividade.
Diante desse cenário, os produtores rurais têm buscado alternativas sustentáveis e eficazes, como os biofungicidas, para o controle de doenças foliares em culturas como soja, milho e algodão. Na safra 2023/24, os biofungicidas foram utilizados em 12% da área cultivada, com maior destaque para as lavouras de soja, milho e hortifrúti.
Segundo Geovania Rezende, o uso de biofungicidas tem apresentado crescimento expressivo nos últimos anos, impulsionado por uma série de vantagens que os tornam atrativos para os produtores. “Entre os principais benefícios estão a excelente relação custo-benefício, a praticidade no manejo durante a aplicação e a alta eficiência no controle e prevenção de doenças foliares e de solo. Essas características posicionam os biofungicidas como uma ferramenta estratégica no manejo integrado de doenças, potencializando a eficiência dos fungicidas químicos”.
Doenças controladas com biofungicidas
Ainda de acordo com a especialista, os biofungicidas têm demonstrado alta eficiência no controle de doenças da soja, especialmente nas Doenças de Final de Ciclo (DFC), como mancha-parda (Septoria glycines), mancha-alvo (Corynespora cassiicola) e cercosporiose (Cercospora kikuchii).
Além disso, são eficazes no manejo de doenças de solo, combatendo uma ampla variedade de fungos fitopatogênicos, incluindo Fusarium spp., Rhizoctonia spp., Sclerotinia sclerotiorum, Pratylenchus zeae e Thielaviopsis paradoxa. Sua aplicação também se estende a outras culturas importantes, como milho, algodão, cana-de-açúcar e hortifruti.
Aliado do campo
No aspecto da sustentabilidade e saúde do solo, os bioinsumos são aliados valiosos dos produtores. Eles reduzem o impacto ambiental e afetam minimamente organismos não- alvo, como insetos benéficos e microrganismos essenciais do solo, preservando o equilíbrio ecológico. Além disso, promovem uma microbiota mais equilibrada, estimulando a atividade de microrganismos benéficos no solo.
Embora apresentem diversas vantagens, Geovania Rezende alerta que os biofungicidas ainda enfrentam desafios que precisam ser superados no campo. “Um dos principais é a resistência inicial de agricultores com uma mentalidade mais tradicional, que estão habituados aos resultados rápidos dos produtos químicos e podem ter dificuldade em confiar na eficiência dos bioinsumos”, pontua.
Além disso, seu uso requer conhecimento técnico para a aplicação em manejo integrado, atenção às condições climáticas ideais, compatibilidade com outros produtos e cuidados específicos com logística e armazenamento.
Confiança na parceria
A seleção de fornecedores confiáveis, que assegurem a qualidade desde a produção até a entrega do produto na lavoura, também é fundamental.
“As empresas de bioinsumos têm desempenhado um papel importante no aumento da eficiência desses produtos no combate a doenças foliares. Elas investem fortemente em pesquisa e desenvolvimento para selecionar cepas mais eficazes, aprimorar formulações com maior estabilidade e viabilidade e capacitar tanto agricultores quanto profissionais técnicos. Esses esforços incluem o uso de tecnologias de ponta, como encapsulamento, modelagem computacional e ferramentas de agricultura de precisão”, enfatiza a agrônoma.
Embora os biofungicidas sejam altamente eficazes como agentes preventivos e sustentáveis, a utilização integrada com defensivos químicos pode trazer resultados ainda mais satisfatórios.
Por isso, recomenda Geovania Rezende, o ideal é que ambos sejam utilizados de forma complementar dentro de um sistema de manejo integrado de doenças (MID). Essa abordagem permite um controle mais eficiente, reduz impactos ambientais e garante a saúde das culturas e do solo a longo prazo.