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Feijão: O fosfito no manejo da podridão radicular

Autor

Aldeir Ronaldo SilvaEngenheiro agrônomo e doutorando em Fisiologia e Bioquímica de Plantas – ESALQ/USPaldeironaldo@usp.br

Plantação de feijão – Crédito: Epamig

A podridão radicular do feijão é comumente causada por fungos que estão presentes no solo, os quais afetam não somente esta cultura, mas também outras grandes variedades agrícolas.

Os tipos mais comuns de podridão radicular na cultura do feijão são: podridão radicular de rhizoctonia, causada pelo fungo Rhizoctonia solani, que afeta também outras culturas, como algodão, soja, tomate, milho, batata, entre outras.

Outro tipo bastante comum é a podridão radicular seca, causada pelo fungo Fusarium solani f. sp. Phaseoli. Ambos os agentes afetam diretamente a capacidade produtiva no cultivo do feijão, e no caso da podridão radicular ocorre a infestação em sementes, resultando no apodrecimento antes da germinação.

Em casos de ataques mais tardios, ocorre redução no desenvolvimento das plantas e despigmentação do caule. Já no caso da podridão radicular seca, ocorre a destruição do sistema radicular, ocasionando redução do crescimento ou tombamento da planta. 

Sintomas

A podridão radicular provocada pela Rhizoctonia solani apresenta sintomas bem típicos da doença, surgindo logo após a semeadura no estágio de plântula, o fungo provoca lesões na base do caule, resultando no tombamento. Além disso, em outra fase do desenvolvimento vegetal ocorre necrose nos tecidos dos vasos vasculares (xilema e floema), coloração púrpura nas folhas e redução no crescimento da planta.

Já no caso da podridão radicular seca, os principais sintomas são: presença de estrias de tonalidade avermelhada, que tardiamente passa para marrom em toda a superfície da raiz, significando a destruição das raízes. Em geral, esse sintoma é bastante frequente nas raízes primárias e secundárias.

Nas raízes primárias, por sua vez, ocorre a formação de rachaduras com necrose nas células da região do córtex. Já nas raízes secundárias, são parcialmente destruídas. Em geral, os danos dessa doença na cultura do feijão podem variar de 20 a 80%.

Regiões mais afetadas

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Alguns fatores favorecem o desenvolvimento dos agentes causadores da podridão. No caso da podridão radicular seca, há ocorrência de temperaturas baixas, agregado à alta umidade do solo e ao manejo inadequado do perfil, ocasionando compactação, que contribui diretamente para o aumento da incidência da doença no campo.

Outro fator que dificulta o manejo da doença é que esse fungo sobrevive por vários anos no solo através clamidósporos e apresenta uma alta capacidade de disseminação por meio de estruturas como macro e o microconídios presentes no solo. As regiões mais afetadas por essa doença são Centro-Oeste, Sul e Sudeste.  

No caso da podridão radicular, é uma doença de extrema abrangência nacional, presente em todas as regiões do Brasil, na qual a ocorrência de temperaturas altas e umidade, solos compactados e alta densidade de plantas contribuem diretamente para o aumento da incidência da doença na lavoura.

Todavia, em função das mudanças climáticas, estudos científicos estimam uma futura variabilidade da ocorrência dessas doenças no Brasil no futuro, sendo importante a adoção de manejos eficientes por parte dos produtores de feijão a nível nacional.

Onde entra o fosfito

Uma das ferramentas de controle dessas doenças radiculares na cultura do feijão é pelo manejo nutricional de adubação e calagem do solo. Esse manejo nutricional vai promover raízes mais desenvolvidas, provocando também maior tolerância aos danos ocasionados pelo patógenos.

Nesse aspecto, o nutriente fósforo exerce importante função, em que a aplicação de fósforo reduziu as perdas causadas pela podridão em torno de 9 a 15% em plantas de cevada, no Canadá. Em outro estudo, a aplicação de fósforo reduziu de 42 para 21 a incidência da infecção em plantas de cevada.

No Brasil, o fosfito é uma das fontes de fósforo disponível para o produtor. É oriundo do ácido fosforoso que, em associação com o hidróxido de potássio, ocasiona a neutralização e balanceamento entre ácido e base.

Quando aplicado via solo, o fosfito é um fertilizante que dispõem para a planta o P na forma de fosfatos, processo realizado por reação de oxidação, todavia, de forma lenta. O fosfito está mais atuante na ação inibitória em infeções em comparação à parte nutricional.

O uso de fosfito induz o aumento de produção de moléculas de defesa para a planta, denominado de fitoalexinas, que atuam nos mecanismos de defesa contra o ataque de fungos e e bactérias, de maneira que produz um efeito preventivo.

Além disso, a composição do fertilizante fosfito possui tanto macro como micronutrientes, permitindo uma suplementação mineral na planta. Um desses elementos é o potássio, que exerce função importante na biossíntese de hidratos de carbono, como por exemplo, amido e celulose, dificultando a incidência de ataque pelo patógeno. 

Todavia, o fosfito se diferencia das outras fontes de fósforo por se tratar de um ácido fosforoso e não um ácido fosfórico, no qual a atuação não está ligada diretamente à parte nutricional, e sim como um fungicida.

Tal informação é confirmada pelo fato que o fósforo oriundo do fosfito não participa das mesmas reações do fósforo convencional, pois o PO3 é menos instável que o PO4 sob condição ambiental.

Manejo

Na forma de controle preventiva, a aplicação do fosfito deve ser realizada durante a fase de formação do sistema radicular, podendo ser aplicado no intervalo de 15 dias durante o crescimento vegetativo do feijoeiro. Já no controle curativo a aplicação com dose de 2,0 l/ha é mais efetiva para a forma de controle curativo.

Uma das técnicas em estudo é o uso da engenharia genética de microrganismos associado ao uso de fosfito, como promotores de crescimento das plantas. Atualmente, a taxa de conversão do fosfito no solo varia de três a quatro meses. Todavia, o uso de microrganismo manipulado pode diminuir o tempo de conversão, aumentando assim a disponibilidade para a planta.

Erros

A aplicação em solos com baixa concentração de fósforo acarreta em danos por toxicidade, na qual o fosfito não possui um papel expressivo como fertilizante. Dessa forma, a aplicação de fosfito nesses solos pode acarretar no surgimento de clorose nas folhas e crescimento atrofiado, paralisação do crescimento radicular, amarelecimento da lâmina foliar, aumento na concentração de antocianinas em destaque nas folhas mais velhas, representando um gasto energético.

 Outro erro bastante recorrente se trata da alta dosagem, que além de aumentar a concentração de fosfito no solo também promove o aumento de sais, podendo levar a um desbalanceamento nutricional, pois grande parte dos produtos comerciais de fosfito leva em sua composição os sais alcalinos

Na aplicação do fosfito, deve ser levado em conta a concentração do fósforo no solo. pois ao invés de apresentar um efeito tóxico, em solos com adequados teores deste elemento o fosfito pode contribuir nutricionalmente por meio da interação com a atividade microbiana do solo.

A dosagem e a forma de aplicação também são fatores a serem levados em contas, afim de evitar danos de toxidade ou aumento no custo financeiro da prática. Geralmente, a dosagem adotada para a cultura do feijão varia de 1,0 a 3,0 l/ha. A aplicação, quando via foliar, deve evitar horários com temperaturas mais altas e luminosidade intensa. Também não se deve realizar a mistura com agrotóxicos.

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