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Feijão das águas

Biotecnologia em prol de uma safra mais produtiva

Gabrielly Machado Pereiragabriellympereira@gmail.com

Maria Gabriela Mendes da Costagabi.mendescosta@hotmail.com

Graduandas em Agronomia – Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos (Unifio)

Aline Mendes de Sousa GouveiaEngenheira agrônoma, doutora em Agronomia e professora – UNIFIOaline.gouveia@unifio.edu.br

Feijão – Crédito: shurtterstock

Apesar da possibilidade de altos rendimentos e grãos de excelente qualidade, o feijão das águas, ou primeira safra, é conhecido por envolver grandes riscos no manejo. Essa cultura acontece durante o período de chuvas no Brasil, entre primavera e verão, em condições ideais para a proliferação de pragas e doenças que afetam a produtividade da lavoura.

E como o feijoeiro possui um ciclo curto de cultivo, a atenção do produtor para a adequada nutrição do solo e da planta, assim como a sanidade da lavoura, deve ser redobrada. Nutrientes, aminoácidos e polissacarídeos aumentam as defesas naturais do feijoeiro e previnem possíveis estresses da primeira safra.

Safra mais produtiva

Além de ser aliada da agricultura, a biotecnologia torna o cultivo de plantas mais eficiente, permitindo a utilização de tecnologias de cultivo que reduzem as perdas e aumentam a produtividade nas lavouras.

Para favorecer uma safra produtiva, a suplementação nutricional da lavoura, usando principalmente compostos ricos em aminoácidos e polissacarídeos junto a eles, nutrientes específicos, como cobalto e molibdênio, irão resultar em feijoeiros mais resistentes.

Por meio destas tecnologias, o uso de insumos biológicos e nutricionais aumenta a proteção da planta, previne infecções e evita o aparecimento de doenças.

Benefícios proporcionados

É importante um incremento fotossintético no cultivo, ou seja, quando, por meio de nutrientes e compostos biológicos, o feijão potencializa sua taxa de fotossíntese, há maior produção de fotoassimilados e enchimento de grãos e a lavoura, como um todo, produz mais.

Para tanto, os benefícios são observados no aprimoramento de práticas de cultivo, com impactos positivos na melhoria da qualidade, variedade dos produtos agrícolas e ganhos em produção e, consequentemente, menos perdas pós-colheita dos grãos.

Feijão x soja

O feijão, décadas atrás, tradicionalmente era cultivado por pequenos produtores. Com a entrada da soja, a qual nos últimos anos vem aumentando gradativamente a área plantada, os produtores que plantavam feijão foram, aos poucos, migrando para esta cultura ou para outras atividades, dando lugar para os médios e grandes produtores, que são muito tecnificados, e adotando os mesmos equipamentos utilizados no cultivo e colheita da soja, com pequenas adaptações.

Para os pequenos, ficou praticamente inviável investir no plantio de feijão, em função da escassez de mão de obra para colheita manual e necessidade de escala, de forma que, hoje, são médios e grandes produtores os que cultivam feijão.

O produtor geralmente planta feijão em menor escala, mas opta principalmente pela soja em função da demanda do mercado. A escolha se deve aos bons preços obtidos pela soja.

Diferentemente do feijão, o qual é voltado ao consumo interno e tem grande oscilação de preço, a soja é uma commodity, regulada por preços de mercado externo, com cotação em dólar que neste momento está muito valorizado, levando os produtores a fazerem a opção pela soja em detrimento do feijão.

Dessa forma, boa parte do feijão que geralmente é consumido pelos paulistas acaba vindo de outros Estados, como a Bahia. Dependendo da sinalização dos preços, os produtores aumentam ou diminuem a área plantada, ou mesmo nem semeiam em determinados anos.

Irrigação faz a diferença

Existem também plantios de feijão após a colheita da batata, com aproveitamento da área sistematizada, fortemente adubada nessa cultura, bem como do sistema de irrigação já instalado. Nesses casos, as lavouras de feijão alcançam produtividades muito superiores à média.

São duas safras no ano de cultivo de feijão, o plantio do feijão das águas, que tem início no final de agosto e termina no final de novembro, e o feijão da seca, que começa em dezembro e termina em final de fevereiro, indicativos do Estado de São Paulo.

