Igor Botega Junqueira – igorbotega@gmail.com
Anna Carolina Abreu Francisco e Silva – annacabreufs@gmail.com
Graduandos em Agronomia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Letícia Silva Pereira Basílio – Doutoranda em Agronomia/Horticultura – UNESP – leticia.ufla@hotmail.com
O milho safrinha, ou de segunda safra, é semeado entre os meses de janeiro a abril, normalmente após a colheita de soja, sendo cultivado nos Estados do Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. O milho safrinha, geralmente, não é irrigado, sendo conhecido também como cultivo de sequeiro.
No Brasil, na safra de 2020, de acordo com o IBGE, a partir do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola – LSPA, foram destinadas para o cultivo de milho na segunda safra uma área total de 13.238.627 hectares, produzindo 74.374.796 toneladas e com rendimento médio de 5.625 kg de milho por hectare.
No mercado é encontrada uma gama de opções de cultivares de milho disponíveis para o cultivo, entre materiais convencionais, transgênicos e híbridos. No momento da escolha da semente de milho que será utilizada na safrinha, é de extrema importância que o produtor leve em consideração as características que atendam seu objetivo e as características da cultivar de interesse dentro do seu sistema de plantio, como o ciclo, potencial produtivo, resistência a pragas e doenças, resistência a herbicidas, adaptação à região onde será realizado o cultivo, tolerância ao acamamento, sincronismo de florescimento e a qualidade dos grãos produzidos.
Pode-se destacar o potencial produtivo como o fator que caracteriza a adaptação de uma determinada cultivar ao plantio da safrinha. Entre as sementes utilizadas para primeira safra e para a safrinha não são encontradas características específicas que justificam o uso de determinada cultivar para cada plantio.
As cultivares para o cultivo em safrinha também são utilizadas na primeira safra, porém, nem todos os materiais presentes no mercado apresentam adaptação ao cultivo sem irrigação.
Pesquisa
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Além de apoiarem a produção da segunda safra, os programas de pesquisa dos setores público e privado também são os responsáveis pelo desenvolvimento de novas cultivares e, aliado aos avanços constantes no melhoramento genético, são esperados novos híbridos que apresentem maior resistência a condições adversas, como déficit hídrico, variações de temperatura, ocorrência de ventos e geadas, sendo estas características desejáveis para as cultivares utilizadas no cultivo na safrinha.
A resistência a doenças e pragas regionais é um fator que também deve ser levado em consideração no momento da escolha da semente, uma vez que a ocorrência de doenças na lavoura afeta diretamente a produção, além de acarretar perdas econômicas.
Decisão de impacto
Para a escolha da semente ideal para o cultivo do milho safrinha, a melhor opção deve estar aliada ao bom desempenho agronômico, atender as características desejáveis e a relação custo-benefício.
Contudo, além de apoiarem a produção da segunda safra, os programas de pesquisa dos setores público e privado também desenvolvem cultivares. Entretanto, é importante seguir as recomendações de manejo da cultura, uma vez que há riscos em função da época de plantio, variando de acordo com a região.
As recomendações também se baseiam de local para local quando o quesito é o monitoramento de pragas, doenças e plantas daninhas e no ajuste de adubação e da densidade de plantio do milho, levando em consideração a grande probabilidade de ocorrência de déficit hídrico. Tudo isso somado possibilita ao produtor escolher as cultivares mais aptas, indicar épocas limites para o plantio e definir a densidade mais adequada para os melhores materiais disponíveis.
É necessário que sejam seguidas as recomendações de manejo da cultura, visto a existência de riscos em função da época de realização do plantio, os quais variam de acordo com a região.
Tais recomendações são baseadas na variação de um local para outro para o monitoramento de pragas e doenças, controle de plantas daninhas, ajuste de adubação e da densidade de plantio do milho, levando ainda em consideração a grande probabilidade de ocorrência de déficit hídrico.
Com base em todas estas informações, possibilita ao produtor escolher a cultivar mais apta e que atenda seus objetivos, indicar a época limite para que ocorra o plantio e definir a densidade mais adequada.
Recomendações
Para se implantar uma lavoura safrinha, há alguns passos que devem ser considerados levando em conta sua importância. Em primeiro lugar podemos citar a análise de solo, que deve sempre ser feita com o objetivo de corrigir a deficiência de nutrientes do solo, uma vez que o milho safrinha também demanda uma necessidade nutricional alta, e se porventura for necessário, realizar também a calagem.
Após realizado esse processo, faz-se importante o preparo do solo (quando o sistema adotado for o convencional) e a adubação de plantio (em sistema de plantio direto, o plantio e adubação são realizados logo após a colheita da soja).
Recomenda-se que o milho segunda safra seja plantado em solos com boa fertilidade e com níveis de nutrientes adequados, e que se realize o tratamento de sementes com o objetivo de evitar danos de pragas e doenças à cultura.
