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Critérios para um cultivo bem-sucedido de maracujá

Autor

José Carlos Cavichioli
Pesquisador científico da APTA – Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Polo Regional Alta Paulista, Adamantina (SP)
 jccavichioli@apta.sp.gov.br

Crédito Eduardo Augusto Girardi

A qualidade da muda é fator primordial para a obtenção de altas produtividades. O maracujazeiro pode ser propagado por sementes, estaquia e enxertia. A produção comercial no Brasil é feita basicamente com mudas propagadas por sementes. São utilizados dois processos: em sacolas plásticas ou em tubetes. Atualmente temos disponíveis no mercado cultivares desenvolvidas pelo Instituto Agronômico, Embrapa e Viveiro Flora Brasil.

Considerando que os dois principais problemas da cultura do maracujá, a fusariose e o vírus do endurecimento dos frutos podem ser propagados pelas mudas, é fundamental que na produção destas sejam tomadas as medidas necessárias para evitar a infecção por fungos ou vírus.

Assim, as mudas de maracujá a serem adquiridas devem ser produzidas em estufas fechadas com tela antiafídeo e de viveiristas registrados no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

A escolha

Deve-se dar preferência para mudas bem desenvolvidas, com emissão de gavinhas, formadas em sacolas plásticas, com uso de substrato industrializado, à base de casca de madeira e vermiculita, para reduzir os problemas com doenças de solo e nematoides.

As mudas devem ser adquiridas de viveiros credenciados pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e inscritas no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem). O uso de telados antiafídeos é fundamental para evitar a infecção pelo vírus do endurecimento dos frutos.

Novidades

Nos últimos anos, diversas tecnologias estão sendo incorporadas ao cultivo do maracujá como forma de contornar alguns problemas fitossanitários. Entre elas, pode-se destacar o plantio de mudas altas e o uso de enxertia.

No sistema tradicional, as mudas vão para o campo com cerca de 30 cm nos meses de março/abril. No modelo de produção de mudas de porte alto (mudão), as mudas podem ser levadas com mais de 1,5 m de altura nos meses de julho-agosto e tem por objetivo retardar a entrada do vírus do endurecimento dos frutos na lavoura. Nos dois sistemas as mudas devem ser produzidas em telado antiafídeo, protegendo-as do pulgão, hospedeiro do vírus.

A enxertia é uma prática relativamente recente na cultura do maracujazeiro, que aos poucos vem sendo adotada nos plantios comerciais. Trata-se de uma técnica recomendada para áreas que apresentam problemas de patógenos de solo, principalmente o Fusarium sp. O método mais utilizado é o de garfagem por fenda cheia, pela facilidade de realização.

Detalhes

Quando o produtor optar por produzir suas mudas na propriedade, deverá adotar uma série de medidas para evitar o comprometimento das mesmas. As sementes poderão ser obtidas junto aos órgãos produtores como IAC, Embrapa, Epagri, Viveiro Flora Brasil.

O produtor deverá utilizar substrato industrializado, para reduzir os problemas com doenças e utilizar viveiro protegido com telado antiafídeo, para proteger do pulgão, hospedeiro do vírus do endurecimento dos frutos. As mudas deverão ficar suspensas, evitando contato com o solo, para evitar contaminação por patógenos.

Manejo

As mudas de maracujá advindas de sementes são formadas por dois processos – o tradicional ou o sistema de “mudão”. No sistema tradicional, as mudas produzidas em sacolas plásticas ou tubetes vão para o campo com cerca de 30 cm nos meses de março/abril, coincidindo com o período de produção da safra anterior, ou seja, a infecção precoce da planta resulta em queda de produtividade e qualidade do fruto.

No sistema de “mudão” são produzidas mudas de porte alto, em sacolas plásticas e em viveiros protegidos com telado antiafídeo. As mudas podem ser levadas para o campo com mais de 1,5 m de altura até o mês de agosto, após a colheita e a eliminação da cultura anterior. O objetivo é quebrar o ciclo da doença e produzir o maracujá nos meses de dezembro a março, que é o período de maior demanda de suco.

