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Estratégias para aumentar a rentabilidade dos seringais

O manejo eficiente de um projeto heveícola consiste na adoção de práticas que garantam o sucesso do empreendimento. Esta é uma atividade de longo prazo e alguns cuidados precisam ser tomados, desde a escolha da área para implantação, das mudas, dos clones mais adaptados para cada região, um bom preparo de solo e técnicas corretas de plantio.

Crédito Casa da Seringueira

Elaine Cristine Piffer Gonçalves
Pesquisadora científica da Apta Regional de Colina e consultora técnica – Câmara Setorial de Borracha Natural (MAPA)
elaine.piffer@sp.gov.br

Um dos fatores que influencia a produtividade do seringal é o clone a ser plantado. Durante anos, o melhoramento genético da seringueira vem sendo desenvolvido para obtenção de materiais mais produtivos e adaptados às diferentes regiões.

É importante escolher clones que apresentem alta produção nos primeiros anos de sangria e durante seu ciclo econômico, que respondam à baixa intensidade de sangria e à estimulação, que sejam resistentes a pragas e doenças e que apresentem crescimento e desenvolvimento satisfatórios, antes e depois da entrada em produção.

Desta maneira, o produtor garantirá altas produções e retorno antecipado do investimento. Vários pesquisadores de diferentes instituições que trabalham com a cultura da seringueira têm desenvolvido estudos e avaliado clones de seringueira em diferentes regiões do país.

Estes estudos têm mostrado clones que produzem 50, 70 e até 100% a mais que o RRIM-600, que é o mais plantado no Brasil. Existe uma tabela de recomendação de clones de seringueira para pequenas, médias e grandes propriedades, feita pelo pesquisador Paulo Gonçalves, em 2023.

O clone ideal

O desempenho e a produção de um clone de seringueira podem ser seriamente afetados pela ocorrência de restrições locais. Estas restrições impostas a tais caracteres são conhecidas como interação genótipo x ambiente. Dependendo das condições ambientais, um clone poderá ter maior ou menor desempenho. Os fatores ambientais que influenciam a escolha de um clone são: velocidade do vento, umidade atmosférica, tipo de solo, frequência de geadas, disponibilidade hídrica, intensidade e duração da estação seca.

Clones com propensão extrema à quebra pelo vento ou suscetibilidade a doenças, como mal-das-folhas, antracnose, crosta negra e outras, podem restringir severamente seu uso em certas regiões que apresentem condições climáticas favoráveis para o desenvolvimento destas doenças. Clones não adaptados às condições do local resultam em redução do potencial de produção. Clones suscetíveis à quebra não podem ser plantados em locais com ventos fortes e constantes, sem qualquer proteção. Clones suscetíveis ao mal-das-folhas não devem ser plantados em clima super úmido. O clone RRIM 600, altamente produtivo, mas suscetível à quebra, produzirá mais em locais pouco afetados pelo vento.

Solo ideal

O tipo de solo é importante para a produtividade, uma vez que o potencial de um clone pode ser limitado, quando em condições pedológicas desfavoráveis. Sabe-se que solos com pouca drenagem e aqueles que apresentam pouca profundidade não são indicados para o plantio de seringueira. Para regiões mais secas, atentar-se para o uso de porta-enxerto tolerante à seca. Em regiões úmidas, usar porta-enxerto resistente a doenças.

Crédito Miriam Lins

Ao contrário das recomendações de clones para amplas regiões no passado, que se deparavam com problemas de interação genótipo-ambiental, atualmente as recomendações são restritas aos respectivos ambientes. A maximização do potencial de produção, sendo o somatório de partículas da interação genético-ambiental do local, possibilita uma escolha mais adequada de um clone para plantio comercial.

Preparo de solo

Para que a implantação da cultura da seringueira tenha sucesso, é preciso manejar com cuidado o solo, base do cultivo, pois a longevidade de qualquer sistema agrícola depende disso. O solo conservado e fértil proporciona uma lavoura produtiva, enquanto que o solo degradado e erodido gera prejuízo. Deve-se realizar o planejamento das atividades, tais como: levantamento topográfico, alocação das estradas e os carreadores, subdivisão da área em talhões e definição do plantio.

Levar em consideração todas as práticas de controle de erosão, terraceamento, plantio em nível e demais atividades que se façam necessárias, de acordo com o declive do terreno.

