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Desbrota em cafeeiros recepados: por onde começar?

Alisson André Vicente Campos
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitotecnia (UFLA), coordenador de pesquisa e consultor em cafeicultura – Fronterra
alissonavcampos@yahoo.com.br
Marina Scalioni Vilela
Engenheira agrônoma, doutora em Fitotecnia (UFLA) e pesquisadora/professora visitante – IFSuldeMinas/EMBRAPII Agroindústria do Café
marina.scalioni@outlook.com
Gabriela Ribeiro Gontijo
Engenheira agrônoma, mestra em Fitopatologia e doutoranda em Fitotecnia (UFLA)
gabrielargont@gmail.com

Os brotos que crescem em grande número nos tocos de cafeeiros recepados podem ter sua desbrota facilitada pelo uso prévio de um raleamento mecânico. Na condição de lavouras de café bem fechadas e que perderam de forma drástica os ramos laterais saídos das hastes principais, um tipo de poda indicado é a recepa baixa.

Mas, como ela prevê a reforma/renovação total da copa dos cafeeiros, perdendo-se praticamente duas safras, deve ser a última alternativa no uso de podas.

O raleamento mecânico facilita a desbrota por ter um rendimento operacional maior do que a operação realizada de forma manual, removendo os brotos ainda pequenos, sem que eles consumam fotos assimilados que poderiam ser destinados para outras partes do cafeeiro.

Outra importante questão é que a operação manual não é realizada de forma ergonômica pelo trabalhador, apresentando este ganho na forma mecanizada.

Poda drástica

A recepa baixa é um tipo de poda drástica que envolve o corte dos cafeeiros a uma altura de aproximadamente 30 – 40 cm do solo, respeitando a altura de ocorrência das gemas.

A decisão de realizar esse tipo de poda deve seguir alguns critérios de recomendação para maximizar seus benefícios. O manejo de poda irá trazer benefícios em lavouras que não possuam falhas no estande de plantas e possuam espaçamentos atualizados.

Em cafeeiros mais velhos, normalmente com idades superiores a 10 anos, a poda do tipo recepa contribuirá com a renovação dos brotos e a recuperação do vigor e produtividade, sem a necessidade do investimento em replantio de mudas.

A poda drástica do cafeeiro pode ser empregada como manejo de recuperação dos cafezais após condições climáticas adversas, como chuva de pedra ou geada, as quais, dependendo da intensidade, podem ocasionar a morte do terço superior e médio das plantas.

Partindo do mesmo princípio, plantas que sofreram algum tipo de injúria por praga ou doença de forma muito severa podem ser recuperadas com o manejo de poda. Para o sucesso deste tipo de manejo, o solo deve estar em condições de suprir as demandas da planta para a produção de brotos, sendo essencial o manejo equilibrado da fertilidade do solo e nutrição das plantas.

Outro fator a ser levado em consideração para tomar a decisão de podar é a genética da planta. Algumas variedades são menos responsivas à poda ou podem possuir maior potencial de emitir brotações, o que pode dificultar o manejo pós-poda de condução de brotos.

Benefícios da recepa baixa

Apesar da perda temporária de duas safras, a recepa baixa oferece diversos benefícios a longo prazo, como a renovação da copa devido ao crescimento de ramos mais vigorosos e produtivos, além da recuperação da saia do cafeeiro, o que resulta em ganhos de produtividade.

A poda pode trazer benefícios em qualidade de bebida devido à a recuperação do vigor das plantas. Do mesmo modo, ao renovar os brotos pode-se eliminar partes infectadas por patógenos que servem de inóculo e prejudicam a saúde das plantas, recuperando o potencial de produtividade e qualidade do cafeeiro.

Além disso, o manejo da poda do tipo recepa pode aumentar a eficiência das operações mecanizadas, sobretudo a colheita. A condução de novos brotos e a recepa de ruas alternadas, por exemplo, irá facilitar a mecanização de áreas onde essa prática não era eficiente devido à altura das plantas e adensamento do cafezal.

Recuperação eficaz da produção

Para garantir que a desbrota resultante da recepa baixa seja eficaz e leve a uma recuperação produtiva, é necessário um bom manejo pós poda de condução das brotações. A adubação para o fornecimento de nutrientes de maneira equilibrada é essencial para o crescimento vigoroso das novas brotações.

Além disso, é necessário o manejo da água do solo para garantir que as plantas serão eficientes na absorção de nutrientes e no uso da água, sobretudo em regiões com maior predisposição a ocorrência de estresse hídrico.

O manejo fitossanitário é essencial para a formação dos novos brotos saudáveis que suportarão as futuras produções. Dessa forma, o manejo de plantas daninhas é essencial, visto que após a recepa existe uma área exposta mais propícia à ocorrência dessas plantas indesejadas, as quais irão competir por água e fotoassimilados, podendo prejudicar a brotação do cafeeiro.

Outro aspecto a ser considerado é a capação dos brotos. A quantidade de brotos a serem deixados por planta (mínimo de dois por planta) varia de acordo com o espaçamento. Quanto maior o espaçamento entre as plantas, recomenda-se deixar mais brotos no cafeeiro, podendo chegar em até 10.000 hastes por hectare.

Além disso, os brotos que serão conduzidos na planta devem ficar no sentido da linha do cafeeiro, para que não sejam quebrados facilmente em operações mecanizadas na lavoura, principalmente a colheita.

A recepa baixa pode ser uma estratégia eficaz para revitalizar os cafeeiros, resultando em plantas mais vigorosas e saudáveis, com incrementos em produtividade e qualidade no longo prazo.

Práticas de manejo

A recepa baixa, por emitir brotos na parte mais baixa do caule, deve ser realizado o raleamento para a planta não ficar abafada. Além dessas operações, o manejo fitossanitário deve ser realizado para proteção após a desbrota, sendo porta de entrada para doenças fúngicas e bactérias.

Outra importante operação realizada em cafés desbrotados é o manejo de plantas daninhas, para evitar que as plantas sofram competição por água, luz e nutrientes.

Desafios

Na prática, dentro da propriedade rural o produtor pode enfrentar dificuldades para a implementação da recepa baixa. Dentre os vários motivos pelos quais isto pode acontecer está a recuperação da lavoura, que pode levar cerca de dois anos e impacta na produção e finanças da propriedade.

É necessário, então, um bom planejamento financeiro, sendo o plantio de culturas intercalares uma alternativa para obtenção de renda adicional.

Outro fator importante a ser calculado é a escassez e o alto custo da mão de obra. Uma alternativa para redução dos custos é a adoção de máquinas para a realização da recepa, utilização de raleamento mecânico e o treinamento adequado do pessoal para a fase de desbrota.

Para o sucesso da poda e boa recuperação da lavoura, é fundamental uma boa seleção dos brotos, conservando apenas os mais vigorosos para serem conduzidos. Além disso, é necessário a adoção do manejo integrado de pragas e doenças para a proteção dos novos brotos.

A orientação de um engenheiro agrônomo e o treinamento do pessoal sobre as práticas a serem adotadas com certeza contribui para uma maior assertividade no momento da poda.

Fotos neste artigo: Ivanir Maia

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