Catherine Amorim
Engenheira agrônoma, doutora e professora – Instituto Federal Catarinense – Campus Araquari
cath.amorim@gmail.com
O tomate é uma das hortaliças de maior importância, tanto em nível mundial quanto nacional. Segundo dados da FAO, em 2022 foram colhidas cerca de 186 milhões de toneladas de tomate em quase cinco milhões de hectares em todo o mundo.
A Ásia se destaca com quase 64% da produção mundial, com a China como o maior produtor, colhendo aproximadamente 68 milhões de toneladas da hortaliça em 2022. O continente americano figura em segundo lugar, assumindo 12,6% da produção mundial, e o Brasil em oitavo lugar na produção mundial, com cerca de 3,8 milhões de toneladas colhidas em 2022.
Segundo dados do IBGE, o maior produtor nacional de tomate é o estado de Goiás, que produziu 993,4 mil toneladas em 2022.
Demanda garantida
O tomate, tradicionalmente, tem uma alta demanda na mesa do consumidor brasileiro, seja in natura ou na forma de produtos processados, como molho e ketchup, por exemplo. Nesse sentido, formas de cultivo que elevem e acelerem o ciclo produtivo têm sido buscadas. E, nesse campo, o cultivo hidropônico tem se destacado na tomaticultura.
Onde entra a hidroponia
A hidroponia é uma forma de cultivo muito comum em hortaliças, onde não há a presença de solo e normalmente, é em ambiente protegido. A planta cresce em uma solução nutritiva composta por água e nutrientes, e dependendo do porte da planta, pode ou não ser utilizado um substrato inerte para melhor sustentação das raízes.
A solução nutritiva é calculada de acordo com as necessidades da cultura e o tipo de substrato também depende das suas características e disponibilidade na região. No entanto, é importante que este, quando utilizado, seja inerte, uma vez que a única fonte de nutrientes nesse sistema provém da solução nutritiva.
Exemplos de substrato que podem ser utilizados são: vermiculita, perlita, argila expandida, cascalho, areia, casca de arroz carbonizada, turfa, casca de pinus, entre outros.
Culturas beneficiadas
A alface foi a grande responsável pela expansão inicial da hidroponia no Brasil. Depois, o tomateiro ganhou destaque, principalmente pela possibilidade de cultivo em ambiente protegido e controlado, uma vez que se trata de uma cultura muito suscetível a fenômenos climáticos e contaminações vindas do solo.
A comercialização do tomate hidropônico é facilitada pela alta demanda do produto, qualidade superior dos frutos neste tipo de cultivo e constância da oferta, pois o ambiente de cultivo é controlado. Em geral, um produto bem embalado, com uma propaganda chamativa e apelativa para o tipo de cultivo, atrai o consumidor.
Atenção!
Apesar das vantagens, é importante que o produtor tenha em mente que os custos iniciais para implantação desse sistema são elevados, então, exige um maior investimento nessa etapa.
Alguns outros pontos também devem ser atentados, uma vez que é necessária uma maior tecnificação, treinamento, necessidade de energia elétrica constante para o funcionamento do fluxo de solução nutritiva, que não pode parar, e manutenção dos equipamentos.
Técnicas eficientes
Para a produção do tomate hidropônico, duas técnicas são as mais recomendadas, o cultivo com substrato ou o sistema NFT (Técnica do fluxo laminar de nutrientes – Nutrient Film Tencinque).
Para o sistema com substrato, este é colocado em sacos plásticos furados (slabs) ou vasos, onde as mudas são acomodadas. O sistema pode ser aberto ou fechado. O primeiro é aquele onde a solução nutritiva não retorna ao reservatório, bombeada por gotejamento sobre o substrato.
Por sua vez, o sistema fechado se dá em um sistema inclinado – a solução nutritiva é bombeada na parte superior, por gravidade atravessa o sistema, passando pelas raízes das plantas, e retorna por gravidade para o reservatório. A utilização do substrato auxilia na sustentação das raízes, por ser uma planta de maior porte.
O NFT é um tipo de sistema hidropônico fechado sem substrato, muito popular no Brasil. A solução nutritiva circula por canaletas inclinadas, onde estão as raízes das plantas, e retorna ao reservatório, por gravidade. Nesse sistema, o fluxo de solução nutritiva entre as mudas nas canaletas e o reservatório é constante, entre 4 a 7 L min-1.
A espessura da lâmina de água que percorre pelas raízes deve ser o suficiente para que uma parte da raiz fique em contato com a solução, e outra parte com o oxigênio, de modo a não cobri-la por inteiro. O fluxo constante da solução é proporcionado por uma motobomba ligada ao reservatório, que bombeia a solução para a parte superior do sistema.
Detalhes que fazem a diferença
Em ambos os sistemas, substrato ou NFT, é importante o apoio para as plantas, e a escolha de qual sistema implantar depende do poder aquisitivo inicial do produtor. Sistemas mais tecnificados tendem a ser mais caros.
A distância entre os canais de cultivo no sistema NFT ou dos slabs depende principalmente do tamanho da casa de vegetação e do porte da planta. Para o tomateiro a distância recomendada entre as fileiras variam entre 0,90 m a 1,20 m, e entre plantas de 0,30 m a 0,90 m.
A instalação das bancadas no sistema NFT deve acontecer de modo a facilitar o manejo, geralmente na altura da cintura de uma pessoa. O reservatório, normalmente, é uma caixa d’água enterrada no chão, para facilitar o retorno da solução pela gravidade.