O preparo de solo, seja convencional (preparo da área toda) ou cultivo mínimo (preparo das linhas de plantio), é muito importante. Independente do tipo escolhido, na linha de plantio deve ser feita uma subsolagem, pois algumas áreas apresentam compactação, e depois de instalada a cultura esta prática não poderá ser realizada.

Além disso, recomenda-se fazer análises de solo nas áreas onde serão plantados os seringais e realizar calagem, adubação fosfatada no plantio e as adubações de cobertura, levando em consideração as análises de solo.

Espaçamento entre as seringueiras

Existem muitos arranjos produtivos e espaçamentos que podem ser utilizados para implantação de seringais. É importante que, durante o desenvolvimento do projeto, sejam discutidos os anseios do produtor para a área em questão.

Aqueles que querem implantar a cultura, mas continuar explorando a área nos primeiros anos com o consórcio de outras culturas, podem investir no plantio em fileiras duplas e nas entrelinhas plantar, nos primeiros anos, soja, milho, amendoim, mandioca e outras culturas, para amenizar os gastos com a implantação da seringueira.

Também pode optar pelo plantio em SAF (Sistema Agroflorestal), o que possibilita a diversificação de renda, maior aproveitamento da área e da mão de obra. Existem muitas opções de culturas que podem ser usadas neste sistema, como: banana, mamão, café, cacau e outras.

Elaine Piffer, pesquisadora da Apta Regional e consultora técnica
Crédito Arquivo pessoal

Outra opção é implantar a seringueira e, três a quatro anos após a implantação, colocar gado leiteiro de dócil comportamento na área, para não ter gastos com controle de plantas daninhas nesta área e para que ela seja bem aproveitada.

Muitos heveicultores optam pelo plantio tradicional (somente a seringueira na área). O mais importante, independente do modelo de plantio a ser adotado, é respeitar a recomendação de pelo menos 20 m² por planta, o que resultaria em 500 plantas por hectare.

Espaçamentos muito adensados são prejudiciais ao desenvolvimento das plantas e da copa das árvores, e ocasionam maior competição entre as plantas e menor produção.

Controle de pragas e doenças

Com relação ao controle das pragas e doenças da seringueira nas diversas fases de cultivo, é importante que os responsáveis pela implantação do projeto façam uma previsão dos equipamentos e máquinas que serão necessários nas diferentes etapas de desenvolvimento e que façam uma listagem das principais pragas e doenças em cada fase e seu controle.

Além disso, o acompanhamento técnico especializado e o treinamento de gerentes e pragueiros é de suma importância para reconhecimento destas pragas e doenças, para definir a melhor medida de controle e escolher os produtos a serem utilizados: químicos e/ou biológicos, forma de ação, de aplicação, etc.

Técnicas de poda e desbrota

Logo após o plantio das seringueiras, em torno de 20 a 30 dias já se faz necessário realizar a desbrota das plantas, que consiste na eliminação da brotação indesejável, podendo ocorrer tanto no porta-enxerto como no enxerto em desenvolvimento. No primeiro caso, toda a brotação, além do enxerto, deverá ser removida assim que for constatada, permitindo maior vigor ao broto do enxerto. Caso a brotação ocorra na haste do enxerto, a mesma deverá ser eliminada manualmente, com auxílio de ferramentas específicas (canivete ou tesoura de poda) o mais cedo possível, mantendo a haste única livre de qualquer brotação até a altura de 2,5 metros.

Não deve haver machucados e lesões no tronco das plantas, pois esta região será sangrada futuramente e isto irá interferir na qualidade e produtividade das plantas. A desbrota deve ser executada por mão de obra previamente treinada que, em sistema de rodízio, percorre todas as linhas de plantio pelo menos uma vez por semana. Na desbrota, é preciso tomar cuidado para não envergar as hastes das plantas mais altas.

Manejo de adubação

Enxertia da seringueira
Crédito Jomar da Paes

Assim como em outras culturas, o manejo da adubação dentro do seringal é fundamental para obtenção de maiores produtividades. A adubação é um dos fatores mais importantes para o aumento da produtividade agrícola. Entretanto, esta não é uma prática que pode ser considerada isoladamente, devendo ser avaliada em conjunto com outras que também afetam a produção, como por exemplo a calagem, a irrigação, o controle de pragas, doenças e plantas invasoras, o uso de variedades mais produtivas, o manejo eficiente do solo, etc.

Vários produtores têm relatado que seringais bem nutridos sofrem menos com o ataque de pragas e doenças (pois plantas nutridas são mais resistentes) e a desfolha observada é bem menor e, consequentemente, a produção de látex se mantém. Além disto, a adubação correta ocasiona maior longevidade produtiva ao seringal.

