
O pistache, antes um produto de consumo restrito, se tornou popular no Brasil, aparecendo em sobremesas como sorvete e cheesecake, além de pratos como esfiha e pão de queijo. Essa crescente demanda resultou em um aumento significativo nas importações, que triplicaram desde 2022, passando de 350 toneladas para mil toneladas em 2024. Atualmente, 100% do pistache consumido no país é importado.
Para viabilizar o cultivo, a Embrapa Agroindústria Tropical apresentou um planejamento à Federação de Agricultura e Pecuária do Ceará neste ano. Os planos são de iniciar o cultivo no Ceará até 2027, com expectativa de colheitas a partir de 2035. O projeto inclui uma imersão na Universidade da Califórnia para entender as características do cultivo do pistache, que é originário da Pérsia. Os Estados Unidos, que detêm 63% da produção mundial, têm um século de experiência em adaptação da planta ao clima californiano. A aclimatação do pistache aos trópicos cearenses pode levar de 10 a 15 anos de pesquisas.
O objetivo é investigar a possibilidade de adaptar a semente às condições locais, visando a produção de uma das variedades mais caras e valorizadas no mercado global. A pesquisa encontra-se ainda em estágio embrionário, sem a formalização de acordos definitivos entre as partes. No Ceará, a Embrapa planeja importar material genético dos Estados Unidos para dar início aos experimentos ainda este ano.
O chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tropical, Gustavo Saavedra, explica que o pistache necessita de 60 a 90 dias de frio, com temperaturas em torno de 10ºC, para crescer e emitir flores, condição inexistente no Ceará. Para contornar essa limitação, a Embrapa aposta no uso de hormônios e indutores que estimulam a emissão de flores.
Apesar do êxito com outras espécies, como macieiras e caquizeiros, Saavedra ressalta que “não é tão simples: uma coisa é plantar, outra é produzir comercialmente. O processo de tropicalização do pistache exige expertise ainda inexistente no Brasil.”
Bases científicas e estudos preliminares
Atualmente, não há dados concretos que garantam o sucesso do cultivo de pistache no Ceará. Estudos realizados pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) em 2005 apontaram duas áreas potenciais no Brasil: o sul do país, pelas semelhanças climáticas com regiões produtoras, e o semiárido nordestino, devido ao êxito na tropicalização de outras frutas. “A próxima etapa é realizar estudos diagnósticos e técnicos para embasar uma possível estruturação da cadeia produtiva”, afirma Saavedra.
Importação do material genético
O processo de importação de material genético é longo e envolve várias etapas. Saavedra explica que, após o acordo entre as partes doadoras e receptoras, são realizadas avaliações de pragas e doenças pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, unidade especializada em quarentena de plantas. “Se o material for aprovado, ele é nacionalizado; do contrário, é incinerado e o processo recomeça”, detalha.
Cronograma e primeira colheita comercial
Segundo Saavedra, a primeira colheita comercial só deve ocorrer entre 2035 e 2040. “Esse prazo contempla diagnóstico, importação, nacionalização e estudos técnicos. Se tudo der certo, a produção começa em 2033, atingindo o auge produtivo por volta de 2036”, explica. Ele destaca que produtores mais ousados podem iniciar o cultivo antes da consolidação total das pesquisas.

Impacto nos mercados nacional e internacional
Sobre o impacto da produção local no mercado, Saavedra é cauteloso. “Não há como prever. Primeiro precisamos verificar se a produção será viável e em que volume”, diz. Já em relação à demanda interna, o consumo de pistache no Brasil quintuplicou nos últimos três anos, impulsionado pelo uso em produtos alimentícios, como sorvetes e sobremesas. “O mercado cresce, mas é difícil prever o comportamento em 15 anos”, pondera.
Perspectivas e inovações
Apesar das incertezas, o projeto representa um marco na inovação agrícola tropical. A tropicalização do pistache poderia posicionar o Brasil como pioneiro em uma cultura de alto valor agregado, diversificando a produção e gerando oportunidades econômicas no semiárido nordestino. Para Saavedra, “a pesquisa avança com desafios; esse é mais um que estamos prontos para enfrentar”.