Entretanto, em 2021, em função do frio e da seca, houve um certo atraso no início do plantio, pois quem tem irrigação (pivô central ou sistema convencional) planta em agosto; quem não tem, semeia a partir de setembro, quando começam as chuvas, por isso é chamado ‘feijão das águas’.

Pragas

A preferência para o plantio é exatamente o feijão-das-águas, por causa de uma praga que adveio da cultura da soja, a mosca-branca, que não é controlada nas áreas de soja (plantada a partir de 15 de setembro, quando passa a ser permitido tal plantio, sendo conhecido o período anterior como “vazio sanitário da soja”), ou de outubro a dezembro.

O fato é que a soja, que tem o mesmo ciclo do feijão, acaba aumentando muito a população da mosca-branca e, embora a soja seja resistente ao ataque da mosca, vai acabar prejudicando o plantio do feijão da seca. Por isso, algumas regiões do Estado de São Paulo, como exemplo Itapetininga, quase não se planta mais o feijão da seca.

O problema é que uma vez colhida a soja, a mosca passa a não ter seu principal hospedeiro e vai atacar outras culturas, como o feijão da seca. O inseto é responsável por transmitir a virose-do-mosaico para o feijão.

Assim, o feijão das águas acaba concorrendo em área com outras culturas de primavera-verão, como as do milho e da soja, motivo pelo qual é cultivado dependendo da demanda do mercado (falta de feijão) e da promessa de bons preços.

Em 2020, foram produzidas pouco mais de 2,37 mil toneladas de feijão das águas no Estado de São Paulo, em 61,6 mil hectares, de acordo com dados levantados pela extensão rural (CDRS) e publicados pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), ambos órgãos vinculados à Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Os municípios que compõem maiores expressões são: Avaré, Itapeva e Itapetininga. A escolha predominante é pela variedade ‘carioca’, oriunda da pesquisa do Instituto Agronômico (IAC).

Erros frequentes

Como o cultivo do feijão ocorre no período das águas, a temperatura elevada e o excesso de umidade típicos dessa época podem ocasionar o abortamento de flores e vagens e, principalmente, a propagação de doenças, como o crestamento bacteriano, a antracnose e a podridão radicular.

Todos esses agentes comprometem significativamente o desempenho da safra e, em alguns casos, podem causar perdas totais no plantio. Para diminuir as ameaças do manejo de feijão das águas, maximizar a resistência das plantas às adversidades e fatores estressantes e favorecer uma colheita produtiva, é aconselhado a suplementação nutricional da lavoura, usando, principalmente, compostos ricos em aminoácidos e polissacarídeos. Além disso, o manejo operacional da área poderá amenizar tais riscos.

Competitividade

A variação positiva do preço do feijão nos últimos 12 meses poderá interferir na decisão do produtor no momento do plantio. Mesmo com a soja atingindo patamares de preço bastante elevados, o feijão também se mostra competitivo.

Frente ao mesmo período do ano anterior, o produto acumula aumento superior a 53%, o que permite traçar estratégias para a nova safra e evitar a amplitude de oscilação de preços que é frequente na cultura.

Há grande oscilação de preço do feijão e, como a China, no momento, tem oferta para compra certa para 2022, o mercado para produzir soja parece estar garantido. Porém, como a Bahia também planta o grão, é provável que daqui para a frente o mercado do feijão também passe a ser um bom negócio. Os produtores estão atentos e fazendo suas escolhas.

Outra questão que tem influenciado na decisão dos produtores é que, com a pandemia, houve aumento no consumo e, consequentemente, nos preços do feijão. Todos esses fatores são reguladores de mercado e de plantio.

Entretanto, o feijão das águas, plantado no período das chuvas, garante geralmente uma receita líquida mais alta comparado ao produto irrigado ou de sequeiro, porque é colocado no mercado numa fase de pouca oferta.

Portanto, a saca de 60 quilos pode alcançar, em média, R$ 120,00, com custo de produção do feijão das águas na ordem de R$ 40,00 por saca. No caso do produto irrigado, o custo de produção fica na ordem de R$ 45,00.

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