Opções de cultivares

Existem diversas cultivares disponíveis no mercado, como aquelas desenvolvidas pelo IAC, (IAC 273, IAC 275 E IAC 277). Suas sementes são comercializadas pelo próprio IAC. São híbridos selecionados para qualidade de fruto e produtividade.

As cultivares IAC 273 e IAC 277 são destinadas ao mercado de frutas frescas, enquanto o ‘IAC 275’ é mais indicada para a agroindústria, por produzir frutos de casca muito fina, coloração interna alaranjado-intensa e teor de sólidos solúveis totais superior, entre 14 e 16ºBrix. 

A Embrapa disponibiliza as cultivares BRS Gigante Amarelo, BRS Ouro Vermelho, BRS Sol de Cerrado e BRS Rubi do Cerrado. Elas apresentam algumas características comuns, tais como: maior quantidade de vitamina C, bom rendimento de polpa e frutos de dupla finalidade (indústria e mesa), além de maior “durabilidade de prateleira”, por possuírem casca espessa.

As sementes das cultivares ‘FB-200 Yellow Master’ e ‘FB 300 Araguari’ são produzidas e comercializadas pelo Viveiro Flora Brasil, localizado em Araguari (MG). O FB-200 destina-se ao mercado de frutas frescas.

A cultivar AFRUVEC-Sul Brasil foi selecionada para produzir frutos grandes, direcionados ao mercado in natura e com polpa de coloração mais atraente, características também encontradas na cultivar Catarina, registrada pela Epagri.

Cuidados

Recomenda-se retirar sementes de frutos maduros de diversas plantas, a fim de evitar problemas de incompatibilidade, selecionar frutos de plantas sadias, vigorosas e produtivas, que tenham frutos grandes, com alto teor de sólidos solúveis e coloração alaranjada intensa. Após a retirada das sementes, remove-se a polpa, efetuando-se a lavagem e secagem à sombra.

Outros métodos são recomendados, como a fermentação das sementes por dois a seis dias, realizando-se em seguida a sua lavagem e secagem à sombra ou utilizar o liquidificador, tomando-se o cuidado para não danificar as sementes.

A semeadura poderá ser feita em tubetes ou sacolas plásticas, utilizando-se substrato comercial à base de casca de madeira e vermiculita. As mudas estarão prontas para o plantio no campo, após, aproximadamente, 60 a 80 dias da semeadura.

Se optar por mudas enxertadas, esta deverá ser realizada 25 dias após a emergência das plantas, quando os porta-enxertos e enxertos atingiram cerca de 06 a 08 cm de altura e uma a duas folhas definitivas, utilizando-se do método de  garfagem tipo fenda cheia. Como porta-enxerto (cavalo), tem-se recomendado a espécie P. gibertii, conhecido como maracujá de veado.

Na execução da enxertia decepam-se os porta-enxertos abaixo dos cotilédones, abrindo-se uma fenda longitudinal com cerca de 1,0 cm. Procede-se, então, a retirada dos garfos, decepando-se as plântulas doadoras abaixo dos cotilédones, fazendo-se uma cunha em bisel duplo de forma a expor os tecidos do câmbio, utilizando-se para isso de uma lâmina de platina bem afiada do tipo lâmina de barbear.

Na sequência, juntam-se enxertos e porta-enxertos, com cuidado para coincidirem os tecidos cambiais e utiliza-se da fita plástica para envolver a região da enxertia, protegendo-os, evitando-se o seu ressecamento assim como o excesso de umidade.

Depois de enxertadas, as mudas deverão ser colocadas na estufa com tela antiafídeo, colocando-se uma cobertura com tela de sombreamento. Aos 25 dias retira-se a tela de sombreamento e aos 30 dias retira-se a fita dos enxertos. O sistema de irrigação a ser adotado é o de nebulização.

