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Cultivo consorciado de alface tem mais produtividade?

Autores

Arthur Felipe Eustáquio e Silva
arthureustaquio22@gmail.com
Sarah Maysa Perim Silva
saraahpe@gmail.com
Graduandos em Agronomia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Roberta Camargos de Oliveira
Engenheira agrônoma e pós-doutoranda – ICIAG-UFU
robertacamargoss@gmail.com
Fernando Simoni Bacilieri
Engenheiro agrônomo e doutor em Produção Vegetal – ICIAG-UFU
ferbacilieri@zipmail.com.br
Créditos Shutterstock

A olericultura é o grupo de culturas que engloba as hortaliças no geral, desde alface, repolho, couve, cenoura, cebola, tomate, dentre outros, que podem ser classificadas de acordo com a parte comestível, como raízes, bulbos, frutos, folhas, tubérculos.

As folhosas, como coentro, rúcula, chicória, salsa e agrião são fortes representantes do setor hortifrúti. A alface é a responsável por grande parte da produção do País, movimentando aproximadamente 47% do mercado de folhosas no Brasil.

As hortícolas podem ser produzidas em sistemas de produção mais sustentáveis, e com isso ganham espaço nas unidades familiares para a produção orgânica, mercado este que está em ascensão, enfatizando qualidade, diversidade, sustentabilidade e saúde.

Assim sendo, e diante das características específicas da agricultura familiar, da olericultura e, sobretudo, da produção orgânica, torna-se possível traçar expectativas de agregação de valor e melhorias na renda para o setor.

As hortaliças mostram vantagens sobre as outras culturas. A alface possui diversas propriedades nutricionais que estimulam o consumo humano, entre elas baixo teor calórico, é rica em vitaminas, sais minerais e fibras (como A, E, C, B1, B2, B3, além de cálcio, magnésio, potássio e sódio), proporciona sensação de saciedade, regula o intestino, fortalece as vias respiratórias, previne a anemia e combate os radicais livres.

Com o aumento no consumo e exigências do mercado, torna-se necessário a obtenção e utilização de tecnologias para otimizar a produção. Para isso, centros de pesquisas públicos ou privados buscam formas de melhorar e capacitar as pessoas/famílias envolvidas no processo de produção.

Consorciação

Para suprir a demanda que o mercado deseja, é necessário o aprimoramento no processo de produção. Diante dos preceitos de sustentabilidade e com o intuito de conservar os recursos naturais e produzir hortaliças com qualidade, é fundamental que o horticultor tenha acesso ao uso de tecnologias e métodos compatíveis com o sistema de produção.

A utilização do cultivo consorciado é uma técnica que expressa resultados favoráveis no desenvolvimento da produção. A forma consorciada do plantio permite uma interação biológica benéfica para todas as espécies cultivadas. Além disso, possibilita a otimização do uso de recursos ambientais, como nutrientes, água e radiação solar, uma vez que as espécies de plantas possuem ciclos de crescimento diferentes.

As vantagens do sistema de associação de culturas parte da maior produção de alimentos por área, estabilidade de rendimento no sistema consorciado, pois, se uma das culturas falha ou se desenvolve pouco, a outra pode compensar.

Há, ainda, melhor controle das plantas daninhas, em razão da presença, nesse sistema, de uma comunidade de espécies mais competitivas, no espaço e no tempo, do que no monocultivo. A associação de plantas é uma técnica que contribui com a melhoria da eficiência do uso da terra e maximiza o uso de recursos ambientais, além de propiciar maior equilíbrio ecológico.

O que entra?

A seleção das espécies que compõem o consórcio é determinante e leva em consideração características morfológicas, exigências nutricionais, hídricas e fotossintéticas, além da época ideal de introdução das espécies nos canteiros de produção.

Assim, é possível criar condições favoráveis para cada espécie expressar seu potencial produtivo, sem que haja prejuízos causados pela competição por elementos essenciais ao desenvolvimento, além de proporcionar maior proteção ao solo contra agentes erosivos. Mas, cuidado! A escolha errada de espécies no sistema de cultivo consorciado pode inviabilizar todo o seu processo de produção, causando prejuízos irreversíveis.

As folhosas

A alface é uma folhosa com desenvolvimento radicular superficial e tem ciclo de desenvolvimento curto, o que possibilita seu consórcio com outras espécies, principalmente com aquelas que apresentam reduzida competição direta por radiação solar e por espaço.

Ao optar por esse sistema de cultivo é interessante utilizar plantas de porte, raízes e ciclos diferentes, facilitando a sua manutenção pelo período que estiverem produzindo. Dessa forma, diminui a possibilidade de erro na escolha das culturas associadas.

 Como exemplo, temos a associação de alface e cebola como opção de cultivo simultâneo com espécies folhosas, por apresentar hábito de crescimento ereto e ciclo mais longo, possibilitando, inclusive, colheitas em períodos escalonados do ciclo produtivo. 

Koefender et al. (2016) demonstraram a viabilidade da produção simultânea entre alface e cebola em diferentes espaçamentos. Os resultados obtidos foram satisfatórios para a cultura da alface, mostrando melhor produtividade para os espaçamentos de 20 e 30 centímetros.

Considerando a cebola como cultivo principal, Paula et al. (2009) obtiveram resultados satisfatórios no cultivo simultâneo com alface no sistema orgânico de produção, não ocorrendo redução na produtividade da cebola quando comparada com o cultivo solteiro.

Luciane et al. (2019) comprovaram eficiência do sistema de produção consorciado entre alface-cebolinha e alface-coentro, comparando os resultados com a produção solteira da cultura. Nas avaliações de características morfológicas e vegetativas, o sistema de consórcio alface-cebolinha mostrou ter maior eficiência, obtendo valor de massa fresca 51% maior do que o tratamento solteiro.

Em relação às características de produtividade, como quantidade de folhas, altura e diâmetro, o consórcio alface-cebolinha mostrou diferença significativa comparada com o tratamento solteiro, com 12 folhas por pé contra 10 folhas no sistema solteiro.

O consórcio alface e cebolinha foi o que obteve o melhor Índice de Equivalência de Área (2,66), mostrando-se eficiente. Isso significa que seriam necessários 166% a mais de área no cultivo solteiro de ambas as culturas para que a produção se igualasse ao cultivo consorciado.

Esse fato foi confirmado pelas análises dos parâmetros do consórcio entre essas culturas que foram, em sua maioria, superiores e significativos em relação aos demais tratamentos

Viabilidade

O cultivo consorciado com a cultura da alface possibilita maior produtividade, obtenção de maior produção em menor área, e ainda assim cultivar diferentes culturas ao mesmo tempo, reduzindo as possibilidades de prejuízo, uma vez que o agricultor não dependerá apenas da comercialização de um produto, mesmo quando o mercado não apresentar remuneração favorável.

Porém, o método torna-se inviável quando as culturas associadas tiverem as mesmas características de desenvolvimento, o que impossibilita a obtenção de produtividades satisfatórias.

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