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Julio César Guerreiro
Doutor e professor do Departamento de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Antônio Carlos Busoli
Doutor e professor do Departamento de Fitossanidade da Universidade Estadual Paulista (UNESP- Campus de Jaboticabal)
O enxofre (S) pode ser considerado um dos primeiros inseticidas utilizados pelo homem. Existem relatos de sua adoção para o controle de ácaros e insetos pelos antigos sumérios (povo que habitava a região onde se encontra hoje o Iraque), cerca de 2.500 anos antes de Cristo.
Além do controle de pragas, os sacerdotes de sociedades antigas utilizavam a queima do enxofre para o desencadeamento do efeito fumegante, que era utilizado em rituais de purificação de ambientes, pois segundo a crença popular da época todos os males e doenças eram espalhados pelo ar.
Existem estimativas que colocam este elemento como o nono mais abundante do planeta, e pode ser encontrado como sulfeto, sulfato, além do enxofre elementar. O enxofre pode ter papel importante como nutriente de plantas, pois participa de numerosos compostos como aminoácidos e proteínas.
Destaca-se, porém, sua ação como elemento participante de metabólicos secundários presentes em plantas que, na maioria das vezes, são compostos ativos que se manifestam por ocasião de estresse ocasionado por pragas e doenças.
No controle de pragas
Do ponto de vista do controle de pragas, o enxofre pode ser considerado um inseticida-acaricida inorgânico, pois não possui carbono em sua fórmula estrutural.Além disso, é um produto estável quimicamente, que não evapora e que pode ser solúvel em água de acordo com sua formulação.
A utilização do enxofre para o controle de pragas e doenças é uma das práticas mais antigas utilizadas desde o desenvolvimento da agricultura, porém, seu emprego ainda tem grande efetividadeem algumas culturas.
Atualmente, sua utilização pode ser destacada no Manejo Integrado de Pragas (MIP) para o controle das mais variadas espécies de ácaros pragas, insetos e doenças de culturas importantes no contexto do agronegócio, pois na maioria das vezes trata-se de um produto consideradoseletivo a inimigos naturais,além de pouco tóxico ao homem e com baixa periculosidade para o ambiente.
Na citricultura
A cultura dos citros, por exemplo, sofre com o ataque constante do ácaro da falsa-ferrugem ,Phyllocoptrutaoleivora, praga considerada primária dessa cultura. Os prejuízos de P. oleivora sãorelacionados à produção de suco para a indústria e aparência do fruto destinado para o comércio in natura, pois seu ataque faz com que a casca do fruto se torne mais rÃgida e de coloração escura.
Outro ácaro praga que o enxofre causa maior mobilidade nos frutos pelo poder fumegante, é o ácaro-da-leproseBrevipalpusphoenicis, que em mistura com acaricidas específicos, proporciona maiores períodos de controle de populações.
Uma das formas mais eficientes para o controle dessa praga é pela utilização de formulações de acaricidas à base de enxofre. Sua pulverização pode garantir a proteção dessa planta por até 60 dias após a aplicação, além de não afetar a entomofauna benéfica presente nos citros.
Outro exemplo interessante de utilização do enxofre diz respeito ao controle de pragas em sistemas de plantios orgânicos.Devido às várias restrições de utilização de agrotóxicos sintéticos para o controle de pragas e doenças, uma das únicas possibilidades de controle desses organismos é pela utilização da calda sulfocálcica.
Essa calda é resultado do preparo a quente da mistura enxofre, cal virgem e água, que, além de ter ação fúngica, inseticida e acaricida, pode ser uma forma de incrementar a fertilização foliar.
Enxofre contra lagartas
Atualmente, uma das principais especulações sobre o ponto de vista do controle de pragas é a utilização do enxofre para o controle de lagartas, seja pela pulverização de forma isolada ou em adição aos inseticidas,mistura que tem como finalidade melhorar a eficiência de controle dessas pragas por um período mais longo de proteção de plantas.
As lagartas são insetos que se encontram na fase jovem, pertencentes à ordem Lepidoptera, composta por borboletas e mariposas. Trata-se de um grupo de pragas extremamente importantes, que causam danos nas mais variadas plantas, sejam essas produtoras de grãos, olerícolas e produtoras de frutos, anuais ou perenes, e em diferentes fases fenológicas da cultura.
Esses insetos podem causar desfolhas de plantas, como ocorre com lagartas da soja, do feijoeiro, do cartucho do milho etc. Podem ser responsáveis por morte de plântulas e falhas no estande de plantio em condições generalizadas, danos atribuÃdos, na maioria das vezes, à lagarta elasmo (Elasmopalpuslignosellus)e à lagarta-rosca (Agrotisipsilon).
Essas lagartas não possuem preferência quanto à espécie de planta e sua ocorrência se dá na fase inicial do desenvolvimento de plântulas.Em algunscasos, podem causar danos diretos no produto a ser comercializado, como observado para broca-pequena (Leucinodeselegantales), broca-grande (Helicoverpazea) em plantios de tomate, berinjela e pimentão, pragas que têm como preferência o consumo dos frutos.