21.6 C
Uberlândia
sábado, abril 20, 2024
- Publicidade -
InícioMáquinasEspécies de açaí e locais de adaptação da planta

Espécies de açaí e locais de adaptação da planta

Aurélio Herraiz

Engenheiro agrônomo e mestrando no MPGAP-INPA

aurelio.herraiz@ifam.edu.br

Gleiciano Vales Mendes

Mestre em Engenharia de Produção e graduado em Administração pela UFAM

 

A irrigação favorece, também a produtividade do açaí - Créditos Ronaldo Rosa
 Créditos Ronaldo Rosa

O açaí, seja ele a variedade de perfilho (E. oleracea Mart.) ou de estirpe única (E. precatoria), como cultura tropical sua implantação comercial deve atender a critérios climáticos, exigindo condições quentes e úmidas, com pequenas amplitudes térmicas, geralmente com temperaturas dentre 22°C a 31,5°C, e com umidade relativa do ar variando entre 71 e 91%.

No referente à precipitação, as grandes populações nativas de açaizeiro localizam-se em regiões com valores de chuvas totais anuais superiores a 2.000 mm com distribuição uniforme, sabendo que nos meses de menor precipitação o total mensal nunca é inferior a 60 mm.

No referente ao sistema radicular, ele é fasciculado e denso, com raízes emergindo do estirpe da planta adulta até 40 cm acima da superfície do solo, de coloração avermelhada nesta parte.

Elassãoprovidas de lenticelas, adaptações morfológicas eanatômicas para suportar períodos longos em condições de asfixia (falta de oxigênio). As raízes podem se estender por até seis metros horizontalmente na superfície, o que pode significar alterações no marco de plantio e consorciamento, afetando a mecanização do local.

Sendo assim, o cultivo do açaí para fruta deve atender a condições climáticas favoráveis no que diz respeito à umidade e temperatura, condições que são características da região norte, apesar de existirem grupos de estudo, como no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), que estão trabalhando na aptidão do gênero para a produção de palmito, realizando cruzamentos interespecíficos entre E. oleraceaMart. eE. edulisMart.

Opções

A cultivar BRS-Pará, devido à alogamia (autoincompatibilidadeou polinização aberta ou cruzada) pode resultar na geração de plantas que não reproduzirão as mesmas características das plantasmatrizes.

Ela entra em produção aos três anos de plantio comindivíduos com médias de 4 m de altura, quatro cachos/planta ealtura do 1ºcacho aos 112 cm.A produção de frutos, seguindo as recomendações de adubação e em condições climáticas favoráveis, inicia-se a partir do terceiro ano, podendo obter, nas duas primeiras safras,ainda que de forma desuniforme, produtividades de aproximadamente três toneladas por hectare, conseguindo obter renda já no terceiro ano.

A partir do 5º ano, quando a produção tende a se homogeneizar dentro do plantio, com maior concentração da produção de frutos no2º semestre, pode alcançar uma produtividade de até quatro toneladas, para, apartir do 6º ano, obter aumentos progressivos que podem alcançar, no 8º ano, as 10 toneladasde fruto.

Experimentos

Além das experiências da Embrapa Amazônia Oriental, que ao longo da última década tem desenvolvido estudos de seleção e melhoramento genético, lançando a cultivar BRS no ano de 2004, e dos trabalhos do empresário EloyLuizVaccaro, no município de Óbidos (PA), existem poucas iniciativas que busquem uma seleção genética com base em parâmetros de precocidade, produtividade, vigor, coloração e sabor da polpa.

Como recomendação para investimentos em escala comercial aparece a cultivar BRS-Pará, da Embrapa Amazônia Ocidental, com certa quantidade de bibliografia, já testada com rendimentos acima das 10 toneladas de produção e entrada na fase produtiva no terceiro a quarto ano de plantio.

Ainda assim, a grande variedade genética encontrada no estuário Amazônico deixa um grande desafio para a procura e seleção de material genético que consiga precocidade com produções mais homogêneas e maiores rendimentos por hectare.

A origem

Como já foi discutido anteriormente, existem duas espécies botânicas que terminam criando geograficamente dois grupos diferenciados de açaí. O açaí-de-touçeira ou acaí-do-pará (E. oleracea Mart.) caracterizado pelo perfilhamento, a precocidade e a produção contínua ao longo do ano. Destaca-se por ser o mais explorado na região norte, principalmente na economia paraense, inclusive na exportação.

E o açaí-da-mata, ou açaí-do-amazonas, oriundo da Amazônia Ocidental, se caracteriza pelo estirpe único, sem perfilhamento, e produção principalmente no inverno amazônico, além de demora para entrada em produção.

Disponibilidade

Atualmente existem disponíveis diferentes tipos ouvariedades apenas diferenciadas pela coloração dos frutos que ocorrem naturalmente no ambiente amazônico na região paraense, sendo denominadas de açaí-branco, açaí-roxo ou comum, açaí-açu, açaíchumbinho, açaí-espada, açaí-tinga e açaí-sangue-de-boi.

Essas variedades ainda necessitam ser mais estudadas, caracterizadas e avaliadas para estabelecer genéticas em função de critérios morfológicos e,principalmente,agronômicos. Desta forma,sobretudo, é encontrado o açaí roxo, sendo em ambas espécies botânicas (E. precatoria Mart. e E. oleracea Mart.):

üAçaí-roxo ou comum: é um tipo predominante e apresenta maior volume de comercialização nas praças da região norte. A principal diferença em relaçãoaos outros é a coloração violácea a roxa dos frutos, quando maduros.