A escolha da cultivar é dependente da região, mercado consumidor e sistema a ser utilizado. A condução da cultura precisa da utilização de hastes de apoio, em geral, uma a duas por planta. A quantidade depende da necessidade da cultivar utilizada.
Substratos
Se o sistema escolhido for o com substrato, os mais comuns para o tomateiro são: vermiculita, espuma fenólica, lã de rocha, fibra de coco e organomineral.
A escolha do substrato vai depender das vantagens econômicas sobre ele e disponibilidade de fornecimento na região. E é importante que esse seja adquirido de uma empresa de confiança e qualidade, pois pode vir a ser fonte de contaminações para a cultura.
Para o tomateiro, existem formulações comerciais de solução nutritiva no mercado que também variam com a cultivar, o clima da região e fase de desenvolvimento da planta. A escolha da formulação adequada é um dos grandes segredos para a produção de qualidade e menor custo.
A água utilizada para a diluição dos nutrientes pode ser, desde que potável, de poço artesiano ou recolhida de chuvas. Independente, é importante que a condutividade elétrica da água não ultrapasse 0,5 mS cm-1, e após preparada a solução nutritiva essa seja de até 4,0 mS cm-1, dependo da fase da cultura.
Passo a passo da solução nutritiva
Para o preparo da solução nutritiva, primeiramente é preciso determinar a quantidade com base no número de plantas. Pode-se utilizar para base de cálculo uma média de 4,0 a 7,0 L de solução por planta.
Para preparar, primeiro deve-se diluir os macronutrientes em um balde separado do reservatório, o qual deve ser previamente preenchido com metade de seu volume de água. Após a diluição, esses podem ser adicionados no reservatório.
Para os micronutrientes, é preciso preparar uma solução estoque, dissolvendo-os um a um, com exceção do ferro, que deve ser primeiramente quelatizado. Após, pode-se incorporar a solução estoque ao reservatório.
É importante que a solução nutritiva permaneça sob o abrigo da luz, para evitar o crescimento de algas. O pH da solução é muito importante e deve ser verificado com frequência, para que permaneça entre 5,5 e 7,0.
A condutividade elétrica que determina a quantidade de sais depende da fase de desenvolvimento das plantas, uma vez que as exigências são diferentes. Em fases iniciais, a condutividade geralmente deve estar em torno de 1,5 mS cm-1, subindo para 3,0 a 4,0 mS cm-1, nas fases de maior exigência nutricional, como a de frutificação.
Manejo cultural
Sobre o manejo da cultura, esse é mais simplificado no sistema hidropônico em relação ao solo, necessitando de menos mão de obra. Isso se deve à maior facilidade no manejo, ausência de capinas, menor necessidade de controle fitossanitário devido ao cultivo protegido e ausência de solo (ausência de doenças de solo).
Em linhas gerais, as plantas devem ser conduzidas em tutores e amarradas com fitilhos durante todo o desenvolvimento, e o desbrote deve ser feito em conjunto para formar a arquitetura da planta e eliminar os brotos em excesso.
Podas devem ser realizadas, eliminando-se os ponteiros para reduzir o tamanho das plantas e favorecer os frutos. Por se tratar de um cultivo protegido, a polinização das plantas pode ser feita de forma artificial, balançando as plantas diariamente ou intercalando dias, preferencialmente entre as 11 e 15 horas, horário em que as flores podem ser fecundadas.
É importante também que as inflorescências e frutas sejam raleados, de maneira a garantir frutos com tamanhos maiores. E, por fim, a colheita é realizada de acordo com o ponto de colheita definido, aproximadamente 60 dias após o transplantio das mudas.
Produtividade sem limites
O maior benefício do cultivo hidropônico desta cultura é a produtividade superior que em solo. Isso deve ao maior controle das condições e menor exposição das plantas a condições ambientais desfavoráveis, fitopatógenos e pragas.
Em solo, a produtividade pode ficar em torno de 70 t ha-1, ao passo que em hidroponia, isso pode ser aumentado para 130 t ha-1. Esta é uma forma eficiente de adensar a produção, quando pequenas áreas estão disponíveis. No Japão, o sucesso do tomate hidropônico vai além, e nos mostra como fazer muito com pouco espaço disponível. Com cultivos muito adensados, os japoneses podem alcançar uma produtividade de até 500 t ha-1.
As perspectivas de mercado para o tomate hidropônico são promissoras, e o consumidor tende a aceitar bem esse produto, pagando um valor agregado maior por ele. Um ponto a favor desse tipo de produto é a preocupação da população com a sustentabilidade, tópico em alta nos últimos anos.
A hidroponia utiliza menos água e insumos que o cultivo tradicional em solo, evitando maiores consumos de recursos naturais e contaminação com produtos fitossanitários. Além disso, atende bem ao mercado de produtos saudáveis e livres de agrotóxicos, também em alta no mercado, devido ao ambiente de cultivo controlado permitir a ausência de uso produtos fitossanitários.
Por fim, é sempre importante lembrar da necessidade de investimento e tecnificação para entrar neste ramo de produção, e que a concorrência pode ser alta, pois a tendência é que cada vez mais empresas grandes invistam nesse tipo de cultivo. É sempre importante ponderar todos os fatores e se atentar ao mercado.