Para o controle de plantas daninhas, recomenda-se a utilização de herbicidas até o estádio V4 da cultura, período em que ocorre a competição desfavorável entre planta invasora e planta de milho, afetando diretamente a produtividade. Entre os herbicidas mais utilizados para o controle, podemos citar a antrazina, para o controle de plantas daninhas de folhas largas, e o glifosato, utilizado para o milho RR (resistente a roundup).
Entretanto, com o objetivo de evitar o surgimento de plantas resistentes, é de suma importância evitar o uso de doses acima do recomendado no momento da aplicação e sempre que possível, rotacionar diferentes herbicidas, seguindo sempre as recomendações agronômicas.
Detalhes cruciais
Seguindo os passos, realizar a adubação de cobertura é de suma importância, principalmente se realizada nos estádios corretos, entre V6 e V8, momento em que a demanda da planta por nitrogênio é alta devido ao crescimento vegetativo.
Se possível, parcelar as adubações entre plantio e de cobertura, uma vez que a eficiência de absorção pode ser prejudicada, se feita somente em uma dessas vias. Para os micronutrientes, a recomendação de adubação é que seja feita via solo e/ou foliar do nutriente que está em deficiência.
Já o monitoramento de pragas e doenças deve ser realizado durante todo o ciclo da cultura, ou seja, do plantio à colheita. A safrinha leva ligeira vantagem nesse quesito em relação à primeira safra, uma vez que a pressão de pragas é menor devido à diminuição da temperatura e umidade, que são condições favoráveis ao desenvolvimento dos insetos, e consequentemente é realizado um menor controle.
Por fim, é realizada a colheita, geralmente no estádio de R6, dependendo da finalidade do milho, se é para grãos, ensilagem ou cobertura.
Não se engane
Um dos erros mais cometidos pelos produtores é não saber o posicionamento correto da época de plantio. Para isso existe o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), que estabelece o período de menor risco para o plantio das culturas por meio de séries históricas e, quando não utilizado, consequentemente implica probabilidades maiores de prejuízos na safrinha para os agricultores.
Outro quesito importante é a utilização de cultivares adaptadas à região, que quando não posicionadas de forma correta acarretarão prejuízos ao produtor.
A densidade populacional e a distribuição das plantas no campo (plantabilidade) também devem ser consideradas pelo produtor, que muitas vezes posiciona de forma errônea as sementes, o que poderá acarretar até 50% de prejuízos futuros. Para evitar esse erro, é importante realizar os cálculos de estande corretamente, levando em conta todas as variáveis do plantio e, para isso, consultar um profissional agronômico.
Atentar-se à adubação também é outro fator que muitas vezes passa despercebido pelos produtores. Fazer uma correta adubação permite que a planta desenvolva todo seu potencial produtivo, levando assim a um melhor aproveitamento do potencial genético inserido nessa planta.
Outro erro comumente realizado pelos produtores é a ineficiência do controle de pragas e doenças, que pode levar a perdas de até 90% das lavouras. Para isso não ocorrer, o produtor deve fazer uso de cultivares que apresentam resistência a determinados insetos-pragas concomitantes com o uso de defensivos químicos, quando detectados os níveis de dano econômico.
Aplicar defensivos sempre analisando o potencial de danos e a quantidade de produto na dose correta, respeitando o receituário agronômico e, consequentemente, o meio ambiente, e sempre que possível, atentar-se para a utilização de controle biológico.
Viabilidade e custos envolvidos
De acordo com a pesquisa realizada pelo analista Alceu Richetti, da Embrapa Agropecuária Oeste, foi analisada a viabilidade econômica da cultura do milho safrinha para o ano de 2020 no Estado do Mato Grosso do Sul.
Foram utilizados para avaliar a viabilidade da cultura e estimar os custos de produção, os preços dos fatores de produção e dos produtos levantados em novembro do ano de 2019. Os valores de produção são referentes ao uso de milho convencional, milho Bt e milho Bt + RR, em que a produtividade média estimada foi de 5.400 kg por hectare para o milho Bt e Bt + RR e de 4.800 kg por hectares para o milho convencional.
Os insumos necessários para o cultivo do milho, as sementes e fertilizantes, são os que representam a maior parte do custo total de produção, correspondendo, em média, a 15,31% e 91%, respectivamente, 11,43% representam as operações agrícolas, envolvendo a manutenção de máquinas e implementos, combustível e mão de obra e 17,06% representam os custos administrativos, como despesas com a gestão da propriedade e custos de comercialização da produção.
Sendo assim, o custo total que era esperado para a safrinha de 2020 ficaria em torno de R$ 2.256,31 por hectare utilizando o milho Bt, R$ 2.329,58 utilizando o milho Bt + RR e R$ 2.140,65 utilizando o milho convencional, podendo variar os custos de acordo com o maior ou menor uso de maquinários na lavoura, principalmente na realização de aplicações de defensivos agrícolas.
Por fim, para obter os resultados desejados, o produtor deve, antes de tudo, realizar o planejamento de forma detalhada de toda sua produção agrícola e buscar resultados a longo prazo, desde que seja viável economicamente.