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Enfezamento do milho: E agora?

Autor

Márcio Antônio Pereira do CarmoBiólogo e doutorando em Agronomia/Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) – marciocarmobio@gmail.com

Milho – Crédito: André Aguirre

O Brasil ocupa lugar de destaque na produção de milho, sendo o terceiro produtor mundial. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção brasileira na safra 2020/21 será de 110 milhões de toneladas, numa área de 19,8 milhões de hectares, ficando a primeira safra com 4,5 milhões de hectares e a segunda com 14,4 milhões de hectares.

Vários fatores podem comprometer a produtividade da cultura do milho e, neste contexto, as doenças são um dos mais importantes. As principais patologias da cultura do milho são: mancha branca, cercosporiose, ferrugem polissora, ferrugem tropical, ferrugem comum, helmintosporiose e os enfezamentos pálidos e vermelho.

Nos últimos anos, os enfezamentos se tornaram uma das doenças mais relevantes da cultura do milho devido a fatores que propiciaram o seu crescimento, como o aumento do cultivo do milho segunda safra e o uso de lavouras irrigadas.

Esses fatores atuam quebrando a sazonalidade de plantio, aumentando a pressão de pragas como cigarrinhas do milho e, consequentemente, o surgimento de doenças como o enfezamento pálido e vermelho.

A seguir, entenda mais sobre o vetor dos enfezamentos e as principais medidas de controle.

Cigarrinha-do-milho (Daubulus maidis)

A cigarrinha do milho é um inseto Hemíptera com cerca de 5,0 mm de tamanho. Possui coloração amarelo-palha e apresenta duas manchas circulares negras bem marcadas na coroa. Esse inseto infesta as plantas de milho no interior do cartucho, causando danos diretos e indiretos, pois podem ser vetores dos molicutes Phytoplasma e Spiroplasma kunkelii, agentes causais dos enfezamentos vermelho e pálido, respectivamente, além da virose-da-risca do milho (Oliveira; Pinto; Fernandes, 2013).

Encontrada no Brasil durante todo o ano, a cigarrinha possui seu pico populacional nos meses de fevereiro a abril, época que se destaca pelo cultivo do milho segunda safra, e menor intensidade de chuvas, favorecendo a infestação e reprodução dos insetos (Meneses, 2015).

Apresenta a capacidade de migrar a grandes distâncias, colonizando campos de milhos recém-germinados. Ao se alimentar da planta, são capazes de transmitir doenças, resultando em perdas substanciais de rendimento e qualidade (Summers; Newton; Opgenorth, 2004).

Apesar de poderem se hospedar em outras gramíneas, como sorgo e braquiária, esses insetos só se reproduzem na planta de milho, no qual fazem sua postura abaixo da epiderme foliar. Seu ciclo de vida pode variar de acordo com a temperatura média local.

Em lugares com temperatura média de 23,4°C, o ciclo dura cerca de 20 dias, no outono, quando a temperatura média é de cerca de 20,5°C durante 30 dias, e no inverno, locais com temperatura média em torno de 16 °C durante 39 dias (Marín, 1987).

Complexo do enfezamento do milho

O complexo de enfezamento corresponde à denominação utilizada para as três doenças sistêmicas, causadas por três agente patogênicos distintos entre si, que são transmitidos pela cigarrinha podendo infectar isoladamente ou simultaneamente uma planta de milho (Silva, 2002).

Dependendo do ano, do sistema de produção, da cultivar utilizada, dentre outros fatores, essas doenças podem reduzir em até 70% a produção. As doenças causadas pelo complexo de enfezamento são: enfezamento pálido, enfezamento vermelho e virose da risca do milho (MRFV).

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Enfezamento pálido Doença causada pela infecção do floema da planta de milho por um microrganismo denominado Spirosplasma kunkelii (Classe Mollicutes). Os sintomas do enfezamento pálido caracterizam-se pela presença de faixas cloróticas ou esbranquiçadas, que se estendem da base das folhas em direção ao ápice. Com isso, ocorre a redução do tamanho das plantas e das espigas.
Enfezamento vermelho Caracterizado por um avermelhamento generalizado das plantas, uma proliferação de espigas, redução na altura das plantas e a presença de faixa clorótica ou esbranquiçada que se estende do ápice das folhas para a base. Pode ocorrer encurtamento dos internódios do colmo da planta e espigas pequenas com pouco ou sem grãos.
Virose da risca do milho Essa doença é gerada devido à infecção do tecido meristemático do mesófilo foliar e do floema da planta de milho provocada pelo Maize rayado fino do vírus (MRFV). Ela é caracterizada pela formação de pequenos pontos cloróticos que se estendem ao longo da nervura secundária das folhas a partir da base. Pode, ainda, causar redução na produção de milho, que varia de 10 a 100%, dependendo do ambiente e do estádio de desenvolvimento em que a planta foi infectada.

Métodos para diminuir a ocorrência dos enfezamentos

Não existe uma medida eficiente única para controlar o complexo do enfezamento, mas podem ser adotados alguns métodos que, sozinhos ou associados, podem minimizar a ocorrência de enfezamentos. Abaixo são listrados alguns desses:

þ Evitar plantas voluntárias: plantas voluntárias são provenientes dos grãos remanescentes da colheita (milho tiguera). Essas plantas proporcionam a proliferação de inóculo dos molicutes e do vírus da risca, além de aumentar a densidade da população de cigarrinhas. Para evitar ou diminuir a sua ocorrência, deve ser feita uma boa colheita, evitando ao máximo a perda de espigas e grãos. Pode ser feito também o controle químico dessas pragas antes do plantio.

þ Evitar semeadura próximas a lavouras adultas: as cigarrinhas podem migrar para a lavoura em formação. Sempre que possível, deve-se sincronizar os plantios de uma região, o que impede que cigarrinhas migrem de lavouras mais velhas para as mais novas.

þ Fazer o tratamento das sementes: deve-se fazer o tratamento das sementes com inseticidas para o controle da cigarrinha, e sempre que necessário, realizar uma ou duas pulverizações para o controle desses insetos nas fases iniciais da cultura. Outros métodos são recomendados, como a rotação de cultivares e utilização de cultivares tolerantes. Esses métodos, adotados em conjunto, diminuem a ocorrência de doenças.

Considerações Finais

Os enfezamentos vieram para ficar, mas é possível serem manejados. Não existe um método único para o controle dos enfezamentos, sendo necessário a combinação de vários métodos para evitar os danos causados por estes patógenos, como a eliminação das tigueras, evitar plantar milho próximo a lavouras doentes, rotacionar cultivares de milho, e se possível realizar vazio sanitário, dentre outros.

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