Apesar de existirem registros comerciais de outros tipos de açaí, seja principalmente pela coloração do fruto, seja pela forma da inflorescência ou secundariamente pelo índice de perfilhamento, as variedades são de ocorrência geográfica restrita, se limitando comercialmente a regiões específicas do Estado do Pará. Todos estes tipos se englobam dentro da espécie botânica E. oleracea Mart., sendo eles:

üAçaí-branco: tipo pouco comum no mercado, aparece raramente na floresta amazônica, e se caracteriza pela coloração verde opaca dos frutos quando maduros, fator que pode criar dúvidas na hora do ponto de maturidade para colheita; pode perfilhar ou aparecer com estirpe única.

üAçaí-açu: terminação (tupi-guarani) que significa grande; de coloração roxa, cachos grandes e pesados, com perfilhamento reduzido e estirpes mais grossas, é de ocorrência rara em populações nativas,com registro autóctone no municípiode Igarapé-Miri e Castanhal, ambos no Pará.

üAçaí-espada: tipo que ocorre principalmente no município de Acará (PA), diferindo dos demaistipos pelo formato do cacho, que apresenta várias ramificações: primárias, secundárias e terciárias.

üAçaí-sangue-de-boi:tipo característico de Santarém(PA) edo Estado doMaranhão, caracteriza-se pela coloração avermelhadados frutos maduros,polpa com consistência mais fina e sabor diferenciado, tendo pouca aceitação comercial.

üAçaí-tinga: terminação (tupi-guarani) que significa branco, semelhante ao açaí branco ou verde.

üAçaí-chumbinho: característico por apresentar frutos pequenos (menosde 1 g), de coloração roxa ou branca, ocorre geograficamente nonorte da Ilha do Marajó (PA) e no Estado do Amapá.

No referente à rentabilidade, o açaí roxo continua sendo o mais rentável, pois o mercado dele está em expansão, seja no âmbito nacional ou internacional. O valor pago pelas beneficiadoras e despolpadeiras depende do momento da safra, sendo que na entressafra os valores chegam a dobrar ante a crescente demanda.

Custo de produção x rendimento

O custo de produção é elevado ao longo dos três primeiros anos de implantação do plantio, quando não existe retorno econômico.Dados técnicos estimam custos iniciais (operacionais, mão de obra e insumos) de R$ 5 mil a R$ 6 mil/ha. Já no segundo e terceiro anos de plantio os gastos não devem ultrapassar os R$ 4 mil. A partir do terceiro ano, com a primeira colheita, os custos relacionados à mão de obra podem significar um aumento de R$ 1.000,00 a mais, alcançando valores próximos aos R$ 5 mil/ha/ano.

O rendimento estimado de três toneladas no terceiro ano começa a equilibrar a balança, com ingressos derivados da comercialização do produto, momento a partir do qual a produtividade começa a crescer, aumentando assim a renda obtida com a produção.

Na região norte o preço pode variar de R$ 1,1/kg na safra, podendo chegar a alcançar valores de até R$ 4,00/kg na entressafra,fatores que podem aumentar ainda mais a lucratividade deste tipo de cultura.

Sendo assim, mantendo um valor médio na safra de R$ 1,1/kg, e supondo a estimativa de três toneladas iniciais (10 kg de touceira/ano) no terceiro ano a cultura pode alcançar valores em torno a R$ 3.500,00.

A produtividade aumenta progressivamente até o quinto ano, alcançando valores de oito toneladas, o que supõe valores econômicos próximos aosR$12 mil/ha/ano (24 kg touceira/ano) para, no ápice da produção, a partir do 8º ano, alcançar uma produtividade de mais de 30 kg/touceira/ano, ou R$ 15.000,00/ha.

Esses valores podem sofrer alterações em função do manejo recebido, destacando a adubação e irrigação da cultura.Atualmente, o preço do açaí na região norte tem grande variabilidade em função da qualidade (A, B, C) e da concentração de sólidos, assim como do mercado consumidor.

Existem iniciativas que monitoram periodicamente o preço pago pelo açaí no mercado regional do Pará pela instituição Imazon (www.imazon.org.br), ajudando a analisar temporalmente os picos pagos aos produtores e extrativistas da região.

ARTIGOS RELACIONADOS

Na Fenicafé, Tradecorp indica dobradinha para enfrentar a crise hídrica no café

Fertilizantes especiais e fertirrigação são tecnologias que, juntas, podem contribuir para o aumento da produtividade no café em tempos de escassez hídrica   A falta de...

Aminoácidos proporcionam mais qualidade para o repolho

Autores Stefani Silva Bustamonte stefanibustamonte@gmail.com Thalita Helena Magalhães thalitahmagalhaes@gmail.com Alan Bordim de Oliveira bordimalan@gmail.com Graduandos em Engenharia Agronômica, UNESP/ FCAT Pâmela Gomes Nakada...

Consórcio – Competição e efeitos alelopáticos em espécies vegetais

Autores Iací Dandara Santos Brasil Tarcila Rosa da Silva Lins Ernandes Macedo da Cunha Neto netomacedo878@gmail.com  Engenheiros florestais e mestrandos em Engenharia...

Pureza e germinação da semente de soja

Adílio de Sá Junior Engenheiro agrônomo e doutorando em Produção Vegetal, ICIAG-UFU adilio.junior@yahoo.com.br Ernane Miranda Lemes Engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Produção Vegetal, ICIAG-UFU ernanelemes@yahoo.com.br   O ciclo produtivo da...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!