Técnica

As sementes de maracujá-amarelo apresentam uma dormência temporária que tem sido superada com o armazenamento controlado por 30 a 40 dias. O período ótimo de armazenamento das sementes, em geral, possibilita a obtenção de índices de germinação superiores a 95%, valor que decresce cerca de 8% ao mês. Como consequência, depois de seis meses de colhidas, as sementes normalmente são descartadas.

Experimentos realizados pelo IAC demonstraram que sementes de maracujá submetidas a tratamentos térmicos por imersão durante 15 minutos em água aquecida a 35°C por 15 minutos promoveram 83% de germinação. Trata-se de uma operação de fácil aplicação e baixo custo.

Enraizamento de miniestacas

A técnica estudada pelo IAC é realizada com o objetivo de melhorar o aproveitamento de plantas matrizes. Utilizar estacas menores significa economizar material selecionado, quer seja de matrizes de elite de lotes experimentais e de plantações comerciais, como até de espécies silvestres em fase de extinção.

 São utilizadas estacas mais curtas, com uma ou duas gemas e apenas uma meia folha, com cerca de 05 – 08 cm de comprimento. São colocadas para enraizar no centro dos cubos de espuma fenólica de aproximadamente 20 mm de aresta, previamente umedecidas com água. 

Este sistema apresenta os seguintes componentes: bancada ou suporte dos canteiros; canais de cultivo apoiados na bancada; reservatório para solução nutritiva; conjunto moto-bomba e encanamentos (rede hidráulica) e temporizador.

As miniestacas são mantidas em canaletas plásticas feitas a partir de tubos de PVC, perfurados na parte superior a espaços regulares de 05 em 05 cm, pelos quais circula a solução nutritiva a partir de um reservatório, acionada por bomba, em média, durante 10 minutos a cada meia hora, no período diurno. No período noturno, o fluxo é desligado, para permitir a respiração das raízes.

Viabilidade

A hidroponia constitui uma opção muito interessante para enraizar estacas de maracujazeiro-amarelo, diminuindo quase um mês no período necessário para esta finalidade, em comparação ao sistema tradicional. Outra vantagem é o menor tempo que a muda fica exposta a condições de alta umidade, muito propícia à contaminação por patógenos.

A hidroponia pode ser adotada com vantagens na estaquia de matrizes comerciais de campos com escassez de plantas superiores, economizando material propagativo, sem perda de qualidade e com bons índices de aproveitamento.

Poderá vir a ser, também, uma efetiva contribuição à multiplicação de passifloras nativas, em processo de extinção pelo desmatamento, desde que se repita com elas o comportamento obtido com o maracujazeiro-amarelo. Em programas de melhoramento genético, pode ser uma ferramenta muito útil na multiplicação de plantas estratégicas, resultantes de cruzamentos controlados.

Custo

Com exceção do tratamento térmico por imersão de água, as outras técnicas acabam onerando a produção de mudas, por serem mais complexas do que a produção da muda convencional.

São poucos viveiros que produzem e comercializam mudas de maracujá enxertadas ou por estaquia, por tratar-se de uma prática ainda pouco disseminada. Para a obtenção das mesmas, o produtor deve encomendar as mudas com antecedência junto a um viveiro cadastrado no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

Na região produtora da Alta Paulista, encontramos mudas produzidas em tubetes sem enxerto a partir de R$ 0,50 e mudas enxertadas por R$ 1,20.

Viabilidade

O benefício da adoção da técnica é a viabilização de áreas com histórico da doença, o que com mudas normais não é possível, pois estas morrem na fase produtiva do maracujá.

É importante observar que a enxertia não promove o aumento de produtividade no maracujazeiro-amarelo em condições normais, ou seja, nas áreas em que não tenham a ocorrência dos fungos de solo. Os ganhos de produtividade só poderão ser observados em áreas com histórico da doença. Por isso, atualmente o uso de mudas enxertadas só é recomendado para estas áreas. Entretanto, o plantio de mudas de qualidade propicia lavouras mais produtivas, frutos mais sadios e maior longevidade da cultura.

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