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quinta-feira, abril 25, 2024
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Dendrometria: Ferramenta de decisão na irrigação do cafeeiro

Autores

Fernanda Moura Fonseca Lucasfernanda-fonseca@hotmail.com

Stephanie Hellen Barbosa Gomesstephaniehellen2011@gmail.com

Engenheiras florestais e mestrandas em Engenharia Florestal – Universidade Federal do Paraná (UFPR)

João Gilberto Meza Ucella FilhoEngenheiro florestal, técnico em Agronegócio e mestrando em Ciência e Tecnologia da Madeira – Universidade Federal de Lavras (UFLA)16joaoucella@gmail.com

Dendrometria – Crédito: Shutterstock

 Com intuito de promover o uso racional da água em práticas agrícolas, bem como possibilitar a expansão da produção de culturas em áreas limitadas por este recurso, técnicas para detectar o estresse hídrico de plantas em campo podem contribuir para o manejo da irrigação.

Diferentes métodos são estudados, com intuito de validar a maneira mais adequada em determinada cultura. Para detectar o déficit hídrico das plantas, as técnicas relacionadas ao comportamento fisiológico, tornaram-se mais eficientes do que as interpretadas por meio de fatores ambientais, pois lidam diretamente com respostas do próprio vegetal.

Assim, um dos modelos para monitorar o crescimento e a resposta fisiológica das plantas frente às condições climáticas é a técnica de dendrometria (Kiss; Kaletova, 2019). A dendrometria consiste no monitoramento por meio da medição das plantas, sendo uma das variáveis obtidas o diâmetro do tronco em uma altura padrão.

Como funciona a técnica?

Os dendrômetros com sensores funcionam como tradutores das respostas fisiológicas vegetais. O dendrômetro de precisão, também conhecido como LVDT (Linear variable displacement transducers), são acoplados ao caule do vegetal em uma altura referência e os sensores são conectados a um datalogger, permitindo realizar o acompanhamento contínuo das plantas e o armazenamento dos dados.

Estes captam pulsos elétricos e convertem em sinais micrométricos, sua análise permite enxergar microvariações de expansão e retração do caule.

O diâmetro do tronco possui uma variação diária, alcançando o seu valor máximo pela manhã antes do nascer do sol e o valor mínimo no período da tarde. A diferença entre o valor máximo e mínimo, chamada de amplitude máxima diária, permite compreender o status hídrico do vegetal, uma vez que o potencial hídrico da planta diminui com o aumento desta amplitude (Souza et al. 2011).

Assim, ao monitorar as dilatações e retrações do caule juntamente com outras variáveis, como exemplo o conteúdo de água no solo, é possível correlaciona-las e estabelecer índices capazes de subsidiar o manejo da irrigação. Outro fator importante é acompanhar as variações do diâmetro conforme as mudanças na fenologia das plantas, surgimento de flores e frutos, que podem modificar as atividades de condução da água.

Validação da dendrometria em cafeeiros

Pesquisadores relatam que a dendrometria é uma técnica promissora para o manejo da irrigação. No Brasil, estudos aplicando a técnica em uma área produtiva em Minas Gerais confirmam que as microvariações do diâmetro em plantas de cafés jovens têm relação direta com a disponibilidade hídrica, permitindo validar este tipo de técnica para uso em cafeeiros.

No caso do café, esta medição do diâmetro do caule para se tornar um indicador satisfatório deve ser relacionada com outros parâmetros, como: potencial de água na folha, variáveis meteorológicas e disponibilidade hídrica no solo.

A eficiência da técnica para o manejo da irrigação se dá principalmente às contrações do tronco, pois é uma das mais sensíveis alterações relacionadas às atividades de água na planta. 

Possíveis erros

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Devido à gama de variedades de culturas agrícolas, os estudos com a temática no Brasil ainda são incipientes. Assim, a falta de relatos sobre a localização adequada dos sensores para determinada espécie, torna-se um erro recorrente.

Em árvores frutíferas e outras plantas de grande porte, os dendrômetros são instalados na lateral do caule, oposta a exposição solar para reduzir os efeitos negativos do aquecimento solar no aparelho, também devendo estar a certa distância do solo para evitar a interferência do crescimento de daninhas e em uma posição longe de superfícies irregulares do tronco.

Para cultivos de café, estudos obtiveram bons resultados para sensores acoplados 10 cm acima da superfície do solo.

 Outra problemática confere-se a precisão dos aparelhos, embora os sensores do tipo LVDT sejam robustos e de alta precisão, em muitos casos, a resolução dos dados é interferida devido a erros associados à calibração, registro de tensão, mudanças de temperatura e entre outros fatores. Assim, toda a área deve ser coberta com material isolante e termoprotetor refletivo para reduzir o aquecimento por radiação solar direta e o impacto da chuva (Fernandez, 2017).

Vantagens e desvantagens

A vantagem da técnica é o monitoramento contínuo e eficiente por se tratar de resposta do próprio vegetal, é um método automatizado, diminui as operações de trabalho em campo. Na prática, esse conhecimento otimiza o dimensionamento do sistema podendo economizar custos e tempo de implantação e manejo em uma escala temporal, ou seja, elevando a produção agrícola e reduzido consumo de água.

 No entanto, estudos apontam dificuldades na ausência de hardwares e softwares que possam oferecer uma linguagem mais clara possibilitando que os produtores rurais compreendam o dinamismo dos dados obtidos com mais facilidade.

O número de sensores também pode ser uma desvantagem, embora possuam uma longevidade, os aparelhos necessitam de manutenção, pois estão sujeitos a obstrução por insetos e podem ser danificados pela ação intensa do sol e das chuvas. Além disso, a comercialização destes equipamentos em suma é realizada por empresas multinacionais o que reflete em um custo elevado para investimento inicial.

Em um estudo realizado pela Universidade Estadual do Norte Fluminense no Rio de Janeiro, foi possível a obtenção de um modelo de fabricação própria e de baixo custo, que permitiu o monitoramento de cafeeiros com desempenho semelhante aos encontrados no mercado (Souza, 2009).

Considerações finais

A decisão do método para subsidiar o manejo da irrigação de cafeeiros é um processo que inicialmente pode ser dispendioso, mas caso realizado de maneira adequada poderá apresentar um impacto positivo no lucro final.

Segundo o pesquisador Waldir Marouelli (Embrapa Hortaliças), produtores que realizam técnicas de controle e empregam manejo adequado da irrigação para suas culturas, podem apresentar um aumento de 10 a 30% na produtividade, bem como economia no consumo de água e energia de 20 a 30%.

Os estudos nacionais para o cultivo de café demonstram a eficiência do método dendrométrico, no entanto, faltam informações sobre o número de indivíduos que devem ser monitorados em campo. Recomendamos para uma implantação segura da técnica a realização de análises econômicas detalhadas e estudos básicos para área em questão, para que assim, possa-se alcançar a sustentabilidade financeira e ecológica.

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