Medidas preventivas

Muitas doenças podem ocorrer na cultura da seringueira, desde a fase de formação das mudas até a exploração dos seringais. Durante a fase de formação das mudas, recomenda-se o tratamento das sementes que darão origem aos porta-enxertos.

Devido à alta demanda de molhamento das plantas, recomenda-se realizar controle preventivo das doenças foliares e assepsia durante o processo de enxertia. Já na fase de aquisição de mudas, recomenda-se adquirir materiais de viveiristas que tenham Renasem, que sejam cadastrados na Defesa Agropecuária e que tenham toda documentação de origem genética dos materiais adquiridos para produção de mudas. Também é importante que apresentem um atestado garantindo a sanidade vegetal destas plantas.

Escolher a região onde os plantios serão realizados para ver se o Mapa de Zoneamento climático permite que a cultura seja implantada (regiões úmidas e de baixada, evitar plantio, pois alguns clones são suscetíveis a doenças). Não utilizar práticas que facilitem a entrada de patógenos pelas raízes em seringais adultos, como por exemplo, realizar práticas de gradearão, que cortam as raízes e podem facilitar a entrada de pragas e doenças presentes no solo.

Evitar que muitos veículos transitem nos seringais, principalmente caminhões que buscam a borracha para ser comercializada, pois já foi observado que os primeiros e principais focos de pragas e doenças dentro dos seringais têm sido em áreas percorridas por estes veículos dentro das propriedades. Algumas fazendas estão utilizando rodolúvel e alguns produtores estão pulverizando os caminhões antes que entrem em suas propriedades.

Irrigação em transplante de mudas
Crédito Hidroforte

Durante o processo de sangria (extração do látex), é fundamental realizar o manejo e controle dos fungos de painéis. Já em áreas mais propensas a doenças e onde foi observado secamento de painel e maior proliferação de fungos, deve-se realizar a desinfecção da faca de sangria. Desta forma, poderemos conter os focos de doença, pois este é um dos maiores disseminadores das doenças dentro dos seringais.

Manejo integrado de pragas

O manejo integrado de pragas e doenças na seringueira é uma abordagem que combina diferentes técnicas de prevenção, monitoramento e controle das principais pragas e doenças do seringal, de forma sustentável, eficiente e econômica.

Para a utilização deste método, o heveicultor deverá investir em tecnologias de monitoramento das pragas e doenças do seu seringal e no treinamento de mão de obra especializada. Além disso, recomenda-se ter o registro anual dos talhões que foram atacados e os produtos utilizados no controle, bem como a eficiência destes métodos de controle. A frequência de aplicação destes métodos vai variar de ano para ano, podendo ser influenciada por uma série de fatores, dentre estes o clima e a sazonalidade, uso de clones suscetíveis e condições que favoreçam o aparecimento e o desenvolvimento destas pragas e doenças.

Avanços tecnológicos

Ao longo dos anos, os avanços tecnológicos vêm auxiliando os produtores na detecção de diferentes tipos de solo, topografia, deficiências, regiões com maior potencial de produtividade, faixas de solos com baixa fertilidade, áreas com pragas, doenças de solo e vigor vegetativo das plantas. Hoje, por meio de imagens de satélites, conseguimos determinar se há ataque de pragas e doenças e se algum talhão da propriedade está com algum problema de solo e/ou doença, por meio da coloração das plantas nas imagens.

Desta forma, o produtor pode fazer o controle da praga ou doença na região afetada antes destas se espalharem para a área toda, gerando economia de produtos, da aplicação e menor impacto ambiental. Vários produtores já fazem uso de técnicas de adubação direcionadas para cada talhão, visto que, desta forma, a deficiência apontada naquele ponto específico pode ser corrigida e a eficiência e economia geradas são incríveis. Existem tecnologias inovadoras capazes de analisar amostras de solo em minutos.

Sangria das árvores

Novas tecnologias para sangria das árvores de seringueira estão sendo desenvolvidas e testadas ao longo dos anos, visando aprimoramento e maior rendimento da produção. O uso de equipamentos modernos e a calibração dos mesmos para detecção da quantidade de borracha seca presente num quilo de coágulo (DRC – Dry Rubber Content) vêm sendo desenvolvidos como forma de ajudar os produtores a negociarem sua produção por um preço mais justo e de maneira mais rápida.

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